quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Salamanca - Miguel Unamuno


(Porque há dias em que a alma recebe o dourado do sol de Castela)


Alto soto de torres que al ponerse
tras las encinas que el celaje esmaltan
dora a los rayos de su lumbre el padre
Sol de Castilla;

bosque de piedras que arrancó la historia
a las entrañas de la tierra madre,
remanso de quietud, yo te bendigo,
¡mi Salamanca!

Miras a un lado, allende el Tormes lento,
de las encinas el follaje pardo
cual el follaje de tu piedra, inmoble,
denso y perenne.

Y de otro lado, por la calva Armuña,
ondea el trigo, cual tu piedra, de oro,
y entre los surcos al morir la tarde
duerme el sosiego.

Duerme el sosiego, la esperanza duerme
de otras cosechas y otras dulces tardes,
las horas al correr sobre la tierra
dejan su rastro.

Al pie de tus sillares, Salamanca,
de las cosechas del pensar tranquilo
que año tras año maduró en tus aulas,
duerme el recuerdo.

Duerme el recuerdo, la esperanza duerme
y es tranquilo curso de tu vida
como el crecer de las encinas, lento,
lento y seguro.

De entre tus piedras seculares, tumba
de remembranzas del ayer glorioso,
de entre tus piedras recojió mi espíritu
fe, paz y fuerza.

En este patio que se cierra al mundo
y con ruinosa crestería borda
limpio celaje, al pie de la fachada
que de plateros

ostenta filigranas en la piedra,
en este austero patio, cuando cede
el vocerío estudiantil, susurra
voz de recuerdos.

En silencio fray Luis quédase solo
meditando de Job los infortunios,
o paladeando en oración los dulces
nombres de Cristo.

Nombres de paz y amor con que en la lucha
buscó conforte, y arrogante luego
a la brega volvióse amor cantando,
paz y reposo.

La apacibilidad de tu vivienda
gustó, andariego soñador, Cervantes,
la voluntad le enhechizaste y quiso
volver a verte.

Volver a verte en el reposo quieta,
soñar contigo el sueño de la vida,
soñar la vida que perdura siempre
sin morir nunca.

Sueño de no morir es el que infundes
a los que beben de tu dulce calma,
sueño de no morir ese que dicen
culto a la muerte.

En mi florezcan cual en ti, robustas,
en flor perduradora las entrañas
y en ellas talle con seguro toque
visión del pueblo.


Levántense cual torres clamorosas
mis pensamientos en robusta fábrica
y asiéntese en mi patria para siempre
la mi Quimera.

Pedernoso cual tú sea mi nombre
de los tiempos la roña resistiendo,
y por encima al tráfago del mundo
resuene limpio.
Pregona eternidad tu alma de piedra
y amor de vida en tu regazo arraiga,
amor de vida eterna, y a su sombra
amor de amores.

En tus callejas que del sol nos guardan
y son cual surcos de tu campo urbano,
en tus callejas duermen los amores
más fugitivos.

Amores que nacieron como nace
en los trigales amapola ardiente
para morir antes de la hoz, dejando
fruto de sueño.

El dejo amargo del Digesto hastioso
junto a las rejas se enjugaron muchos,
volviendo luego, corazón alegre,
a nuevo estudio.

De doctos labios recibieron ciencia
mas de otros labios palpitantes, frescos,
bebieron del Amor, fuente sin fondo,
sabiduría.

Luego en las tristes aulas del Estudio,
frías y oscuras, en sus duros bancos,
aquietaron sus pechos encendidosv en sed de vida.

Como en los troncos vivos de los árboles
de las aulas así en los muertos troncos
grabó el Amor por manos juveniles
su eterna empresa.

Sentencias no hallaréis del Triboniano,
del Peripato no veréis doctrina,
ni aforismos de Hipócrates sutiles,
jugo de libros.

Allí Teresa, Soledad, Mercedes,
Carmen, Olalla, Concha, Bianca o Pura,
nombres que fueron miel para los labios,
brasa en el pecho.

