segunda-feira, 7 de abril de 2014

Adeus

Nem sempre o sol nasce ao amanhecer, nem sempre o sol é quente e brilhante, nem sempre os dias são iluminados pelo seu brilho. Nestes dias a poesia do Eugénio diz tudo aquilo que o coração guarda. Tudo aquilo que na alma entorpece. Tudo o que os dias não trazem de volta:
Não te deixes envelhecer, pois apenas envelhece quem perde a capacidade de se apaixonar, e nem sempre dizer adeus, significa partir:


«ADIEU-  Eugénio de Andrade 

Nous avons usé les mots dans la rue, mon amour,
et ce qu'il en reste ne suffit pas
à éloigner le froid de quatre murs.
Nous avons tout usé sauf le silence.
Nous avons usé nos yeux du sel de nos larmes,
nous avons usé nos mains à force de les serrer,
nous avons usé les horloges et les pavés des coins de rues
en des attentes inutiles.

Je mets les mains dans mes poches
et je n'y trouve rien.
Auparavant, nous avions tant à donner l'un à l'autre !
C'était comme si toutes les choses m'appartenaient :
plus je te donnais, plus j'avais à te donner.

Parfois, tu disais : tes yeux sont des poissons verts !
Et j'y croyais.
J'y croyais,
parce que, à tes côtés
tout était possible.
Mais c'était au temps des secrets.
C'était au temps où ton corps était un aquarium.
C'était au temps où mes yeux
étaient des poissons verts.
Aujourd'hui, ce ne sont que mes yeux.
C'est bien peu, mais c'est vrai,
des yeux comme tous les autres.

Nous avons usé les mots.
Maintenant, lorsque je dis : mon amour...,
il ne se passe absolument plus rien.
Et pourtant, avant les mots usés,
je suis sûr
que toutes les choses tressaillaient
rien que de murmurer ton nom
dans le silence de mon coeur.

Nous n'avons plus rien à donner.
En toi
plus rien n'a soif de moi.
Le passé est aussi inutile qu'une guenille.
Et je te l'ai déjà dit : les mots sont usés


Adieu.»                                                                                      Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, 

e o que nos ficou não chega 
para afastar o frio de quatro paredes. 
Gastámos tudo menos o silêncio. 
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, 
gastámos as mão à força de as apertarmos, 
gastámos o relógio e as pedras das esquinas 
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras 
e não encontro nada. 
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! 
Era como se todas as coisas fossem minhas: 
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! 
e eu acreditava. 
Acreditava, 
porque ao teu lado 
todas as coisas eram possíveis. 
Mas isso era no tempo dos segredos, 
no tempo em que o teu corpo era um aquário, 
no tempo em que os meus olhos 
eram peixes verdes. 
Hoje são apenas os meus olhos. 
É pouco, mas é verdade, 
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras. 
Quando agora digo: meu amor..., 
já se não passa absolutamente nada. 
E no entanto, antes das palavras gastas, 
tenho a certeza 
de que todas as coisas estremeciam 
só de murmurar o teu nome 
no silêncio do meu coração. 
Não temos já nada para dar. 
Dentro de ti 
não há nada que me peça água. 
O passado é inútil como um trapo. 
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


http://www.youtube.com/watch?v=AXlrg70z1Kc


«some people make things happen, while others wonder what happened»


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