sábado, 30 de janeiro de 2016

Vírgílio Ferreira

Se eu soubesse a palavra
,
a que subjaz aos milhões das que já disse,...
a que às vezes se me anuncia num súbito silêncio interior,
a que se inscreve entre as estrelas contempladas pela noite,
a que estremece no fundo de uma angústia sem razão,
a que sinto na presença oblíqua de alguém que não está,
a que assoma ao olhar de uma criança que pela primeira vez interrogou,
a que inaudível se entreouve numa praia deserta no começo do Outono,
a que está antes de uma grande Lua nascer,
a que está atrás de uma porta entreaberta onde não há ninguém,
a que está no olhar de um cão que nos fita a compreender,
a que está numa erva de um caminho onde ninguém passa,
a que está num astro morto onde ninguém foi,
a que está numa pedra quando a olho a sós,
a que está numa cisterna quando me debruço à sua borda,
a que está numa manhã quando ainda nem as aves acordaram,
a que está entre as palavras e não foi nunca uma palavra,
a que está no último olhar de um moribundo, e a vida e o que nela foi fica a uma distância infinita,
a que está no olhar de um cego quando nos fita e resvala por nós,
– se eu soubesse a palavra,
a única, a última,
e pudesse depois ficar em silêncio para sempre…

Vírgílio Ferreira

(nasceu em Melo, Beira Alta, a 28 de Janeiro de 1916).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Na saúde e na doença


Hoje trago um miminho para alegrar alguém que também me alegra em muitas ocasiões. Que se lembra de mim, mesmo nos dias em que preocupações maiores lhe perturbam o espírito.
A gratidão e o reconhecimento fazem parte da amizade, e a nossa é profunda e intensa. Assente em princípios de grande compreensão e ternura.

Sei da tua ansiedade, e também sei que não há motivos para ela.
Deixo-te as peónias de que eu gosto tanto e sei também gostarás.
@Maça de junho


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Muitas pessoas nos conhecem, mas poucas nos compreendem. Compreensão exige desapego, é muito mais profundo que conhecimento






 

domingo, 24 de janeiro de 2016

Boa noite a todos quantos visitam esta página

 

Magnólias


Já há magnólias na cidade.
Um dia de sol e as magnólias abertas em flor, são uma imagem bonita no meio do inverno triste e cinzento.

Não deixes que o tempo fique parado,
naquilo que não fizeste.
Sai para a rua
aproveita o instante
Agarra a oportunidade
sê simples,
sincero e autêntico
Não tenhas medo de arriscar
Nem de sofrer
A vida é um jogo
que vale a pena ser jogada
mesmo quando se perde
O amor é mais que um pôr do sol
É a lua a nascer, o sol a acordar.
Não consegues apagar os erros
mas podes escrever páginas novas
simples, como as magnólias.

@ag





 

E hoje deu-me a nostalgia dos Açores. Talvez pelo mau tempo que paira por S. Miguel.
Neste dia em que a foto foi tirada, estava frio. Mas continua a ser um momento recordado, pela ternura que guardo desta viagem.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Insularidade

É o nascer do sol
acordando preguiçoso
Um novo dia que surge

repleto de energia,
de reconhecido talento
Com gratidão e alegria.


@maçadejunho

https://youtu.be/Io_RidA1mlI

 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Domingo de fé

Passado o Advento e as Festas Natalícias, estamos agora no umbral do chamado «Tempo Comum» do Ano Litúrgico que, ao contrário do que se possa pensar, não é um «Tempo secundário», mas fundamental na vida celebrativa da Igreja Una e Santa.

Esta apresentação só é possível porque, em cada um dos Anos Litúrgicos, é proclamado, Domingo após Domingo, um Evangelho inteiro. Neste Ano C, é-nos dada a graça de ouvir o Evangelho de Lucas, que tem uma vincada identidade e personalidade Missionária, mas que é apresentado ainda como sendo o Evangelho do Espírito Santo, o Evangelho da Oração, o Evangelho da Graça (único dos Evangelhos Sinópticos a empregar este termo) e da Alegria, e o Evangelho onde Jesus «visita» e se encontra HOJE (8 vezes no Evangelho de Lucas) com o mais alargado leque de pessoas: pobres, ricos, pecadores, doentes, idosos, mulheres, viúvas, crianças…
 
 
 
 
És a estrela da alvorada e a madrugada junto ao cais
És tudo o que eu vejo em ti, és a alegria e muito mais
És a minha maçã de Junho, és o teu corpo e o meu
Amo-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu
Ano-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu

És a erva perfumada, debruada a girassóis
O trago do café quente nas manhãs entre lençóis
És a minha maçã de Junho e a minha noite de verão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão

És o encontro na estrada, és a montanha e o pôr do sol
O vinho bebido em festa, és a papoila e o rouxinol
És a minha maçã de Junho e a minha estrela polar
Sem ti eu não tenho norte, sem ti eu não sei amar
Sem ti eu não tenho norte, sem ti eu não sei amar
És a estrela da alvorada e a madrugada junto ao cais
És tudo o que eu vejo em ti, és a alegria e muito mais
És a minha maçã de Junho, és o teu corpo e o meu
Amo-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu
Ano-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu

És a erva perfumada, debruada a girassóis
O trago do café quente nas manhãs entre lençóis
És a minha maçã de Junho e a minha noite de verão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Pela margem





Na margem a vida parece sempre mais cheia; Talvez porque a realidade não possa existir fora da perceção; É pela natureza que os excessos submergem, mesmo dentro de nós.