Así bajo los ojos la divisa del amor,
redentora del estudio,
y cuando el maestro calla, aquellos bancos
dicen amores.

Oh, Salamanca, entre tus piedras de oro
aprendieron a amar los estudiantes
mientras los campos que te ciñen daban
jugosos frutos.

Del corazón en las honduras guardo
tu alma robusta; cuando yo me muera
guarda, dorada Salamanca mía,
tú mi recuerdo.

Y cuando el sol al acostarse encienda
el oro secular que te recama,
con tu lenguaje, de lo eterno heraldo,
di tú que he sido.


Foto daqui da internet




terça-feira, 28 de agosto de 2012

Quando escrevo

Foto: Mafaldinha


Quando escrevo recupero a minha essência. Escrevo e passo a ser eu mesma, reconheço-me em cada frase e compreendo-me em cada silêncio. Aquela que em criança procurava lagartixas nos buracos das paredes e sabia sempre em qual pedra se escondia a salamandra multicolor que vivia junto à nora na leira das batatas. A que comia maças verdes do pomar do padre Avelino e amoras apanhadas nas silvas do caminho da moagem e uvas das vinhas dos vizinhos porque pareciam mais doces. Aquela que se refrescava na água do regadio e perseguia o seu curso até se perder por uma conduta enterrada na terra castanha do caminho. Aquela que sabia o nome dos pássaros e conhecia-lhes os ninhos, que não revelava a ninguém, nem sob ameaça de tortura. Aquela que admirava o virtuosismo de Madalena no romance de Julio Dinis e se revia na vida simples e bela do campo. Que não compreendia grande parte dos Novos Contos da Montanha, de Torga, mas de tantas e repetidas vezes os ler em voz alta, naquelas tardes de inverno, junto à lareira, na cozinha da avó e madrinha enquanto ela, fazia deslizar por entre os dedos o fio dos novelos de lã, transformando aquele emaranhado num quentinho casaco para o Natal ou em meias para o avô. De quando em vez a leitura era interrompida para perguntar o significado de "Judeu", "contrabandista", "penedias" ou  "prestidigitação" mas a resposta invariavelmente era a mesma, continua a ler, vá! À custa de tanta repetição,  na hora da sesta nas tardes de verão o mesmo ritual com a diferença de que o fio do novelo que agora corria por entre os dedos das mulheres era de algodão, dando origem a bonitos panos de renda e colchas trabalhadas, entranhei a curiosidade sobre o mundo Torguiano e a «grandeza das almas simples que se purificam no purgatório das chamas transmontanas» como preconiza o prefácio da 3ª edição. Escrevo e recupero a infância e de como era feliz e lembro o quanto sou feliz em recordar essa vida pequena de criança mas que me deu uma alma imensa e uma procura continuada de fidelidade à memória que é uma escola de vida.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Espuma

Foto: Mafaldinha


Olhando o céu azul
na distancia
que me separa das ondas
onde serpenteia a espuma branca dos dias
vislumbro sereias
e sonhos ensombram o dia
de que vale sonhar
se quando acordar
ninguém se lembrará de ti

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Praia

Foto:Mafaldinha


Fui à praia
não fiz castelos na areia
não guardei neles os sonhos
lavados na maré cheia

Vi o sol beijar
as ondas desfeitas
em espuma branca
o beijo que eu te dei,
salgado, ao luar
nessa varanda de areia

Apanhei pedrinhas
joguei com as ondas
escondi-me nas algas
num mar de sargaço
com janelas na areia 

Conchinhas me deram
na praia as deixei
os corais sorriram
em ti me perdi
caída na areia.

