quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Lirios

Quanto mais longe mais perto
E sinto frio quando o silêncio
adormece ao meu lado
Não deixes a chama apagar
este sopro de vida
Oferece-me lírios
e o verão não terminará ainda
Nem o perfume das tuas mãos
se evaporará das minhas
anda
vem comigo ao campo
apanhamos lírios
junto da velha cameleira
e deitados no musgo macio
olhamos os pássaros no céu.
E as flores serão as únicas testemunhas
de que caímos de amor,
Elas e as nuvens que passam por cima de nós

@Maça de junho




terça-feira, 26 de novembro de 2013

Liberdade

Há promessas não cumpridas
E muitas vidas esquecidas,
Gente que vive sem luz
Cansada de tanto esperar
A quem foi retirada a alma
Sem lhes dar um despertar!
E todos os dias são noite
mesmo quando lhes mandam calma
Cansados de ficar parados
Encetemos uma revolta.
Tanta promessa vã
Tanto direito roubado
Será por acaso pecado
Rebentar com os grilhões
De gente pior que patrões?
O que é escravidão
apenas conhecer a obrigação?
Sinto-me ludibriada, enganada
E quem são os infiéis 
que atraiçoam a nação?
Quero que me respeitem
O meu trabalho é honesto
Por ele quero a paga
Alguém tome as rédeas 
Compromissos e verdade
Faça deste Portugal
Um país de seriedade
Onde um rosto de criança
Traga esperança no futuro.
Só assim podemos sentir a liberdade
@Maça de junho
Foto:Maça de junho




domingo, 24 de novembro de 2013

Penélope

Há palavras que são curtas, mas são sôfregas. Dizem tudo o que o pensamento retem, o que o corpo deseja, o que a saudade aumenta. Há palavras que nem chegam a ser escritas, ficam no silêncio do pensamento e apenas os sentimentos das almas gemeas as escutam, porque as adivinham, porque também as sentem.
Seriam poesia se os poetas também sentissem a saudade que esmaga e sufoca na garganta, as palavras que o coração ecoa. 
Assim acontece quando a conversa busca todos os sentidos e mesmo na distância são os sentidos que se tocam, que se deixam envolver e seduzir numa dança de dois corpos que se sentem sem se verem. É magia.
E não é assim no amor? Para haver amor tem que haver gente dentro do sentimento, senão é um vazio. Sufoca na distância, incomensurável da espera, da tarde que adormece na noite escura, sozinha mas na companhia do sonho e da loucura de um acordar de novo e de novo viver o encantamento da viagem. E tudo na vida envolve riscos até o amor. E os riscos trazem conhecimento e sofrimento, crescimento e maturidade, sabedoria e vida e tanta felicidade. 
O amor é fodido. É título de romance, mas é a dor de não nos podermos deitar com as palavras nem quando navegamos dentro das palavras que dizemos.
Maus amantes são os que  não sabem despir suavemente uma mulher das palavras e dos temores, são os que amam as borboletas e não conhecem as suas metamorfoses. Porque é o tempo que torna tudo mais suave, que dá os contornos da perseverança e da capacidade de ultrapassar os obstáculos, como o rio na sua viagem entre a nascente e a foz.
Viagem de amor é caminhar de encontro ao outro, mesmo quando ambos levam caminhos diferentes que se cruzam quando se despem para se entregar como se estivessem a escrever um conto. E no tempo em que tecem a teia do fio que os une, desfazem os nós do caminho na espera, e enquanto esperam, fiam novos silêncios que terminam em longos e demorados abraços que levam sorrisos dentro deles. E quando partem vão tristes, a única voz que ouvem é a do vento.
@Maça de junho

Foto:internet



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Instante

Nos braços da noite
adormeci, vazia do dia
em que não te vi. Na rua
não estavas, cá dentro
faltavas, nem carta
de ti, nem encontro
marcado. Procuro por ti
no orvalho molhado.
Encontro a saudade
no amanhecer. Sonhou
nos teus braços e sorriu
acordada. Por ser tua amada
por ser mulher, desejada.
No calor do café, encontrou
a suavidade do teu beijo.
E nesse instante foi feliz.
@Maça de junho


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O limite do infinito


Desafio nº55

palavras que têm obrigatoriamente que integrar o texto:
limite  paciência  tempo  sentença  interrogação  penumbra  humildade  adversidade  ventania

Depois substituir as 10 palavras por antónimos/contrários metafóricos e reescrever o texto mantendo toda a estrutura inicial.

