domingo, 30 de novembro de 2014

País real e cruel

Viviam num pequeno país. Real e cruel: impostos, desemprego, vergonha, desespero. Serviço público dizia-se. E os princípios? Compromisso com os cidadãos, integridade, respeito, transparência… Bem, esses estavam lá, muito bem escritos, sob a forma legal e impressos em letra bonita e papel de qualidade. Mas não passam disso. Um rol de meras intenções, para alguém cumprir, que não pelos políticos, entenda-se. Lembram-se nos discursos para esquecer rapidamente depois de eleitos. Foram quase felizes, num sempre muito pequeno

Desafio publicado em: histórias em 77 palavras
Terminar o texto com a frase: Foram quase felizes, num sempre muito pequeno

Advent resources

@Maça de junho

sábado, 29 de novembro de 2014

Quadras a um amor ausente

Tenho a alma escura
Num eterno balouçar
Tu és um menino de bibe
Comigo sempre a brincar

O amor e a amizade
Guardados sempre em segredo
Encolhem-me o coração
Escondido, perdido de medo

Choro porque te quero
Choro porque te tenho
Choro porque a saudade
Cresceu e botou tamanho

Anda vamos correr
Brincar, amar outra vez
Balouçar a corda da vida
Ao alto como nos vês

Trago guardada na pele
O carinho a devoção
A tua voz me serena
Hoje e a todas as horas.

...
Serei tua bem amada!
@Maça de junho










terça-feira, 25 de novembro de 2014

Apenas se compreende se acreditarmos

Spe Deus: Discurso integral do Santo Padre no Parlamento Eur...: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Vice-Presidentes, Ilustres Eurodeputados, Pessoas que a vário título trabalhais neste hemicicl...


O meu país é de fragas

...O meu país é de fragas,
E de muitas coisas pardas
Onde as serras inquietas e altas 

Adormecem ao relento 
entre suspiros de agonia e sobressaltos de dor.

…O meu país é de fragas
De pedras salgadas pelas lágrimas
Que caem dos olhos cansados,
Desprezados, humilhados,
Sem uma côdea de pão nem uma nesga de mar.

…O meu país é de fragas,
Graníticas ou xistosas, de calcário ou argila
Duras, cinzentas, frias, 
como gélidos os tempos
Marcados pela implacável indecência dos homens.

…O meu país é de fragas,
De pedras rubras de sangue
De nobres e valentes liberais
Descendentes de homens normais
Dos quais a memória é história.

…O meu país é de fragas,
De pedras que brotam da rocha
Parideiras, desincrustadas dos núcleos
De céu azul e flores, que à beira mar flutua
Na maré que o embala se deixa adormecer.

…O meu país é de fragas,
E quando acorda encontra apenas nevoeiro cerrado
Deixado pelos medíocres que teimam em fazer-se passar
Por elegantes e populistas democratas.
Prefiro o meu país de fragas…

@Maça de junho



sábado, 22 de novembro de 2014

Fraude diz ela!

Viajar na luz, ver o azul do dia, o brilho que emana do luxo, na rima: riqueza dá beleza.
Adorno vulgar da prole, que a árvore gera em magna vida. Favorável e de favor, longa é a fila que gere.
Um dia, na malha da lei, o furor afundou. Nem lua, nem luar no morno guindar da ilharga. 
Largar o avião e aguardar no inferno, a moral do reino. É alvorada e frio lá fora. Que mau!

História em 77 palavras sem usar as letras C P S T

@Maça de junho

Foto: Maçã de junho

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Foto

Hoje não me viste sorrir. Sorrir é quando a alegria acorda comigo. E hoje ela não acordou, nem tu. Apenas as horas se foram arrastando e quando o dia caiu por fim, ela continuava fora de mim. Talvez seja passageiro. Ou não, pensarás tu. Eu já não penso. Apenas deixo os  dias acordar depois da noite e deixar que adormeçam no escuro que cai lá fora. Aqui. Aqui é sempre escuro.

