sábado, 15 de novembro de 2014

Palavras e pássaros

Penso não me estar a enganar, mas este terá sido um dos últimos poemas escritos por Manoel de Barros, o poeta que gostava de pássaros e de borboletas, que brincava na rua como um menino, que corria atrás das nuvens e que dizia que as palavras iam ao seu encontro. 
Também eu gosto de encontrar palavras para depois completar o puzzle do meu contentamento ou da minha infelicidade. Não sei o que é inspiração, mas sempre que uma palavra me fica a residir na cabeça, quando adormeço e acordo e a ideia da palavra se mantém, é porque quer ser trabalhada, é porque há um sentido nela que ainda não foi descoberto.
E há tantas formas de sentir. Hoje deixo a palavra ao Manoel de Barros, cujas palavras tanto me embalaram ao longo dos anos em que o conheci, pelas palavras:


"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas." Manoel de Barros



@Maça de junho
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