terça-feira, 29 de abril de 2014

"L'immaginazione è la prima fonte della felicità umana...."
Giacomo Leopardi

"A suprema arte do professor é despertar a alegria da criatividade e do conhecimento..."
Albert Einstein

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Quando a morte te procura

Soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"



terça-feira, 22 de abril de 2014

Na noite as sombras olham

Eu fui ficando a cada minuto mais relaxada, mais confortável nas tuas mãos seguras, profissionais, onde a técnica se associava à carícia. Tudo em silêncio. Parece que a floresta tinha parado para nos observar nas sombras da noite que a luz da lua refletia. Ainda há pouco o mocho piava, mas agora teimava em manter-se em silêncio. Os estalidos dos sapos na horta em direção à represa da água pareciam terminados. E nós, nós até agora não trocáramos ainda qualquer palavra. Apenas a respiração se poderia ouvir. A tua mais profunda um pouco, se do esforço dispendido, se do cansaço, se da minha presença, simplesmente. A minha, essa parecia parada, suspensa, com medo de que o ato de inspirar ou expirar perturbasse a concentração da massagem, retirasse efeito anestesiante, ou simplesmente para absorver toda a plenitude do momento. O meu corpo, à medida que avançavas nele, ia tornando-se lânguido, e um desejo de que não terminasses nunca ia apoderando-se de mim. Temia o momento seguinte, ou será que aspirava por ele de tal forma que me ia perdendo em interiorizar o que me davas. As tuas mãos leves, continuavam a deslizar pelas costas, intensas e suaves. Penetravam a carne e desfaziam a acumulação de nociva de desconforto que se acumula no trabalho, no excesso de sedentarização, na forma pouco correta de sentar. 
Agora puxando ligeiramente o cós da calça do pijama para baixo, tocaste levemente a minha nádega direita com os teus dedos, provocando-me como que um pequeno choque elétrico. Mantiveste a tua mão parada até eu serenar, e depois foste pressionando longitudinalmente os dedos pela zona superior das nádegas. Com grande satisfação acomodei melhor o ventre à esteira, e tu adivinhando o meu sentir, continuavas a fazer uma ligeira pressão com apenas dois dedos.
Parecendo adivinhar o que pensava, eu de ti apenas imaginava se a situação te daria prazer e de que tipo, porque me estavas a fazer isto sem qualquer conversa prévia. Para a harmonia acontecer não são precisos avisos prévios, nem há necessidade de combinar horas nem local. Acontece quando os espiritos respiram da mesma serenidade, da mesma harmonia.
Fechaste o frasco o que percebi pelo estalido que deu e voltaste-me na esteira. Continuavas de joelhos e observavas o meu corpo com se estivesses em adoração. Inclinaste mais a cabeça e a tua boca pousou na minha mama nua. Depositaste um beijo leve e levantaste a cabeça olhando-me, com o sorriso mais enigmático que eu já alguma vez te vira. Desviando o olhar do meu, dirigiste a boca novamente em direção à minha pela e com a língua circundaste o mamilo, bonito, bem formado. Suspirando aconcheguei-me à tua boca e então tu mordiscaste, brincaste, chupaste, enquanto eu ia dando gritinhos de prazer. A tua mão, nem sei qual, pois parecia teres mais que duas, segurava-me a outra e ia acariciando a minha pele nua. - Take 3
@Maça de junho

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Oiço

Oiço, bem dentro de mim
Um som
Não é a brisa, nem o vento nas árvores
Alguma coisa será…
Não posso ouvi-la senão em segredo
Num vazio de momento inesperado.
Ensina-me a sentir como quem ouve…
O seu mistério, a sua voz
Que na madrugada acende no seu rosto
E como se antes o mundo não tivesse existido,
Ensina-me a romper o dia claro.