@Maça de junho

domingo, 16 de novembro de 2014

Palavras são 77



Agora já é possivel ouvir aqui diariamente um desafio lido pela Margarida da Fonseca Santos, para a Rádio SIM.
Há dons que emergem de cada um  e persistem em fazer felizes aqueles que os rodeiam. São os talentos a frutificar.
Bem haja Margarida pelo dom que tem de despertar em cada um dos ouvintes, em cada um dos seus leitores, em cada livro que escreve, ou em cada momento que partilha com as 77 palavras


http://www.youtube.com/watch?v=wsVSqBQQWt0&list=UUryBCw8ybWYebvYzZEr_QHQ


internet

sábado, 15 de novembro de 2014

Palavras e pássaros

Penso não me estar a enganar, mas este terá sido um dos últimos poemas escritos por Manoel de Barros, o poeta que gostava de pássaros e de borboletas, que brincava na rua como um menino, que corria atrás das nuvens e que dizia que as palavras iam ao seu encontro. 
Também eu gosto de encontrar palavras para depois completar o puzzle do meu contentamento ou da minha infelicidade. Não sei o que é inspiração, mas sempre que uma palavra me fica a residir na cabeça, quando adormeço e acordo e a ideia da palavra se mantém, é porque quer ser trabalhada, é porque há um sentido nela que ainda não foi descoberto.
E há tantas formas de sentir. Hoje deixo a palavra ao Manoel de Barros, cujas palavras tanto me embalaram ao longo dos anos em que o conheci, pelas palavras:


"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas." Manoel de Barros



@Maça de junho
https://www.facebook.com/PhotoPedroCarvalho?fref=photo

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O coração de Manoel de Barros parou, mas a poesia não.

