domingo, 30 de outubro de 2016

A esperta no baile

Tão estúpida que se esqueceu do casaco escuro para combinar com o vestido claro. Tem a mania que é esperta e não há meio de mexer- se. 
Mexe-te mulher, senão perdes o metro, claro. O guarda-chuva vai, o céu está tão escuro...
Até pareço adivinha do tempo, tão esperta, me saio!
Sou é prevenida, claro!
Prevenida, esperta, estúpida, tudo um pouco como qualquer ser humano.
No baile mexer-se-à, nada de escurecer a vista, perante ano cheio estupidez dos outros.

Desafio 112 - www.historiasem77palavras.blogspot.pt
Palavras obrigatórias no texto repetidas 3 x:
Claro
Escuro
Estúpido
Mexer
Esperto

São aceites variações nas palavras.

O homem que já não sou

"O homem que já não sou

não me olhes agora que estou
mais velho e não correspondo em
nada ao homem que
amaste, procura encarar a tristeza
sem me incluíres, seria demasiado
cruel que me usasses para a
dor. para ti
quis trazer as coisas mais belas
e em tudo o que fiz pus o
cuidado meticuloso de quem
ama. não me obrigues a cortar os
pulsos quando fores num minuto ao
jardim com o cão

esta noite, sem notares, sustive a
respiração e quase morri. não deste
por nada. julgaste que voltei a
ressonar e até terás esboçado um
sorriso. e se eu pudesse morrer
enquanto sorris, pergunto

deixo para depois, ou talvez
desista. mas não pode ser se
tu me olhares em busca de tudo o que
já não existe. não pode ser, levo a
faca maior para debaixo do meu
travesseiro, juro-te que me
mato se continuares assim "

valter hugo mãe, in contabilidade

https://m.youtube.com/watch?v=Ti4DCY6Bop0

sábado, 22 de outubro de 2016

Ressurreição

Porque a forma das coisas lhe fugia,

O poeta deitou-se e teve sono.

Mais nenhuma ilusão apetecia,

Mais nenhum coração era seu dono.

 

Cada fruto maduro apodrecia;

Cada ninho morria de abandono;

Nada lutava e nada resistia,

Porque na cor de tudo havia outono.

 

Só a razão da vida via mais:

Terra, sementes, caules, animais

Descansavam apenas um momento.

 

E o vencido poeta despertou

Vivo como a certeza dum rebento

Na seiva do poema que sonhou.

Miguel Torga, Libertação

 

Saudade

Saudade — O que será... não sei... procurei sabê-lo
em dicionários antigos e poeirentos
e noutros livros onde não achei o sentido
desta doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que azuis são as montanhas como ela,
que nela se obscurecem os amores longínquos,
e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu segredo se evade, sua doçura me obceca
como uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre longe — tão longe! — de minhas redes tranquilas.

Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
desta palavra branca que se evade como um peixe?
Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...

Pablo Neruda
In Crepusculário

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Diálogo

Ora bem, cose a soca, sapateiro remendão.
—Agora escreves ditados populares?
Olá! Não! Tenho asco aos ditados, cheios de erros, emendas e trapalhices. Escrevo cartas. Umas letras vãs...
—Ah! Cola no selo e depois de seco, marco do correio com elas!
—Não. São para guardar num laço. Memórias de outros tempos. São vidas...
Ecos do passado, então?!
—Lá vens tu com a mania de meter tudo no mesmo saco! São os desafios que lês em 77 palavras.

Desafio RS 42
Com a palavra escola, construir outras palavras.
(Cose, soca, cola, lês, olá, seco, selo, saco, asco, laço, ecos)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Cada problema uma solução


Para cada problema há sempre uma solução, quando não, várias! Mas para o dia de hoje um refúgio, isolado, no meio da natureza, teria evitado que a decisão lhe caísse com a força de um martelo. Pensava assim durante a viagem de Espinho ao Porto. Dando voltas ao texto que o computador teimara em lhe esconder e fazendo deste assunto, um tratado. Olhou pela janela e do jardim desmembrado viu uma rosa linda, parecendo que lhe sorria...

Desafio 110 - 8 palavras obrigatórias
Rosa, desmembrado, espinho, martelo, refúgio, solução, problema.

77 palavras.blogspot. pt

No teatro


—O pó vai voar pelas ameias. Se não tira teias... Tanto limpou. Tantas aranhas! 
Eram cinco homens puxando carroças, velharias. Afinal teatros, declamar histórias!
—És uma bela atriz. Faz dela vidas, palcos, ovações.
Como sabes, sempre pisaram estrados tiranetes,  caminharam simultâneas tempestuosas infelicidades.
—Há voz doce. Há voz alta. Há voz pela calma. 
—Deixa poeira acalmar.
—Não pede palmas. Não quer 
Quer viver sempre teatral.
—para poder morrer bastava declamar.
—por hoje fecha. Amanhã ensaias.
—és boa moça!

Publicado em 77palavras.blogspot. pt

Desafio com palavras de numero de letras crescente em cada frase.

domingo, 9 de outubro de 2016

Pensamento

Li esta frase numa assinatura de mail:

"Disappointment to a noble soul is what cold water is to burning metal; it strengthens, tempers, intensifies, but never destroys it"

sábado, 8 de outubro de 2016

Um poema

Coimbra, 7 de Outubro de 1979.

UM POEMA

Não tenhas medo, ouve:
É um poema.
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...

Miguel Torga  - Diário XIII

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Já sou crescido

10 anos. Vou mudar de escola. Um novo ano. Tudo desconhecido. Um grande desafio. 11 disciplinas. Outros tantos professores. Uma mochila carregada de livros novos, cadernos de vários formatos, estojos de lápis, réguas, esquadros. Um horário complexo, entrada muito cedo e saidas ao fim do dia.
Tudo para sofrer um grande desgosto. Mas não. Estou a adorar. É uma escola de meninos grandes. Uma escola imensa, de corredores compridos e dezenas de portas.
Já me sinto crescido!

Escritiva 12 - historia sobre a escola em 77 palavras

www.77palavras.blogspot.pt

Adolescente tipo

—Boa noite, linha 111, atendimento permanente a mães analfabetas, de adolescentes modernos:
—Boa noite, preciso de ajuda para compreensão do dia do meu filho. À minha pergunta: " como te correu o dia", respondeu:

—Ya, foi fixe! No autocarro peguei cola na fila com o Manu. Quando chegamos à escola, a malta já tava a dar estrilho e não sei quê. Mas tá-se. Ao fim do dia fiquei mais um coche, a ver umas cenas, tipo, sabes como.

Desafio 111 - uma história em 77 palavras que identifique a linha 111 como apoio ao tema da história.

www.históriasem77palavras.blogspot.pt