segunda-feira, 28 de julho de 2014

Há um museu escondido e uma muralha exposta no Largo de S. Julião

Foto: Cidadania LX  -internet
No subsolo da Igreja de S. Julião há um museu muito interessante a merecer uma visita. A Igreja de S. Julião é parte integrante do edifício do Banco de Portugal, em Lisboa, no Largo que tomou a mesma toponímia da Igreja. Foi vendida ao BdP em 1933, para nela serem instalados diversos serviços. Com a verba do negócio foi construída a Igreja de Nª Senhora de Fátima, nas Avenidas Novas, tendo sido também para lá transferido grande parte do espólio, de entre o que constam documentos de importância vital para o conhecimento da história social e económica da cidade durante a idade média.
Parte ficou destruída pelo terramoto. Pela reconstrução tomou o traço Pombalino que hoje se lhe conhece. Existe no museu um filme que vai passando e que retrata as várias datas e "vidas" que a Igreja preconizou ao longo da história. O banco foi utilizando o edifício para serviços diversos, entre eles o parque de estacionamento, onde agora se abre a nave principal do templo, um espaço polivalente que serve ainda para concertos, palestras ou exposições temporárias, amplo, luminoso e muito asseado. Pode ver-se também o que resta do antigo altar-mor, onde antes já foram as caixas fortes e cheias de dinheiro do Banco.
Se mais não houvesse o templo por si só mereceria uma visita, pelo que representa e pelo testemunho de uma era rica em moeda de troca e de arrecadação.
No entanto há a Muralha de D. Dinis, mandada construir há mais de sete séculos (data de 1294) para proteger a população de Lisboa dos ataques vindos do Tejo, e descoberta em 2010, nas obras de reabilitação dos edifícios do BdP, na Baixa Pombalina, cerca de 30 metros colocados a descoberto. Durante as escavações foram encontrados mais de 100 mil fragmentos cerâmicos, dos períodos islâmico e romano, além de corpos exumados. Existem expostas algumas peças e artefactos dessas épocas, nomeadamente objetos do quotidiano medieval e da época islâmica, tudo isto, enquanto se ouve música composta e escrita por D. Dinis. Constam também alguns factos interessantes do reinado do Monarca. De salientar no entanto e uma vez que se está na presença do guardião nacional da moeda, tabelas de preços dos produtos e das transações comerciais mais significativas, o que permite ficar com uma ideia do valor do dinheiro à época:

Valores de bens e salários no reinado de D. Afonso III segundo a Lei da Almotaçaria de 1253.

Um cabrito vivo - 24 dinheiros. Um anho – 16 dinheiros.
Um capão – 18 dinheiros. Uma galinha – 12 dinheiros.
Um frango ou franga – 6 dinheiros. Um ovo – 1 mealha.
Um Pato – 8 dinheiros. Um ganso - 20 dinheiros
Uma perdiz – 5 dinheiros. Um pombo - 3 dinheiros.
Uma rola - 3 mealhas. Um coelho - 4 dinheiros
A lebre, sem pele - 6 dinheiros. Uma abetarda - 36 dinheiros

O abegão ( vigilante geral do gado ) ganhava por ano 5 morabitinos velhos ( 1620 dinheiros ), 2 quarteiros ( 28 alqueires ) de pão meado na seara pela medida de Santarém.

O melhor mancebo de lavoura ganhava por ano 3 libras ( 720 dinheiros ) e 20 alqueires de pão meado na seara.

O conhecedor de ovelhas ganhava 5 morabitinos velhos ( 1620 dinheiros ), 5 cordeiros, 9 varas de burel, 6 varas de bragal e 2 pares de sapatos;

O conhecedor de porcos ganhava 5 morabitinos velhos ( 1620 dinheiros ), 5 leitoas, 9 varas de burel, 6 varas de bragal e 2 pares de sapatos consertados por duas vezes.