Publicado no blogue: histórias em 77 palavras 

Atingiu o limite da paciência. Sem tempo para a sentença mantinha a interrogação do costume: o que faria na penumbra do umbral, como se ali tivesse sido posta em sossego, naquela irritante pose de diva em sessão fotográfica? Humildade tinha pouca. De nada lhe valia a adversidade com que a confrontavam diariamente no jornal.
A ela que nunca perde o aroma da ventania, não irá perder a oportunidade de chegar a redatora chefe.
 Está escrito nas estrelas.

Atingiu o infinito da irritação. Sem azáfama, para a desconfiança mantinha a tranquilidade do costume: o que faria na claridade do umbral, como se ali tivesse sido posta em bulício, naquela irritante pose de diva em sessão fotográfica? Altivez tinha pouca. De nada lhe valia a contingência com que a confrontavam diariamente no jornal.
A ela que nunca perde o aroma do suspiro, não irá perder a oportunidade de chegar a redatora chefe.

Está escrito nas estrelas.

Foto: Maça de junho

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Havia uma flor!

Hoje Manuel António Pina completaria 70 anos. Repletos de dedicação às letras, à prosa e à poesia. Um jornalista que nasceu poeta. Descobri-o no Jornal de Notícias e depois a poesia e depois ainda o amor que tinha aos seus gatos. Tanta afinidade por um homem que nunca tive o prazer de conhecer pessoalmente. Fui eu quem ficou mais pobre, certamente. 
Em 2006 nascia o meu filho e na visita à feira do livro não resisti em comprar para ele a nova edição do Têpluquê e outras histórias. Depois li-lhe o livro como se de uma história de embalar se tratasse e tratava. Hoje lembrei-me de vir fazer um post sobre um homem que me ajudou a encontrar o meu papel de mãe. Hoje sou a mãe que sou porque na minha vida se cruzou um poeta de nome Manuel António Pina.

Havia uma flor!
Nem eu sabia
onde é que a flor havia
mas tanto fazia.

Talvez houvesse
onde ninguém soubesse
ou fosse uma flor de estar a haver
só na minha imaginação,
ou não fosse uma flor, fosse uma canção.

Nem a flor sabia
que existia.
em qualquer sítio, sem saber, floria.
E se fosse uma canção cantava e não se ouvia.

E isso acontecia
no meu coração.
Não sei se era uma flor se uma melodia,
era qualquer coisa que havia,
e cantava e floria
dentro de mim sem razão.

ia pela rua e ninguém diria.
As pessoas passavam
e eu dizia:
"Bom dia!"
E ninguém suspeitava
o bom dia que fazia
em qualquer sítio
que dentro de mim havia!
Só eu sabia e sorria,
Levando-te pela mão.

Manuel António Pina
O TÊPLUQUÊ e outras histórias
Assirio & Alvim, edição de 2006



Foto: Maça de junho

sábado, 16 de novembro de 2013

Felicidade é ser mãe de um filho feliz

Ser mãe é deixar coisas por fazer para fazer as coisas dos filhos (e dos outros também). Mães têm sempre coisas para contar. E por tudo aquilo que conta, fica ainda tanta coisa por contar. Podemos escrever todos os dias, mas há coisas que não se conseguem escrever, porque apenas se sentem. E escrever emoções é mesmo complicado. Mãe é dar beijinhos até arderem as bochechas, é fazer rir mesmo que a dor de cabeça esteja insuportável, é fazer luta de almofadas até arrancar cabelos, sem um queixume. 
Mas também é para por a pensar, para repreender quando necessário, para lembrar as regras de cidadania e convivência saudável a todas as horas.
Quando uma criança pensa, a filosofia ganha um poeta. As atitudes trazem consequências e no caso infantil, crescimento, que deve ser harmonioso e consequente. A singularidade das crianças encontra-se nas interrogações, no questionar, no perguntar. Depois a aprendizagem está em saber ler, não apenas as palavras, mas o mundo que nos rodeia, o mundo onde a criança se insere.
Pois como escreveu Rousseau: "A criança só deve fazer aquilo que quer; mas deve querer apenas aquilo que vocês querem que ela queira; não deve dar um passo sem que vocês o tenham previsto; não deve abrir a boca sem que vocês saibam o que ela vai dizer. Deixem que o vosso aluno acredite ser sempre ele o mestre, quando, na verdade, são sempre vocês que o são."
@Maça de junho
Foto:internet

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Castanhas

As castanhas atapetavam o souto em toda a sua extensão, um caso de ouriços. Por vezes a soca soltava-se do pé ligeiro, enterrada nas folhas fofas e coloridas que o outono pintara de cores amarelas e ocres. Nas tocas ocas dos castanheiros, cogumelos nascidos do húmus amolecido. Um venenoso, osca, até dava asco. O saco sarapilheiro já cheio, esperando quem o cosa.
Logo as coas, acompanhando o vinho novo vai terminar num caos. Tradições de São Martinho!

