terça-feira, 12 de setembro de 2017

Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,
se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas –
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós
o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.
Maria do Rosário Pedreira

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Diz-me o teu nome - agora que perdi quase tudo,
um nome pode ser o principio de alguma coisa.
Escreve-o na minha mão com os teus dedos (...)

Maria do Rosário Pedreira (O Nome das Coisas)

terça-feira, 28 de março de 2017

Na sala do avô existe um relógio que está sempre tic-tac, tic-tac, ritmado dia e noite. No inverno quando o vento sopra lá fora, vuvuvuuuu, o nariz a pingar, atchim, atchim, sabe bem adormecer no sofá com o Tíbias aos pés, ronronron. 

Quando a Joaninha lhe dá beijinhos, smack, salta para o chão e faz miau.
O avô lê na sua cadeira de baloiço e quando se levanta diz: ai-ai-ai, as minhas cruzes!
Sniff, sniff, faço eu.

Que grande atrapalhação

Que grande atrapalhação. Impossível terminar antes das quatro um desafio tão maluco.
Cometer um crime bárbaro? Não! Quem nunca se zanga, que aponte o dedo.
Xaile não rima com urso, que não pode com o jaguar, matreiro.

Vou escrever apenas uma nota...
Mas primeiro preciso não ficar falido.
Acende-se uma lamparina a invocar os místicos do oculto.
Vai ganhar um rival e viver para sempre na solidão.
Sem hesitação seria uma varejeira!
Este desafio era para espicaçar!

23 palavras impostas, escrever um desafio com 77 palavras no total.
publicado em www.maçadejunho-mafaldinha.blogspot.pt


segunda-feira, 27 de março de 2017

Escritiva 17

Atrasei-me, não foi?! Foi a hora. Mudou. Não foi?!
Mudou e eu não percebi que estava atrasado...
Foi o relógio! Ele é que marca as horas. 
As horas não deveriam depender do relógio. A hora mudou e o relógio não. Único responsável do atraso.
Marca sempre as horas da mesma maneira. Acertar o relógio? Não! Se avanço uma hora, perco uma hora de sono. Como fazer para dormir mais uma hora? Tenho que arranjar uma boa desculpa!

Em 77 palavras uma história sobre "uma desculpa criativa"




 


sábado, 11 de fevereiro de 2017

Emigrante

.Homem preso à terra e aos seus. Era simples nos gestos, assim como na vida. Coração puro. Sem trabalho nem futuro, uma confusão. Não acumulou riqueza, pelo que a mudança seria a única solução. Uma nesga de coragem na vida vai dando saber. E emigrar nesta idade pode ser polémico.

Quando se procura encontrs-se sorte no trevo. E quem sabe voltar a sentir luz dentro de si. Cruzando mares e juntando memórias. Para esquecer o sentimento pisado.

( utilizar obrigatoriamente as palavras: confusão - luz, preso, coração, trevo, nesga, pisado, simples, polémica, juntando, mudança, saber) mas entre cada uma tem que haver um espaço de no maximo 6 palavras.

Desafio publicado no blogue historias em 77 palavras

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Vidente


Acordou e desejava voltar a adormecer. Acordar apenas depois de tudo passar.
Não conseguiria encontrar naquele armário uma peça de roupa, sequer, que lhe desse o glamour, que lhe trouxesse alguma segurança para superar mais este desafio. Seria um desastre como preconizou a vidente.
Acordou irradiando optimismo e segurança. Abriu o armário e tirou o vestido vermelho, justo no busto, ligeiramente rodado na saia que lhe dava um ar sofisticado como gostava. A vidente preconizou: vai arrasar!

Publicado em 77palavras.blogspot.pt

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ficara eu na praia
Na areia molhada dos beijos das ondas
Sem jamais ter de partir.

Deixa-me ficar
Para sentir os teus beijos de sal e mel
E esperar pela lua cheia na sombra das marés.

Esperarei por ti na esquina do tempo
Ate depois das horas.
Vestida de insensatez,  na lua das luas que trouxeres,
Na transparência que o desejo derrama
Nos sentidos expostos ao sabor do sal.

E na essência perfeita de uma vida nua
Fechar no fundo do mar entre o sagrado
Templo de ostras e algas salgadas
A arca dos sonhos e dos perfumes.

@ ag