04/11/2012
@Maça de junho


domingo, 20 de abril de 2014

Páscoa dos simples

Tudo ao som deste "Nabucco" lindissimo

Teria os meus 17 anos quando escrevi o seguinte sobre a Páscoa: "Procuremos ser dignos do perdão do Senhor e viver em verdade". Não sei o que pensava então sobre a Fé, mas sei que sempre questionei muito os dogmas e os retrocessos da Igreja no acompanhamento da evolução do tempo, da falta de simplicidade e da pouca misericórdia para com os necessitados. Hoje a Igreja vive mais da interiorização, e da ajuda ao próximo. Faz menos juízos e é mais franca e aberta. Que este dia de Páscoa seja de Paz e de solidariedade, que seja um Santa Pascoa vivida na alegria de Jesus Ressuscitado.

E nesta quadra regresso sempre às tradições mais simples da minha infância: folar de carne, ou bola de carnes, pão de ló e pudim de gemas (tradicional abade de priscos). Tudo regado a vinho fino como dizia a minha avó/madrinha e a sua amiga Maria de Barros, quando a este tema se dedicavam.
Partilho as receitas, pois são fáceis e ficam bem numa mesa todo o ano e não apenas hoje dia especial de renovação e reconciliação.

Folar
Ingredientes (amassei na Máquina do pão por ser mais fácil e poupar tempo para outras tarefas):
100 gr margarina
3 colheres sopa azeite
1 colher café sal
200 ml água
5 ovos
1kg farinha sem fermento - tipo 55
um cubo de fermento de padeiro, se utilizarem do fermento de pastelaria (fermipan) um pacote

Recheio:
Carne entremeada salgada aos cubinhos salpicão/presunto/linguiça em fatias finas e cortado aos quartos, qb

Colocam-se os ingredientes pela ordem indicada na cuba da máquina e liga-se no programa de amassar farinha.
Quando terminar o programa, deixa-se levedar mais cerca de meia hora.
Numa forma redonda untada de manteiga vai-se colocando por camadas. Um pedaço de massa esticado com as mãos e em cima colocam-se pedaços do recheio, alternando até terminar com uma camada de massa, com que se vai fechar o pão. 
Depois de tendida a massa deixa-se levedar mais meia hora, enquanto o forno aquece. 
Leva-se ao forno a cerca de 170º cerca de 45 minutos. Retira-se e deixa-se a arrefecer em cima de uma tábua do pão para não humedecer.
E eis o apetitoso folar que anda aqui por casa...




Pão de ló
A receita é de uma amiga muito querida. Se utilizarmos uma forma baixa, o pão de ló fica humido, tipo pão-de-ló de Ovar. Mas eu gosto muito do tradicional, até porque dura mais tempo. Então cozi-o numa forma redonda de buraco e ficou assim:

10 ovos
10 colheres sopa de açúcar
5 colheres sopa de fécula de batata
1/2 colher chá de fermento em pó

Bater as gemas com o açúcar até ficar bem cremoso (cerca de 20 minutos com a batedeira de arames)
Batem-se as claras em castelo (c/uma pitada de sal) e mistura-se ao preparado das gemas, envolvendo com a colher de pau. Por fim juntar a fécula e o fermento peneirados
O forno deve estar pré aquecido e deve cozer com a resistência de baixo ligada.
Untei uma forma de buraco com margarina e forrei-a com papel almaço. 

Ficou assim e está divinal




Depois chegou a vez do pudim, calórico, suave, cremoso, não sei como adjectivá-lo:

Pudim de gemas

meio litro de água
350 gr de açúcar
1 pau de canela
casca de limão
100 gr de toucinho do céu, (pode optar por colocar uma colher de sopa de banha- não serve manteiga, pois não fica a mesma coisa)
10 gemas e dois ovos inteiros


Leva a água ao lime com a canela e a casca de limão. quando ferver junte o açúcar e deixe tomar ponto. Se optar pelo toucinho deve-o colocar a cozer na água fervente aquando do açúcar. Se colocar banha deixa apenas para quando o ponto já estiver tomado. Retire do lume e deixe arrefecer. 

Entretanto bata bem as gemas e os dois ovos, até ficarem bem incorporadas, e deite no ponto de fio se já estiver morno.