Anagrama a s o c 

publicado no blogue: histórias em 77 palavras

Foto:Maça de junho

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mudam as marés e não mudam as saudades

Quando há laços de ternura
que se arrastam pelo areal em doces lembranças,
E na distância salgam a areia que fica mesmo quando a maré muda
são saudades
Que no novelo dos dias acontecem
E num fio que se estende pelas horas todas
enrola-se ao coração
no aconchego do tempo
Em que nos demos.

@Maça de junho
Foto:internet

domingo, 10 de novembro de 2013

Sou ilha

Sou ilha, 
o barco navega junto à margem
Partimos apenas com os ventos
Quando a noite se fizer madrugada

Porque há madrugadas
que acordam para te beijar.

Não deixes que se dissipe no ar
O calor que me deixaste esta noite.
Na memória ainda vagueiam delírios
da plumagem de uma ave no ninho

Porque nas nuvens adormecem
os sonhos mais lindos que guardo para te entregar.
@Maça de junho




quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Bacalhau

Adoramos pratos de bacalhau. Todos os pratos, de todos os feitios. Apenas uma condição: não pode estar salgado, coisa que é muito frequente em restaurantes.
E nos dias cinzentos surgem muitas formas de os colorir. As árvores ainda não amareleceram completamente, mas os dias que terminam cedo e a chuva que cai lá fora é já sintoma da estação outonal que vivemos em plenitude. As castanhas espreitam já dos ouriços abertos e chamam para uma sobremesa calórica. 
Até um prato simples enche de cor e de sorrisos um rosto que muito embora sereno, revela um olhar triste e sem sentido. A mentira dói mais que mil verdades e  todo o coração que ama sem limite nem imposições, sabe reconhecer, mesmo quando embrulhada em doces sentimentos. Para espairecer e fechar os olhos às amarguras que as nossas opções de vida acarretam, enquanto refugiada na cozinha ( da mãe) e ouvindo Ben Howard que através dos ouvidos consola a alma.
Além disso fim de semana, também é preciso consolar a mãe, cozinhando um prato do seu agrado e que possa sobrar para depois ela aquecer para a sua refeição de segunda feira, quando voltar a ficar sozinha.
E ela adora gratinados, principalmente de bacalhau. Assim foi num fim de semana triste, de fieis e de gente infiel a tudo o que são os princípios da lealdade. Mas um fim de semana de afetos, de mimo no estômago e de algumas picadelas nas mãos e no coração.
O bacalhau eis que ficou assim:

500 gr de bacalhau (3 postas demolhadas e desfiadas)
Batatas fritas em palitos grossos
Molho bechamel (usei do de compra)
Duas cebolas pequenas e dois dentes de alho
Azeite qb
 Queijo para gratinar a gosto 

Para decorar azeitonas ou pedacinhos de pimento vermelho (ambos)

Num tacho refoga-se a cebola e os alhos picados em azeite.  Adiciona-se o bacalhau demolhado e escorrido e deixa-se estufar um pouco. Juntei metade do bechámel e as batatas envolvendo tudo . Deixa-se ficar assim ao lume (muito brando) e tapado uns minutos.  Num tabuleiro que possa ir ao forno deita-se o preparado e por cima o queijo envolvido com o restante bechámel. Foi a gratinar com o forno a 180º até estar douradinho .
Garanto que é muito saboroso e muito rápido . E nós adoramos!

@Maça de junho


O bacalhau

E a música






terça-feira, 5 de novembro de 2013

Confissão

Contigo quero falar apenas de amor
Para ficar em silêncio
Enquanto me embrulho de ti

As palavras serão poemas
vestidas com o meu corpo
@Maçã de junho

foto:internet



domingo, 3 de novembro de 2013

Les amants

Chega amarrotada no silêncio do gesto tímido
A palavra que desvias do lençol
Para destapar os meus ombros nus

Eu leio nos teus lábios
Tudo o que a tua boca não me diz
Nem vem escrito na resposta que tarda

Depois do sol vem a noite
É escuro lá fora e no céu brilham as estrelas
Cá dentro o sorriso mantém-se à espera

Vestido de ternura, sem pressa
Dos dias em que entre nós acontece
Despir-nos de nós para sermos um.

@ Maçã de junho









sábado, 2 de novembro de 2013