Voltei noutro sol
perdi-me no mar
salvou-me um peixinho
nas águas a remar.






segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Delicadeza




Gosto de cinema, de bons filmes, com boas histórias e actores de qualidade. Por isso terei o Woody Allen como um dos meus preferidos. Também gosto de cinema europeu, francês e italiano principalmente. Posso adiantar que este meu interesse não arrasta multidões, nem grandes companhias para o evento. Por norma vou sozinha, eu e o filme. Este também não fugiu à regra. Já nem me dou ao trabalho de formular convites. 
Hoje quando cheguei à sala designada achei que o filme iria ser só e apenas meu. E não é que estava exultante por ser assim? O filme ser exibido para a minha pessoa. Mas não uns quantos casais, alguns de meia idade e um ou outro mais próximo da minha apareceram para me retirar o prazer que eu antecipava. O prazer não conseguiram retirar nenhum, mas acabei com companhia na sala. Lá foi o meu momento de egocentrismo...
É uma história bonita, mas não é um filme de excelência, embora com sequências muito ricas e que dão muita expressividade ao filme, pena não terem conseguido dar até ao fim a mesma continuidade. Mas foi muito agradável assitir a um filme francês falado naquela língua doce e suave. A Audrey Tautou  tem alí muito bom trabalho.
Mas afinal de que versa o filme, ora cá está a parte mais interessante, a maneira de redescobrir o prazer de viver e de ser feliz. é um retrato dos relacionamentos humanos e dos  julgamentos e dos preconceitos da sociedade, mas também sobre a singularidade do amor. Para mim hoje bastou-me, um filme bonito num dia também ele bonito. O prazer está nas pequenas coisas na delicadeza dos gestos e no aproveitamento e ensinamento que retiramos.

domingo, 12 de agosto de 2012

Escolher


Os grandes homens existem em todos os continentes. Não são espécime único de uma só nação, nem de uma só cultura.
Não escolhas o conflito. Apenas deixa amargura e desilusão espalhados em redor. Escolhe os valores maiores, e oferece o melhor presente que podes encontrar. A verdade do teu carácter.
Para realizares os teus sonhos, segue a rosa-dos-ventos. Tudo é transitório e o vento dita a direcção em que o coração deve seguir. Enche-o de auto-estima e de auto-confiança. O melhor presente que podes distribuir é a ternura. Oferece-te a ti próprio, embrulhada num bonito papel de seda, de forma que nem os olhos vejam, mas o coração sinta.

foto:Mafaldinha

Amanhecer de novo

Sacode as nuvens que ensombram os teus olhos
e deixa o sol poisar no teu cabelo;
os fios dourados vão brilhar na luz do dia
e refletir o teu sonho
aquele que ainda não sonhaste

Na luz do novo amanhecer
não percas a esperança
ganha coragem, luta, procura
pois se ficares à espera
o que restar é nada!
e nada não deixa história

Olhando o mundo e dentro de nós
buscamos caminhos novos
desconhecidos
e descobrimos o novo eu

Todos merecemos que o brilho do sol
nos aqueça
em cada manhã que nasce.

foto:Mafaldinha


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ir de férias

Quando entrar de férias tenho malas para fazer. É um suplicio. Nunca sei o que levar, nunca levo o que preciso. Hesito entre um vestido e uma saia e depois ao optar pela saia esqueço da blusa. Depois escolho umas calças, mas esqueço que essas vão bem com a sandália tal, que no último minuto é preterida por umas sabrinas super confortáveis. E para a noite? E se fizer frio? Um agasalho mais grosso, mas se estiver mais quente? então terei que escolher um mais leve! Depois tento meter o Rossio na Betesga e tenho que esmagar a tralha e quebrar as unhas para atingir tal feito. O necessaire é outro problema, protetor solar e o pós solar e o creme de queimaduras, e o creme de mãos e aquele creme que a D. Margarida lá na farmácia disse que fazia milagres?! E o shampoo e o creme hidratante e o creme para pentear? Isto de cabelo seco como feno no estio é o que dá! E o verniz para o caso de me dar uma vontade muito grande de me armar em coquete, levo o vermelho ou o castanho? mas este ano usa-se muito o coral....Enfim fazer uma mala não é mais que sofrimento, indecisão e concentração tudo sentimentos desesperados de uma linda rapariga envolta nuns caracóis despenteados à beira de um ataque de nervos. Mas não fica apenas por aqui. Quando chego ao destino esqueci a mola para apanhar esses tais caracóis despenteados e irritantes mas que têm tanta ou mais personalidade que a sua dona. Depois foi o acessório, o tal que ia bem com o vestido esvoaçante, que ficou esquecido. Tudo se resolve, nada fica por ser feito, nem as férias ficam estragadas. Afinal o vestido serve o mesmo para quinze dias, é só lavar à noite e vestir de manhã, a sandália chique de salto à medida e tal, é substituída por uns chinelos super confortáveis daqueles que além de não serem caros, todos os anos aparecem modelo novos. Este ano já tenho uns, branquinhos, vindos diretamente de terras de Vera Cruz. O pior é a mamy que ao fim de três dias, olha para mim com um ar muito preocupado e diz: - mas filha não tens mais nada que vestir? Gosto desse vestido, mas hoje podias vestir uma saia com uma blusinha fresquinha! - 
Uma saia para ir comer sardinhas com broa feita do milho dos lameiros de Roalde, para cima de uma grande fraga granítica? Apenas preciso levar a minha boa disposição, os meus mimos culinários para partilhar e encontrar uma alma divertida que saiba histórias das serranias ao redor, ou que tenha um baú cheio de encantos, daqueles que não vem nos livros, nem se aprendem na legislação publicada. 
Mas os livros, as canetas, a máquina fotográfica, o filho e os seus brinquedos, a necessidade de pastar os olhos nos socalcos do Douro e nos verdes coloridos dos campo, esses eu não esqueço.
Alguém tem ideia do que preciso para ser feliz?