O Coração de Manoel de Barros, parou

Não existe a morte para alguém como Manoel de Barros. Não cabe bem, até por sinal de respeito. O poeta nunca gostou que colocassem data na existência. Então, o dia é de mais uma daquelas inutilezas que a vida inventa e que ele por tantas vezes substantivou.
Manoel em casa, ainda em tempos de vitalidade. (Foto de Marcelo Buainain)
Veja Mais
O coração parou por volta das 8h desta quinta-feira, no Proncor, depois de 6 meses em estado de ruína, como ele mesmo definia os efeitos dos 97 anos de idade, quase 98, que seriam comemorados no dia 19 de dezembro. O velório será no Parque das Primaveras, mas ainda não há horário definido.
"Nesses últimos dias, não reconhecia mais ninguém", diz o irmão Abílio Leite de Barros, de 85 anos. Mas a debilidade veio de forma lenta, lembra ele. "Não foi doença, foi a velhice que se agravou nos últimos 6 meses. Acabou com a falência múltipla de órgãos", detalha.
No dia 24 de outubro, Manoel foi internado para cirurgia de desobstrução intestinal. Depois, permaneceu na UTI, já sem reconhecer os parentes.
Para a família, é uma despedida preparada desde que o próprio Manoel manifestou a vontade de morrer. "Ele já não era mais capaz de ler e escrever e me disse que depois disso não valia mais a pena viver", conta Abílio.
Os últimos meses foram em uma cama ou na cadeira de rodas, em casa, se alimentando por sonda, auxiliado por 4 enfermeiros, sem lápis ou leitura, sem falar ou andar. Ironicamente, por fim ficou como vegetal.
Manoel sofreu pelas doenças do corpo e da alma, desbotada pela perda dos dois filhos homens. Pedro morreu em 2013. Antes, João Wenceslau de Barros partiu, em decorrência de um acidente aéreo em 2007. Nunca mais o poeta teve muitas vontades.
"Manoel não termina nunca. A sua vida tornou-se a Vida, transferiu-se para a palavra encantada que ele criou, para esse 'errar bonito' que os seus versos sugerem", resume de maneira simples o moçambicano Mia Couto, ao se despedir do poeta.
O escritor se dedica aos contos, é considerado um dos maiores da língua portuguesa e tem, dentre tantos reconhecimentos, o Prêmio Camões de Literatura. O que ele escreve, por muitas vezes é comparado à simplicidade de Manoel. A relação com os últimos dias do poeta aparece em frases curtas, impressas na literatura de Mia. "Dói-me a vida, doutor", diz trecho do livro "O menino que escrevia versos".
Foto de Marcelo Buainain, um vizinho que hoje fotografa o mundo.Foto de Marcelo Buainain, um vizinho que hoje fotografa o mundo.
Apesar de toda a tristeza diante da notícia (sem a graça das invencionices), é bom lembrar que Manoel sabia que o tempo só anda de ida e que, esperto, amarrou o dito cujo no poste para jamais ser esquecido.
Outra sorte é que, antes de partir, nos mostrou o que está sob a pedra. Despertou emoções sobre o bruto. Levantou o que todo mundo chuta para chamar atenção ao sentimento e sugerir paciência de lesma ao olhar apressado. Vegetalizou as pessoas, com simplicidade profunda, como os amigos costumam definir.
Número 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Manoel nasceu em Cuiabá (MT), no Beco da Marinha, na beira do rio, mas veio criança para estas bandas e é nosso sul-mato-grossense de fato, morador ilustre da Rua Piratininga, no Jardim dos Estados.
Aqui, tirou o homem do centro das atenções para falar de sapos, formigas, cobras e gotas d'água. "Poderoso não é quem descobre ouro, mas quem descobre as insignificâncias". Falando assim, seguiu uma vida toda, dando lições de humildade. Admirava Charlie Chaplin, por exemplo, por ele ter “monumentado" o vagabundo.
Conversava, pessoalmente ou por telefone, com quem o chamasse para uma prosa. Uma rotina que terminou há cerca de 1 ano, quando o contato ficou restrito à família e aos enfermeiros, por conta do estado de saúde de Manoel que o trancava em casa. Nem sequer um autógrafo mais conseguia desenhar.
A amiga Glorinha Sá Rosa há muito não via Manoel, mas a morte trouxe lembranças de um sujeito surpreendente. “Ele era muito tímido. Chegou a vomitar certa vez, antes de uma palestra em Cuiabá, e desistiu de falar naquele dia”.
Outra passagem é cheia de significados sobre o ser Manoel e envolve um ídolo do poeta. “Ele conseguiu marcar uma conversa com o Manuel Bandeira, poeta que ele amava. Na data combinada, foi até o endereço, apertou a campainha, mas diz que ouviu os passos do Manuel Bandeira rumo à porta, ficou com tanto medo que saiu correndo. Por isso, os dois nunca se encontraram”, conta Glorinha.
Arrumou vários empregos, inclusive, de corretor de imóveis, mas achava chato. Permaneceu por 10 anos no Pantanal à toa e ali começou a armazenar poesia na memória. Mas as obras que o levaram ao reconhecimento só vieram mesmo depois dos 60 anos, já com morada em Campo Grande.
Preferia ser poeta a ser jornalista ou advogado. Porque “quem descreve não é dono do assunto, quem inventa é”. E, afinal, “as invenções servem pra aumentar o mundo.”
Era vaidoso, adorava os elogios, principalmente, os das mulheres. Brincava, com bom-humor sincero, sobre a desilusão de só ficar famoso depois de velho, quando Millôr Fernandes escreveu sobre um poeta “de verdade” que o Brasil desconhecia. Logo em seguida, a revista “El Paseante” publicou na Espanha a primeira matéria destacando a poesia dele e o que era natural diante de tamanha originalidade aconteceu, o sucesso.
No trajeto, Manoel teve como um dos maiores trunfos a esposa e conselheira Stella, 5 anos mais nova. Uma senhorinha que ainda anda de Fusca e chegou a brigar certa vez com o marido por conta de uma poesia que julgou desrespeitosa por falar do sexo de Nossa Senhora Aparecida.
Os dois se conheceram no Rio de Janeiro, quando o corretor Manoel de Barros tentava vender uma apartamento para Stella. "O casamento me salvou. Há muito não me interessava por nenhum homem", dizia a esposa.
Virou o autor que mais vendeu poesias no País. Ganhou fãs apaixonados, que ao publicar de uma reportagem sobre o velho Maneu respondiam à repórter com dezenas de comentários e pedidos para encontros e autógrafos da nossa mais querida celebridade. "Isso satisfaz mais do que critico, mestrado ou doutorado", comemorava.
Quando ficou “famoso” passou a despertar na imprensa especializada o interesse por entrevistas e então criou, bem sem querer, a aversão à máquina, a tudo que não dialoga, como um gravador ou um microfone. Nunca trocou a máquina de escrever pelo computador, e correspondência, na visão dele, só vingava como carta, entregue pelo carteiro.
O jornalista Bosco Martins há muito começou a se despedir do amigo. Era ele o responsável por alguns “boletins médicos” relativos ao poeta. Com o passar dos dias e a fragilidade cada vez mais evidente, passou a dar conselhos aos fãs: “devemos nos acostumar ao ser letral”.
E nesse aspecto, muito está por vir. Manoel não deixou ninguém órfão. A obra dele agora será editada pela Alfaguara, que planeja homenagens ao poeta em 2015 e, de tabela, um alento aos fãs.
Antes de partir, teve a oportunidade de deixar como despedida o orgulho de ser lido, amado e lembrado graças à poesia. "O ser biológico é sujeito à variação do tempo, o poeta não", ensinou Manoel.
"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos..."
http://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/o-coracao-de-manoel-de-barros-parou-depois-de-meses-sem-vontade-de-viver