Vai a cozer em forma untada com caramelo (deixo a receita a seguir), em banho maria durante cerca de 45 minutos. Deixar arrefecer e colocar no frigorifico até servir. Apenas na altura de servir se deve desenformar.



Faz-se caramelo para barrar uma forma de pudim ( uma chávena de açúcar para meia chávena de água. Coloque o açucar seco num tachinho e leve ao lume até queimar. Vá mexendo e não deixe queimar demais, até ficar dourado escurecido. deite a água e mexa bem deixando ferver um pouco para ganhar ponto. Depois de arrefecer pode usar-se na cobertura de bolos, pudins, etc)


Continuação de bom tempo Pascal, de convivio fraterno e de corações repletos de carinho e coisas boas! Porque viver é dar sentido à vida, com coragem, pensando o futuro e procurando dar futuro a quem nos rodeia.



Bonne Apetit!

E o vinho fino...
Vinho do Porto produzido pelo meu pai em 1991.
Era tinto, mas dado o tempo decorrido está a tornar-se dourado






sábado, 19 de abril de 2014

Aprender a olhar

Vivemos diante dos olhos. Dos nossos, dos outros. Cada olhar uma lição. Rega o interior pessoal. Como chuva no inverno. E na primavera mergulha… É frescura que renova. Um florir mais corajoso. Assim lhe chamo, viver! Nem sempre vale programar. Se tudo pode mudar. Afinal a vida motiva. Perder o equilíbrio, não! Que maçada, incerteza, desilusão. Aprender de novo, ler! Será de novo nascer. No saber, no aprender! E de novo acreditar! Nos meus olhos? Nos teus…

Escrever em 77 palavras um texto de apenas quatro palavras por frase. A penúltima frase 3 palavras. A última frase duas palavras
publicado no blogue: histórias em 77 palavras

@Maçã de junho 

Foto lua cheia vista da varanda de casa
@Maçã de junho

Encontro

Quando chegámos junto da tenda, afastaste a lona que protegia a entrada, baixaste a cabeça e segurando-me pela cintura empurraste-me ligeiramente na direção do seu interior. Lá dentro estava escuro, a lua não trespassava a lona e a medo sem saber muito bem onde pisar avancei. Quando olhei de novo a entrada já tinhas baixado a lona e estavas de joelhos na minha frente. Agora já via o brilho dos teus olhos, a habituação ao escuro interior, permitia reconhecer algumas sombras. Esticaste o braço e pegaste um frasco de uma bolsa exterior da mochila que tinhas a um canto. Reconheci ser a tua mochila, a tua companhia mais fiel e segura. Seguraste na beira da minha camisola e levantando-a tapaste-me o rosto. Levantei os braços e ela passou por cima da minha cabeça. Pousando-a na tua mochila, voltada do avesso. Agora estava nua da cintura para cima. Apenas trazia o pijama vestido, quando saí em direção ao muro que separa a horta do caminho da floresta. Já me viras de pijama várias vezes ao acordar de manhã, enquanto as mulheres organizavam os pequenos almoços e tu diligente suprias as faltas que o sono ainda não permitia resolver de imediato. Mas nua, nunca tinha estado para ti. Colocaste a mão no meu peito alvo e eu inspirei como querendo absorver o teu gesto, todo o calor da tua mão. Sorriste novamente. Foi a segunda vez esta noite que abriste um grande sorriso para mim. A mão tocou-me levemente o ombro e fizeste voltar-me de costas para ti. Baixinho disseste «deita-te de costas para cima» Foram as primeiras palavras que me dirigiste. Não te respondi. Deitei-me na esteira que fazia de cama. O meu rosto pousou sobre uma almofada suave, muito suave e com um cheirinho a lavanda, como se tivesse acabado de sair da lavandaria. Sem trocarmos palavras, dei um suspiro e a tua mão acariciou-me o rosto. O silêncio não era vazio, dizia tudo aquilo que queríamos dizer, era apenas vazio de sons.