Um boi adulto - 3 Morabitinos velhos, ou seja, 972 dinheiros.
Uma vaca prenha – 2 Morabitinos velhos, ou seja, 648 dinheiros.
Uma vaca – 1 Morabitino velho, ou seja, 324 dinheiros.
4 Carneiros – 1 Morabitino velho, ou seja, 324 dinheiros.
4 Cabras adultas – 1 Morabitino velho, ou seja, 324 dinheiros.
3 Bodes vivos – 1 Morabitino velho, ou seja, 324 dinheiros.
1 Porco adulto de 2 anos – 18 soldos, ou seja, 216 dinheiros.
1 gamo adulto – 20 soldos, ou seja, 240 dinheiros.
1 veado adulto – 30 soldos, ou seja, 360 dinheiros.
1 Corço adulto – 12 soldos, ou seja, 144 dinheiros.

O couro do boi ou da vaca – 27 soldos, ou seja, 324 dinheiros.
A pele da cabra – 3 soldos, ou seja, 36 dinheiros.
A pele do Bode – 6 soldos, ou seja, 72 dinheiros.
O couro do Veado – 20 soldos, ou seja, 240 dinheiros.
A pele do Corço – 5 soldos, ou seja, 60 dinheiros.

Este sistema misto de morabitinos, dinheiros e mealhas, foi susbtituido no reinado de D. Dinis pelo sistema carolíngio, a libra e o soldo.

@Maça de junho


acorda menina linda - jorge palma

domingo, 27 de julho de 2014

Orfeu Rebelde


Queria fazer o desenho de um amigo beirão
De sorriso fácil, afável e intenso, mas duro no rigor
Como as rochas graníticas donde brotou um dia
Único e especial, simples no trato, grande de coração

Caloroso nos gestos é assim que se nasce beirão
De si deixa o legado sem limites, ora escrito ora amado
Tocando a lira com dedicação e encanto sonhado
No fascínio de orfeu as estrelas semeiam a ilusão.

O frio e o branco da paisagem dão-lhe a perenidade
Apenas os fios brancos do cabelo o vão cobrindo
E os anos darão ou não maior serenidade.

Sem colocar palavras fecunda o abraço
Em silêncio nem sempre escutado
Nas pedras do xisto onde deixou o regaço.

(Homenagem a um grande amigo)

@Maça de junho

Maça de junho em Lisboa

terça-feira, 22 de julho de 2014

Quando envelhecemos ao mesmo tempo

Agora à noite no silêncio daqui, conto os minutos
São tantos os minutos, que não passam
Na ansiedade do relógio que não pára
E quando me sentar lá fora no escuro da noite
Na liberdade que o meu pensamento vive
Vou contar tudo o que penso e o que desejo
Como sempre o faço quando me sento lá fora
Queria envelhecer assim: lá fora sentada
a ver a minha liberdade a voar
Contigo ao meu lado, livre como tu és
Vamos sentar-nos lá fora os dois,
E assim envelhecemos ao mesmo tempo.