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estado

Falta uma vitamina
ao cérebro e ao sangue
as hemácias desaparecem
E o factor intrínseco não existe
As células são destruídas
Que corpo é este
Que nem assim resiste
Apenas assiste a mais uma bateria de exames
O teste de shilling e a ldh sérica
E mais tratamento e mais vitamina
E nervos à flor da pele e pouca alegria
Para quê mais se nem o país vive a euforia.

Ah! pudera eu contar os reticulócitos e obrigar a absorção vitamínica
E a anemia não seria a perniciosa
Ficaria imune,
Seria apenas a minha.
Agora, agora vamos à intramuscular que é 12
Suprir a carência nesta veia latejante
Onde ninguém vê
Apenas sente.

@Maça de junho

"O Essencial é Invisível aos Olhos"
— Antoine de Saint-Exupéry






quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Medo

Entro no labirinto do medo,
Esse lugar
Onde a ansiedade já se encontra instalada.
Agora é sempre a descer
Em direcção ao negro no centro de mim
Esse lado lúgubre e tenso, angustiado e triste.
Não sei quanto tempo vai ficar
Mas sei o quanto vai doer
Porquê, porquê...
Se nem no desejo me sei perder.

@Maça de junho



Foto: Maça de junho
Por do sol no Douro





terça-feira, 11 de novembro de 2014

Governar - nada mais fácil, nada mais difícil

Nada mais fácil? Essa é boa, pensa ela com os seus botões...
Mais fácil mesmo é sair asneira.
Para quê incumbir tarefas a quem não é responsável, continua ela a rezingar
Por isso deu no que deu, e o país está como está...
Nem responsabilidade, nem princípios éticos ou morais, gestão competente, nada.
Apenas trapalhadas, falta de respeito e de capacidade política 
Contam os votos e depois deles contados seguem-se os costumes…

Governar Portugal, nada mais difícil!