@Maçadejunho


https://youtu.be/4PJ-dgnK-Ok

 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Tempestade

 
O fim de semana foi todo de chuva. Chuva e vento. Gosto da chuva a cair lá fora. Gosto de ouvir o vento nas árvores. É como se dentro de mim também acontecesse tempestade. Sinto que se agitam as ideias, por vezes as memórias. Gosto de ficar no silêncio da casa a escutar o bulício da rua. O chapinhar dos carros na estrada, as pingas a estalar contra a janela. Por vezes fico assim longos minutos com a cara quase colada ao vidro, a sentir. Acho que me sinto menina, lá muito atrás, quando espreitava na janela o momento de poder voltar à rua. Gosto de sentir o cheiro da chuva.
 
Ah! E arrumei a árvore de natal. Sim estive a guardar as decorações de natal. As luzes que tanto brilho e luz emanam. As peças do presépio, que na realidade são dois presépios, mais umas quantas peças soltas, de ovelhas, pastores, casinhas, patos, o poço, as galinhas. Sim o nosso presépio além das figuras tradicionais, tem mais uma quantidade de vida e animação. E não falta o João Batista, desde que o Pdre Feliciano nos entusiasmou com a sua presença.
Apenas deixei os presépios da coleção, que fazem já parte dos biblots da sala. A sagrada família (grande). O calendário avança e nós agarrados às rotinas e exigências da semana, avançamos já sem Natal. Ficam ainda as coisas boas do inverno. O calor da casa, as mantinhas no sofá, o mimo do fim de tarde.
Gostava que estivesses aqui, para partilharmos tudo isto.
@maçadejunho

 
 
 
 
 
foto de Miguel Martins
Porto hoje - Foz do Douro

domingo, 10 de janeiro de 2016

Escuto
Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus...
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado, amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco...

(Sophia de Mello Breyner Andresen)



https://youtu.be/EV8kgnJuNFs

 

sábado, 9 de janeiro de 2016

Jardim de proteáceas

Protegido, desde a infância, como Proteu. Quando por falta de proteína, precisou daquela prótase. Durante toda a vida foi protagonizando as mais diversas façanhas. Até um erro no protocolo fez dele o protagonista, na peça de teatro do liceu.

Hoje liderou o protesto, que levou o governo a protelar a decisão de legislar sobre um novo protótipo.  Não vai permitir que alterem as regras de cultivo e comercialização das suas proteáceas, as protagonistas de qualquer jardim madeirense.

Desafio 102 – usar o máx de prefixo PROT
Publicado em: historiasem77palavras.blogspot.pt
 





https://www.youtube.com/watch?v=5JZbAwmZNlo
 
 
 
 
Coimbra, 9 de Janeiro de 1979.

MUSA
Se vens, perco a razão...
E digo o que não quero.
Se não vens, desespero
E gasto o coração
A desejar-te.
Ah, como é difícil a arte
De te ser fiel!
E como é cruel
A tua tirania!
Noite e dia
Pregado
A um madeiro sagrado
De amargura.
Duramente sujeito,
Ou então contrafeito
Na minha liberdade sem loucura.

Diário XIII, Miguel Torga


                                           Joaquín Sorolla (Valencian Fishergirl. 1916)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Escritiva 3

Caos e incertezas
Nuvens encrespadas rasgam o céu azul. Sentado na praia, debaixo daquela chuva, chora a recente perda. O salpicar das ondas vai-se desvanecendo na praia, e nele o sonho, a ilusão, o amor. O vento cortante fustiga-lhe o rosto, com a espuma branca.
Na rua é o caos. Tal como dentro de si. Só tem duas opções: continuar as sessões, ou passar a viver com como fantasma vermelho. É tudo uma questão de escolha. Escolha não. Lenitivo mental.
 
Uma história em 77 palavras, contendo as palavras azul/amor/vento/vermelho/chuva/rua
Publicado em historiasem77palavras.blogspot.pt
@macadejunho
 
 
 
 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Dia de Reis

Guiados por uma estrela, deixaram tudo, e foram procurar, foram ao encontro dele, e avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho. A estrada tem de ser outra. Precisamos encontrar um caminho novo. Não pode haver desencontros. Há sempre uma linha onde nos cruzarmos com o bem, basta entender os sinais e seguir por aí. Não ter medo. Não nos acomodarmos, nem nos incomodarmos não sendo seguidos. A estrela vai-nos guiando, precisamos é segui-la, reconhecê-la, procura-la por entre nuvens e ventos, por entre o medo e a desilusão. A esperança em chegar lá não pode soçobrar.
Hoje é o dia em que o exemplo destes Reis, despojados de tudo, com o seu saber, com a sua coragem, dão um exemplo de sabedoria, fé e perseverança. Sejamos todos os dias um pouquinho reis magos, um pouquinho pastores e um pouquinho profetas.
Bom dia de reis
@macadejunho

 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Miguel Torga



Lisboa, Cadeia do Aljube, 1 de Janeiro de 1940.
ARIANE
Ariane é um navio....
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.


Diário I, Miguel Torga











sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Não te peço mapas, peço-te caminhos.
O gosto dos caminhos recomeçados,
com as suas surpresas, as suas mudanças, a sua beleza.
Não te peço coisas para segurar,
mas que as minhas mãos vazias...
se entusiasmem na construção da vida.
Não te peço que pares o tempo na minha imagem predilecta,
mas que ensines os meus olhos a encarar cada tempo
como uma nova oportunidade.
Afasta de mim palavras,
que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias.
Que eu não pense saber já tudo acerca de mim e dos outros.
Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho,
sei que posso ser, ser simplesmente.
É isso que te peço, Senhor:
a graça de ser de novo."

( José Tolentino de Mendonça)

 
 
Happy New Year
Bonne Année
Bom Ano
Feliz 2016