Uma calma foi-me invadindo. As tuas mãos seguraram os meus ombros e com um dedo percorreste a minha coluna, desde o pescoço até ao final e quando repetiste o gesto no percurso inverso, já era a tua mão aberta que o fazia, numa massagem firme que me pressionava o peito contra a esteira, sentido o chão rude e duro que era a tua cama. A massagem prosseguiu firme e perfumada. De repente juntou-se ao aroma da lavanda um ligeiro aroma de tomilho e eucalipto ou madeira não sei bem. Sei apenas do que sentia, que não interessa dar um nome. Aquilo que sentimos é único e apenas nosso, não permite definição. 
Com a mão direita seguravas o meu cabelo e acariciavas levemente a base da nuca, enquanto a esquerda ia percorrendo as costas, ora mais levemente, ora com firmeza e alguma pressão de vez em quando. Take 2
@Maçã de junho


sexta-feira, 18 de abril de 2014

O dia do mistério da Páscoa

Paixão  tem vários significados, em latim passio -ónis, A capacidade de suportar, um pesar, um sofrimento.  Paixão significa tormento de vida, dor, mas também um amor, uma predilecção irresistível e uma perturbação arrebatadora. Uma paixão tanto pode ser destrutiva como dar um novo sentido à vida, novo encanto, novo sentir que pode levar ao amor terreno e ardente. A paixão tem sempre por base a forma amorosa de sofrer ou de regozijo, de entrega, de sacrificio. E na Paixão de Cristo, está presente mais que tudo. Entregou-se por amor ao seu povo.
Entregou-se por amor ao Pai, no sacrificio da Cruz e na morte cruel que lhe é infligida. No sofrimento que a mãe presencia ao receber a morte do filho nos braços, maior abnegação e sofrimento não encontramos no evangelho. Ao longo da história encontram-se inúmeros casos de paixão, de abnegação, de doação ao próximo, seja por amor, por compaixão, por caridade, por respeito ou por altruísmo, pela guerra ou pela paz, por motivos religiosos, políticos, de solidariedade para com o ser humano, para com as crianças, com os velhos, em missões a favor de necessitados de bens materiais, de proteção na saúde, na guerra, no abandono, ou de apoio espiritual que seja, mas a entrega de Jesus na Cruxificação é única .

E hoje, dia da Paixão de Cristo que pelos homens sofreu e morreu na cruz, é uma reflexão obrigatória, para todos os Cristãos e para Católicos em particular. Neste momento em que a Igreja recorda a morte de Jesus Cristo, na tradição da liturgia, porque foi única, de um filho que também era único e de um plano divino de salvação da humanidade. Neste dia é o único em que não se celebra missa nem há consagração Eucarística, como que na  renuncia à palavra. Apenas se celebra o rito da Paixão, onde o celebrante se prostra em sinal de humildade e de tristeza. É lida a narrativa da paixão, neste ano litúrgico, o Evangelho Segundo S. João, na manifestação da sua missão e da sua divindade: [João 18-19]- "A quem buscais? Responderam: "A Jesus de Nazaré"- "Sou eu", disse-lhes" [Jo 18,5] e a adoração da Cruz, a oração Universal que reza pelos que não crêem, pelos que não têm fé, pela Igeja e por todos que d'Ela fazem parte, pelos que exercem o poder, pelos que sofrem. A comunhão é a dos pré-santificados. Pois é da Hora de Jesus que se trata, da sua glorificação, do seu retorno ao Pai, para se renovar na Glória de Deus. "...tal é a ordem que recebi de meu Pai" [João 10.17-18]. Cristo é vencedor na cruz,  uma profunda experiência pelo sofrimento quando enfrenta a morte na Cruz, sinal de triunfo e não de castigo, sinal de vida, a árvore da vida, no milagre do amor de Jesus pela vida, pela salvação dos povos, na forma mais generosa e heróica de amar. O mistério mais dramático e inexplicável, a traição, a condenação, o abandono, a injustiça, a agonia da dor, culminando na cruxificação, é o grau último da Fé, na resposta do perdão, da oração, do silêncio,  no seu amor pela humanidade pecadora e frágil, que terminarão com a Ressurreição da Páscoa. 

