Nós não somos sempre nós. Por vezes somos o outro, como dizia Rimbaud. Somos o outro quando para além da unidade conhecida de nós próprios, nos desdobramos em diversas personagens que vão dando conta das solicitações e projectos, que nos apelam no caminhar pela vida fora. Também é uma forma de nos enriquecermos, quantas vezes apenas no nosso interior. Mas são essas as vezes, em que saímos mais enriquecidos, nos sentidos e na unidade como pessoa humana que somos.
Vem tudo isto a propósito do pouco tempo que venho tendo para mim. Os horários e as solicitações laborais e familiares ocupam uma parte substancial do tempo útil. Mas a estas acresce a dedicação ao voluntariado, tanto ou mais enriquecedora e preciosa para a complementaridade do ser humano, pela intensidade, pela esperança que se coloca em cada acto, que por vezes se reveste de autênticos momentos de fé. Depois há aqueles momentos únicos, de interiorização e contemplação, quando me fecho na cozinha a inventar sabores e a zelar para que os aromas preencham os momentos fulcrais de cada um.
E como gosto de fazer compotas. De ver no processo de cozedura o açucar modelar e dar intensidade a cada um dos frutos que vai entranhando. É como a vida, que aos poucos nos vai modelando e dando ora mais doçura ora mais amargura. Gosto do aroma da canela, e do limão, mas também do cardamomo e da erva doce. Gosto de ir perscrutando os pontos, por vezes acompanhando um cálice de porto, outras uma chávena de chá fumegante.
Mas hoje deixo apenas fotos da felicidade que é passar umas horas a misturar sabores e aromas, a esperar o ponto preciso para cada doce poder inebriar todos aqueles que terão o privilégio de saborear as minhas compotas.
A marmelada
No souto além de castanhas havia lindos e venenosos cogumelos
@Maça de junho
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