@Maça de junho

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=lXYKGL6MgKM


Foto:internet


segunda-feira, 21 de julho de 2014

João Ubaldo deixou a Casa e foi ao encontro dos Budas


Nunca tinha lido A Casa dos Budas Ditosos, porque temia que fosse excessivo, porque temia muito provavelmente a sua influência. Não há nada mais nocivo na vida das pessoas que o desconhecido. E realmente desconhecia a forma mágica, irónica e real como se encontra expressa neste romance. Repleto de episódios, de sonhos, de desejos, de anseios, de remorsos, de experiências ou apenas considerandos vários, sobre o percurso sexual de cada adulto. 
Um percurso que se vai construindo através da vivência sexual, da experiência de vida e dos relacionamentos mais ou menos pitorescos que cada um vai guardando. 
Um belo dia e depois de ler uma crónica sobre a obra de João Ubaldo Ribeiro e mais precisamente sobre a sua capacidade de escrever sobre a vida erótica de cada um, tomei coragem e atirei-me a ele, o livro. E fiquei agradada e arrependida, isso sim, de não o ter lido mais cedo. É um texto puramente erótico sim, mas sem parecer pornográfico, é antes um exercício de como o erotismo e a escrita podem andar juntos.
Eu como tantos outros, já tive experiências entre a escrita e o sexo, embora em separado, mas depois de ler este livro percebi a forma quase mágica, diria, como se completam.Escrever sobre o amor é fácil, ou não, mas é pelo menos um tema apetecível, porque o amor, é bom sonhar com ele, eu diria mais, viver com ele. Já o sexo, essa palavra obscena para tantos, indizível para outros, mas se pensarmos bem, ninguém sobrevive sem ele, seja qual a for a forma pelo qual o corporiza, é a parte escura do eu, é a face negra da lua, é a negação social versus a perfeição do eu. 
Podemos dizer que no livro há normas transgredidas, assim como na vida, e também há lá sensualidade como todos procuramos ter na nossa vida, mas como a vida é apenas o rascunho que nunca vamos conseguir passar a limpo, o melhor é ler o livro de João Ubaldo, ou reler, ou ler todos os outros que ele escreveu, e desta forma homenagear o escritor que tinha um olhar de quem estava sempre a sorrir, provavelmente porque ao olhar os outros estava já a imaginar a cena de sexo com o parceiro, ou a memorizar a personagem na sua frente para depois transpor para as histórias. 
O seu sorriso e a sua forma de escrever deram-me uma visão mais completa do mundo, espero pois que o seu sorriso continue a fazer brilhar a imaginação de muitos encontros ou desencontros. João Ubaldo deixou a Casa e foi ao encontro dos Budas. Que sejam ditosos todos quantos encontrar.

domingo, 20 de julho de 2014

Poeta

Como poderia ter-se esquecido, se era nas palavras reconstruídas, que escondia as saudades. Experimentando agora as memórias de uma infância livre, quando lá fora significava rua e, nela as brincadeiras de criança. No tempo em que pela vereda apanhava lagartixas e sozinho subia às árvores. Restavam apenas as memórias de tudo o que viveu e de tudo quanto deambulou no seu mundo. O registo de como voar sem asas, esse ia sendo feito em palavras. Escrevia poemas.

Desafio em 77 palavras, publicado em:

Esquecido, deambulou sozinho, vereda fora, experimentando saudades reconstruídas.
Agora, usando estas palavras pela ordem que quiserem, escrevam o vosso texto de tema livre. Divirtam-se!
Atenção – neste caso, as palavras têm mesmo de ser escritas tal como na frase, e com o mesmo significado! Ou seja: fora não pode ser “ele fora”.

@Maça de junho
Foto:internet


sábado, 19 de julho de 2014

Vou e levo a coragem

Irei. Sensível na compreensão que temos do mundo, e de cada um dos nossos mundos, tão diferentes, mas tão próximos, tantas vezes. Preciso olhar a tua alma de perto, ver para além dos teus olhos, sorrir para veres no meu sorriso a coragem que guardo, chorar para secares as lágrimas de beijos. Ouvir tudo o que me queres contar e guardar no silêncio tudo o que não disseres. Falar do que sinto e sentir que antes de falar, sabias tudo o que fazia sentido, como sempre me habituaste. E prolongar as conversas de todos os dias, sentir na presença a admiração que vamos juntando ao longo do tempo. 
Vou ter coragem. Desta vez terei. Pois este é o mundo onde apenas vence quem tiver muita coragem. Segurarei a tua mão, e com ela entre as minhas sentirás toda a ternura que a vida dá de forma minguada. Entre nós não há feridas, há saudade, há amor, amor profundo, terno, maduro, intenso e reservado.  Será mais uma vez a espontaneidade a ditar as regras, a impor condições, e as horas que voarão pela beira da praia e na maré se evaporarão, largando mais uma vez antes do barco se fazer ao mar. O teu mar. É nesse mar que navego. Deixa-me ir. Melhor, deixa-me apenas ficar mais um pouco.
@Maça de junho


Foto:internet

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Voa e abre as asas para o sonho


O voo da liberdade começa no momento em que a tua coragem supera os medos e apenas termina quando deixares que te cortem as asas, pois mesmo se te ferirem e a coragem diminuir, nunca desviarás o olhar do infinito se é lá que o sonho vive.
Carpe diem
@Maça de junho