Páscoa Feliz a todos quantos visitam este Blogue
@Maça de junho

http://youtu.be/-d9FLEIQfME

Rembrandt


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Gabriel García Marquez

"Foi terrível este meio-dia em nossa casa. Ainda que não constituísse uma surpresa para mim a notícia da sua morte, pois já a esperava há muito tempo, não podia supor que ela viesse a causar tantos transtornos em minha casa." Gabriel García Márquez, in A revoada
-Quando escrevi A Revoada, já tinha a convicção de que todo o bom romancedevia ser uma transposição poética da realidade - comentário do autor impresso na contracapa da edição que tenho da Editora Record


No céu a lua brilha

A lua enchia o céu no quarto crescente imenso e translúcido, encostada ao muro defronte das escadas perdida na deslumbrante claridade nem me apercebi da tua chegada. A tua mão pousou levemente no meu ombro. Levemente, sempre levemente apareces, surges vindo do nada e levemente te vais instalando ao meu lado. A tua presença é leve, leve e terna. Não me assustei. A tua mão suave, transmitindo calma e energia sossegou também o meu pensamento. Adivinharias tu o que me inquietava? Se sim, não mo revelaste. Voltei o rosto e encontrei os teus olhos pousados em mim. Absorviam-me a mente, e sorriam, ternos e meigos. O teu ar doce e sereno, um pouco triste por vezes, talvez. Ah! Soubesse eu qual a causa …
Um dia saberemos tudo um do outro, e nesse dia a lua será também nossa companhia para fazer com que as estrelas ainda brilhem mais para nós.

Não falei nada, não era preciso. Encostei a minha cabeça no teu peito e assim ficámos. O teu coração batia num compasso de trote e a tua respiração aquecia-me o cabelo entrando no couro cabeludo. Não sei quanto tempo, mas algum tempo depois, seguraste a minha mão e puxaste-me ligeiramente para ti. Deste um passo e eu fui seguindo a teu lado, a tua mão na minha, grande, firme e segura. - Take 1
@Maçã de junho 


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Adeus

Nem sempre o sol nasce ao amanhecer, nem sempre o sol é quente e brilhante, nem sempre os dias são iluminados pelo seu brilho. Nestes dias a poesia do Eugénio diz tudo aquilo que o coração guarda. Tudo aquilo que na alma entorpece. Tudo o que os dias não trazem de volta:
Não te deixes envelhecer, pois apenas envelhece quem perde a capacidade de se apaixonar, e nem sempre dizer adeus, significa partir:


«ADIEU-  Eugénio de Andrade 

Nous avons usé les mots dans la rue, mon amour,
et ce qu'il en reste ne suffit pas
à éloigner le froid de quatre murs.
Nous avons tout usé sauf le silence.
Nous avons usé nos yeux du sel de nos larmes,
nous avons usé nos mains à force de les serrer,
nous avons usé les horloges et les pavés des coins de rues
en des attentes inutiles.

Je mets les mains dans mes poches
et je n'y trouve rien.
Auparavant, nous avions tant à donner l'un à l'autre !
C'était comme si toutes les choses m'appartenaient :
plus je te donnais, plus j'avais à te donner.

Parfois, tu disais : tes yeux sont des poissons verts !
Et j'y croyais.
J'y croyais,
parce que, à tes côtés
tout était possible.
Mais c'était au temps des secrets.
C'était au temps où ton corps était un aquarium.
C'était au temps où mes yeux
étaient des poissons verts.
Aujourd'hui, ce ne sont que mes yeux.
C'est bien peu, mais c'est vrai,
des yeux comme tous les autres.

Nous avons usé les mots.
Maintenant, lorsque je dis : mon amour...,
il ne se passe absolument plus rien.
Et pourtant, avant les mots usés,
je suis sûr
que toutes les choses tressaillaient
rien que de murmurer ton nom
dans le silence de mon coeur.