publicado no blogue histórias em 77 palavras: http://www.77palavras.blogspot.pt/

@Maça de junho


Goya. El pelele. Car­tão para tape­ça­ria. 267x160. Museo del Prado. Madrid

S. Martinho não é apenas castanhas e vinho

A Igreja recorda a 11 de novembro São Martinho, Bispo de Tours, um dos santos mais célebres e venerados da Europa.
Tendo nascido numa família pagã na Panónia, atual Hungria, por volta de 316, foi orientado pelo pai para a carreira militar. Ainda adolescente, Martinho encontrou o Cristianismo e, superando muitas dificuldades, inscreveu-se entre os catecúmenos para se preparar para o Batismo. Recebeu o sacramento por volta dos vinte anos, mas teve que permanecer ainda por muito tempo no exército, onde deu testemunho do seu novo género de vida: respeitador e compreensivo para com todos, tratava o seu criado como um irmão, e evitava as diversões vulgares.
Depois de se despedir do serviço militar, foi a Poitiers, na França, encontrando-se com o santo Bispo Hilário. Por ele ordenado diácono e presbítero, escolheu a vida monástica e deu origem, com alguns discípulos, ao mais antigo mosteiro conhecido na Europa, em Ligugé. Cerca de dez anos mais tarde, os cristãos de Tours, tendo ficado sem pastor, aclamaram-no seu bispo. Desde então Martinho dedicou-se com zelo fervoroso à evangelização no campo e à formação do clero.
Mesmo sendo-lhe atribuídos muitos milagres, São Martinho é famoso sobretudo por um ato de caridade fraterna. Quando era ainda jovem soldado, encontrou na estrada um pobre entorpecido e trémulo de frio. Pegou no seu manto e, cortando-o em dois com a espada, deu metade àquele homem. Nessa noite apareceu-lhe Jesus em sonho, sorridente, envolvido naquele mesmo manto.
O gesto caritativo de São Martinho inscreve-se na mesma lógica que levou Jesus a multiplicar os pães para as multidões famintas, mas sobretudo a deixar-se a si mesmo como alimento para a humanidade na Eucaristia, sinal supremo do amor de Deus (...) É a lógica da partilha, com a qual se expressa de modo autêntico o amor ao próximo.
Ajude-nos São Martinho a compreender que só através de um compromisso comum de partilha, é possível responder ao grande desafio do nosso tempo: isto é, de construir um mundo de paz e de justiça, no qual cada homem possa viver com dignidade. Isto pode acontecer se prevalecer um modelo mundial de autêntica solidariedade, capaz de garantir a todos os habitantes do planeta o alimento, as curas médicas necessárias, mas também o trabalho e os recursos energéticos, assim como os bens culturais, o saber científico e tecnológico.

Bento XVI
Publicado em 10.11.2014 Pastoral cultural


La inconmensurable Toccata Y Fuga - JS Bach
@Maça de junho

domingo, 9 de novembro de 2014

Outonos dentro de nós

Nós não somos sempre nós. Por vezes somos o outro, como dizia Rimbaud. Somos o outro quando para além da unidade conhecida de nós próprios, nos desdobramos em diversas personagens que vão dando conta das solicitações e projectos, que nos apelam no caminhar pela vida fora. Também é uma forma de nos enriquecermos, quantas vezes apenas no nosso interior. Mas são essas as vezes, em que saímos mais enriquecidos, nos sentidos e na unidade como pessoa humana que somos.
Vem tudo isto a propósito do pouco tempo que venho tendo para mim. Os horários e as solicitações laborais e familiares ocupam uma parte substancial do tempo útil. Mas a estas acresce a dedicação ao voluntariado, tanto ou mais enriquecedora e preciosa para a complementaridade do ser humano, pela intensidade, pela esperança que se coloca em cada acto, que por vezes se reveste de autênticos momentos de fé. Depois há aqueles momentos únicos, de interiorização e contemplação, quando me fecho na cozinha a inventar sabores e a zelar para que os aromas preencham os momentos fulcrais de cada um. 
E como gosto de fazer compotas. De ver no processo de cozedura o açucar modelar e dar intensidade a cada um dos frutos que vai entranhando. É como a vida, que aos poucos nos vai modelando e dando ora mais doçura ora mais amargura. Gosto do aroma da canela, e do limão, mas também do cardamomo e da erva doce. Gosto de ir perscrutando os pontos, por vezes acompanhando um cálice de porto, outras uma chávena de chá fumegante.
Mas hoje deixo apenas fotos da felicidade que é passar umas horas a misturar sabores e aromas, a esperar o ponto preciso para cada doce poder inebriar todos aqueles que terão o privilégio de saborear as minhas compotas.