Foto: internet


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Filosofia

Desconheço quem vem aqui com frequência, desconheço quem vem parar a esta página sem querer e sem saber e depois volta uma e outra vez para retomar o conhecimento daquilo que se vai publicando. Desconheço quem vem apenas uma e uma só vez e nunca mais regressa, porque não gosta, porque não é de uma página destas que procura, porque simplesmente não. Podem saber-se muitas coisas através das estatisticas, através das visualizações dos posts. Mas sem uma intervenções mais oportuna, frequente, perspicaz,  motivadora, critica ou presencial e circunstancial muitas vezes, fica-se sem saber para que lado virar, se mais para o pessoal, se para a vida que está para além do dia e apenas se revela no que a noite encerra, se de poesia, ou de música ou os pensamentos rebeldes e reveladores da insatisfação do homem. Enfim, escrever sobre comidas é falar de amor, de desejo, de ternura ou simplesmente de ingredientes que se misturam. Para mim é tudo isso um pouco e ainda servir em travessa de calor polvilhada de imaginação. Escrever sobre educação é querer levar mais longe o diálogo entre o crescer e o aprender, entre o obedecer e querer sair para a idade adulta, numa contrariedade de jogos e de contradições. Quando se publica música, esta pode ser circunstancial, numa noite de lua cheia o Claire de Lune, na primavera o Spring for Vivaldi, quando nos apaixonamos The look of love, ou quando nos sentimos amados poder dizer como Leonard Cohen Dance me to the end of love, ou simplesmente postar Jorge Palma, porque a maçã de junho é uma pequena homenagem ao grande músico, ou porque a paixão adolescente pelo Jorge nunca se terá desvanecido. E depois, ainda fica tempo para o devaneio, para o sonho ora sonhado, ora apenas deslumbrado de uma insónia sem sonhos nem sonos., para a criatividade dos dias longos ou dos dias curtos, do amanhecer ou entardecer.
Todos serão bem recebidos, como sempre aliás. Todas as observações serão atendidas e os comentários levados na consideração que testemunharem. Espero não desiludir, nem deixar que a vida fermente as desilusões de todos os dias e dos homens de boa vontade.
@Maça de junho

Foto: internet

terça-feira, 15 de julho de 2014

Nada

Hoje os meus olhos estão secos
Já esgotaram os sais minerais, apenas resta a névoa que paira
Agora nada sinto, ou sinto o nada que me resta
Há feridas para lamber, também foi sozinha que o aprendi
Talvez o saiba fazer melhor que ninguém
Como tudo.Nada me foi ensinado, mas a vida encarrega-se
De em cada ato como se de amor se tratasse, fustigar-me a alma.
Torna-se um hábito pela frequência, pela força, pela solidão dos dias
Lá fora, no mundo tudo parece ser festa, musica, continuam os risos
Aqui resta apenas um pedaço de mim, o pedaço que esfrangalhaste
O pedaço que foi ficando desfeito ao vento, como os restos perdidos na berma
onde nada resta além do agreste do chão onde o meu corpo contorcido e frio adormece
Aqui neste chão onde não há lugar a lágrimas nem a gemidos
Porque também não há esperança nem o sol a nascer
Apenas o nada me faz companhia.
@Maça de junho

Foto: La Perla



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Publicitário

Na página da internet há tudo para vender. Cromos, animais de estimação, livros. Publicitar um turismo rural será fácil. No manual diz que um anúncio deve reunir alguns requisitos básicos para ser bem sucedido. Clareza, apresentação simples, evidenciar os pontos positivos. O pior, eram os pontos positivos. Havia o turismo rural, e as estrelas à noite e o canto das cigarras, e convencer a mãe deste negócio? Boa! Dá-se mãe rabugenta por uma semana com estadia completa.