Nous n'avons plus rien à donner.
En toi
plus rien n'a soif de moi.
Le passé est aussi inutile qu'une guenille.
Et je te l'ai déjà dit : les mots sont usés


Adieu.»                                                                                      Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, 

e o que nos ficou não chega 
para afastar o frio de quatro paredes. 
Gastámos tudo menos o silêncio. 
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, 
gastámos as mão à força de as apertarmos, 
gastámos o relógio e as pedras das esquinas 
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras 
e não encontro nada. 
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! 
Era como se todas as coisas fossem minhas: 
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! 
e eu acreditava. 
Acreditava, 
porque ao teu lado 
todas as coisas eram possíveis. 
Mas isso era no tempo dos segredos, 
no tempo em que o teu corpo era um aquário, 
no tempo em que os meus olhos 
eram peixes verdes. 
Hoje são apenas os meus olhos. 
É pouco, mas é verdade, 
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras. 
Quando agora digo: meu amor..., 
já se não passa absolutamente nada. 
E no entanto, antes das palavras gastas, 
tenho a certeza 
de que todas as coisas estremeciam 
só de murmurar o teu nome 
no silêncio do meu coração. 
Não temos já nada para dar. 
Dentro de ti 
não há nada que me peça água. 
O passado é inútil como um trapo. 
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


http://www.youtube.com/watch?v=AXlrg70z1Kc


«some people make things happen, while others wonder what happened»


domingo, 6 de abril de 2014

Pasta de atum num pão de centeio

Gosto de palavras simples, de palavras que dizem tudo, quando querem dizer tudo. Porque são as palavras que ficam quando já não resta nada. Por vezes nem as palavras restam. Ficam as lágrimas e as palavras servem apenas para esconder o rosto molhado, para encobrir a sombra que o olhar encerra. 
Gosto quando as palavras me encontram, até quando não sou eu quem as encontra a elas. 
Gosto do sabor da terra, do cheiro do mar, do pão de centeio e das searas a ondular ao vento. As searas ondulam mesmo quando não há vento. Apenas dançam para ele. Gosto da terra íngreme do douro, dos socalcos, das vinhas, dos medronheiros e das urzes. Gosto das pedras graníticas e do cascalho xistoso que lhe faz o chão. Gosto do sol quando nasce e quando se põe, gosto das conversas à luz da lua, gosto das noites de verão e dos sons que surgem do escuro. Gosto de quando estás ao meu lado. Estar ao meu lado é fazeres parte de mim, dos desejos e dos sonhos, dos dias e das noites. Gosto de te saber feliz, mesmo que não seja para eu ser feliz, gosto quando sei que lês as minhas palavras e as compreendes, sendo tuas ou não te pertencendo. Nada nos pertence, mas tudo pode ter o poder de construir o nosso mundo. E hoje o meu mundo ruiu.

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Lembrei-me de fazer umas tapas de atum e queijo fresco de cabra. Comprei numa padaria de grande qualidade que tenho bem perto de casa, um pão delicioso de centeio e aveia.
O atum em azeite (em lata) de uma marca Açoriana que apresenta uma excelente relação qualidade/preço. Apenas não divulgo a marca, uma vez que o meu blogue não beneficia de patrocínios publicitários.
Uma lata de atum, meia cebola picada, salsa picada, queijo de cabra fresco aos cubos e uma colher de sopa de maionese. Umas folhas de alface e tomate cortado em rodelas finas.
 Um fim de dia diferente, a ver o entardecer na frente da casa, com o sol a tingir o céu das cores africanas.



sábado, 5 de abril de 2014

Na luz dos dias

Queria primaverar contigo e não vieste
O sol escondeu-se e foi adormecer nas nuvens
cinzentas da cor dos meus dias
Oh! eu que procuro a cor das flores
para com ela colorir o teu rosto de sorrisos

Quando sozinho consigo fazer alegria
os dias são mais leves e as horas simples
onde a tua presença irradia amor

A tua inquietude é fonte do meu contentamento
quando trazes nos dedos a ternura dos olhos
aquela que as palavras não dizem
mesmo quando germina o medo
e a coragem cala além da luz que entra pela janela