A marmelada



 


O doce de abóbora






No souto além de castanhas havia lindos e venenosos cogumelos




@Maça de junho
Demoras
No entardecer que cai
entre o despir das folhas
quando já tudo está findo.

@Maçã de junho


sábado, 8 de novembro de 2014

Fragata do Tejo

Ao longe no horizonte
Pairam nuvens de ilusão
A branca neblina que esconde o fulgor das ondas
A imensidão do mar.
Por entre águas revoltas e traiçoeiras
Vai sulcando a frágil fragata
Contra almirantes e naus em linha,
Capitão no seu posto, corsário cioso da lei
atento na grei e à manipulação sem freio,
Entre a linha de água, ágil, a couraça apertada
Ora entre margens de areia ou no porto de abrigo
De vela enfunada, ímpar na proeza, ao largo
no Tejo aportou uma fragata
Pensa e conhece a dúvida, o cais da vida e as muralhas que a cercam,
Pousa o olhar cristalino e ao ver Lisboa estremece.
@Maça de junho


quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Poesia

6 de Novembro de 1919 nascia Sophia:

«Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite. 
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quási palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava extase e pânico...»

Sophia e Torga são para mim Poetas maiores, os quais nunca poderei esquecer. Hoje venho mais uma vez lembrar que também entre eles houve afinidade poética, amizade de escritores, respeito de seres humanos. 

Sophia de Mello Breyner Andresen 
dirige-se a Torga:
«Senti sempre que a sua mãe tinha um grande lugar 
em sua vida. Conheci-a através de si, através dos seus versos e dos 
seus livros». O próprio nascimento da filha é igualmente saudado 
pela autora de Dual, no registo que é o absoluto e verdadeiro modo 
de viver a poesia, como sempre aconteceu nessa relação 
privilegiada entre os dois poetas. Sophia concretiza os parabéns
dentro dos versos oferecidos: «Mil e mil parabéns pelo nascimento
da Clara. Já sei que ela se parece com a Andrée e que se chama
Clara porque é clara.// Por isso, plagiando um pouco o Goethe,
mando-lhes estes versos:// Da minha mãe herdei a claridade e a
calma/ Do meu pai herdei a Terra negra, o vento azul e o mar
furioso» in Veredas - Santiago de Compostela (2009)


@Maça de junho


domingo, 2 de novembro de 2014

Henrique Medina


A beleza feminina é um tema inesgotável, e uma fonte de inspiração desde o tempo de Adão e Eva, para toda a espécie de arte, desde poetas e pintores a músicos. A mulher é talvez o ser humano mais estudado, mais pesquisado. Os seus hábitos, os seus desejos, as suas personalidades, qualidades, o corpo, a constituição física, o seu ADN, enfim, tudo. Não obstante é um ser enigmático, belo em toda a sua plenitude, na maior parte das vezes muito inteligente, e muitas vezes muito cruel, basta relembrar a história de Messalina. Mas também surge como o sexo fraco,  história é fértil nos relatos das suas fraquezas e debilidades. Não obstante é fonte de desejo, de proteção, e muitas vezes sub-estimada na sua capacidade infinita de se dar. A mulher é um ser único em toda a sua complexidade. A sua beleza será eternamente cantada e ou pintada. Henrique Medina, não fugiu à regra e pintou alguns dos seus mais belos quadros, numa homenagem feminina.

@Maça de junho




Pintor retratista português. Nasceu no Porto em 1901. Faleceu em 1988.
A música é do pianista de jazz Bill Evans.

http://youtu.be/qq12E03xyCA



As paixões são os ventos que enfunam as velas dos barcos, elas fazem-nos naufragar, por vezes, mas sem elas, eles não poderiam singrar." 
Voltaire