Hoje Manuel António Pina completaria 70 anos. Repletos de dedicação às letras, à prosa e à poesia. Um jornalista que nasceu poeta. Descobri-o no Jornal de Notícias e depois a poesia e depois ainda o amor que tinha aos seus gatos. Tanta afinidade por um homem que nunca tive o prazer de conhecer pessoalmente. Fui eu quem ficou mais pobre, certamente.
Em 2006 nascia o meu filho e na visita à feira do livro não resisti em comprar para ele a nova edição do Têpluquê e outras histórias. Depois li-lhe o livro como se de uma história de embalar se tratasse e tratava. Hoje lembrei-me de vir fazer um post sobre um homem que me ajudou a encontrar o meu papel de mãe. Hoje sou a mãe que sou porque na minha vida se cruzou um poeta de nome Manuel António Pina.
Havia uma flor!
Nem eu sabia
onde é que a flor havia
mas tanto fazia.
Talvez houvesse
onde ninguém soubesse
ou fosse uma flor de estar a haver
só na minha imaginação,
ou não fosse uma flor, fosse uma canção.
Nem a flor sabia
que existia.
em qualquer sítio, sem saber, floria.
E se fosse uma canção cantava e não se ouvia.
E isso acontecia
no meu coração.
Não sei se era uma flor se uma melodia,
era qualquer coisa que havia,
e cantava e floria
dentro de mim sem razão.
ia pela rua e ninguém diria.
As pessoas passavam
e eu dizia:
"Bom dia!"
E ninguém suspeitava
o bom dia que fazia
em qualquer sítio
que dentro de mim havia!
Só eu sabia e sorria,
Levando-te pela mão.
Manuel António Pina
O TÊPLUQUÊ e outras histórias
Assirio & Alvim, edição de 2006
Foto: Maça de junho |
Sem comentários:
Enviar um comentário