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Poesia

De olhos na lua
pedi um desejo ao vento
levou-me até Lisboa
qual amante em pensamento

Da luz do teu quarto
vi o mar espelhado
esperei por ti no Tejo
num amanhecer orvalhado

Acordei com um beijo
e viajei no tempo
perdi-me num abraço
eternizando o momento

Tricotei estrelas
contei pequenos nadas
dormi a sorrir
e vi nossas vidas sonhadas

domingo, 5 de agosto de 2012

Porto sentido










Fotos: Mafaldinha

Tarte de bacalhau e camarão

Cozinhar é um prazer. Ainda mais quando em volta da mesa se sentam pessoas queridas e bons garfos. Além da guarnição apetitosa e da conversa gostosa, adoro quando temperada com umas gramas de ternura e uma pitada de ironia. Hoje foi o caso!
O meu avô dizia muitas vezes, não é para comer também não é para trabalhar. 

Ingredientes
uma embalagem de massa quebrada (nos supermercados na zona de frios existe e é muito boa)
1 pacote de natas ou uma chávena de leite
3 ovos
1 cebola média cortada em rodelas
1 dente de alho
1 courgete pequena
100 gr de camarão descascado (hoje usei miolo de camarão)
100 gr de bacalhau desfiado
6 cogumelos cortados em lâminas finas
2 colheres de sopa de milho cozido
3 fatias de bacon em pedacinhos
salsa, coentros, oregãos, uma folha de manjericão picada, sal e pimenta
azeite virgem, duas colheres de sopa


Leva-se a saltear no azeite a cebola e o dente de alho picado e o bacon. Quando a cebola estiver transparente, junta-se a courgete cortada em rodelas finas e deixa-se cozer lentamente. Adiciona-se o bacalhau, o camarão, os cogumelos e o milho. Quando estiver cozido junta-se as ervas aromáticas, retifica-se o tempero e retira-se do lume.
Forra-se uma tarteira com a massa quebrada  e enche-se com o recheio do preparado. Cobre-se com os ovos batidos com as natas e sal e pimenta.
Levar a forno quente (180 Cº) durante cerca de 35 minutos, ou até a mistura estar firme e dourada.



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Picolé

Cansei
de falar,
explicar,
pedir,
solicitar.
Começar de novo.
Novo número
nova voz
nova solicitude
repito
dados
horas
objectos
factos.
Agora
sem voz
dou voz
a esta alma
singular
e plural
as lágrimas secaram
o silêncio incomoda
apenas tu me olhas
desse verde tão meigo
já passamos tantas noites juntas
tantas horas tristes.
Amanhã vou sorrir
e viver de novo.
agora
fica comigo
Picolé