@Maça de junho
Desafio RS nº 15 – anúncio de turismo rural


Foto: Maçã de junho

domingo, 13 de julho de 2014

Transfiguração

Eras quase tu
E eu era quase eu
Não sei se éramos os dois
Tanto faz
Quando o silêncio percorre o corpo
É apenas um silêncio
Não há dois
É como nós
A alma é a mesma
Deixei-a ir com o teu corpo
E eu?
Eu, fiquei com o silêncio

@Maça de junho
Foto: Alfred Weissenegger - A lifetime photography

quinta-feira, 10 de julho de 2014

As marcas são as tuas

Anoiteceu aqui, mas lá fora a brisa da noite é quente. O primeiro dia de verão, talvez. Mais dias de verão, e ainda mais estações do verão, virão, meu amor. Aguardo por ti. E tu virás eu sei. Mesmo quando tardas em chegar eu sei que vens. Trarás no rosto um sorriso travesso e no olhar a esperança de todos os dias. Vais contar tanta coisa das tuas aventuras, como se tivesses descoberto as ilhas encantadas, e me quisesses levar para elas e tantas aventuras vais deixar debaixo do lençol onde guardas os segredos, os segredos que só eu sei, e os que ninguém sabe, talvez nem tu. Vais segurar a minha mão e tentar ler nela os segredos que pensas que eu guardo. És tu o meu segredo. Vais olhar para o meu corpo e tentar ler nele as marcas dos traços que outros deixaram. Como te enganas, agora. Outros não deixam marcas. Passam apenas, com pressa, ou nem tanta, e eu continuo distraída de olhos no caminho por onde tu chegas. E o meu corpo quente, não do verão, mas de ti e por ti, guarda todos os traços que tu delineaste nele durante este tempo. São as marcas do teu e do tempo e nada mais. Vais esgotar os meus beijos e sufocar de amor. Num excesso que é pouco para os excessos que somos um do outro. E amanhã, amanhã quando não estiveres aqui, vou saber que não foi um sonho, vou sentir o perfume que deixaste nos lençóis e no amanhecer quando as gardénias abrirem as corolas para beijar o sol, levarás ainda na boca o sabor dos meus beijos, que calaram o adormecer dos nossos nomes na boca do outro. O teu nome vai no meu suspiro, o meu leio nos teus lábios quando te afastas em direcção ao caminho.  caminho que te há-de trazer, será também o caminho por onde seguirás de novo. Será o caminho que ambos percorremos de encontro ao outro, até quando o infinito se juntar a nós, meu amor.
@Maçã de junho

Acácio Lino Pintura em tela


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma chama

Mais uma tarde em que o fogo ia consumindo todo o mato em redor. Teve início para lá das Águas Pardas e na desforra que parecia ter prometido escalou ligeiro a serra, por entre o mato rasteiro. Houve conhecimento que sem hesitação destruiu o estábulo da transumância. Haveria gado pensado? Que horror! Sugeria agora um pano negro, estendido na clareira aberta, onde pairavam apenas cinzas e pequenos borralhos estanques uns dos outros. Parecendo fumarolas de S. Miguel.

Escrever uma história em 77 palavras, em que entrem as palavras assinaladas. A minha ficou assim

Desafio nº 69 publicado no blogue históriasem77palavras.com

Foto da internet -Osho


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Uma história de amor

Há amores que resistem com pequenas coisas. Serão também eles pequenos? E os grandes feitos e as grandes obras da humanidade não são elas também resultado de pequenos passos na descoberta, na construção, na fé, na criação dos homens e de Deus? Não há plantas que secam apesar de todos os cuidados do jardineiro, e não há flores lindas que brotam por entre cascalho e ervas daninhas? E os pássaros que viajam, por entre países e continentes, sem bagagem nem corcel e regressam de novo, de coragem renovada e na busca de nova estação de felicidade?
A acreditar que possa ser assim, também esses amores que surgem do nada e através do nada vão construindo uma história, repleta de dificuldade, de pedras que impedem o seu acesso, de vegetação agreste e brava que por vezes não deixa ver para além dela, nem deixa alcançar o ponto mais além do caminho. E todos os dias que poderiam ser de desistência ou de esmorecimento, são dias de procura interior, de crescimento da esperança, moldando as incertezas e guardando na ausência junto à saudade, a ternura. Quando ao fim de um dia sofrido e na promessa de outros de igual certeza, construir uma visão do mundo e da vida escalando o desassossego com serenidade e em busca da harmonia. É como se não falassem a mesma língua, mas os corações se compreendessem. É encontrar uma pequenina rosa no meio do silvado. É como beber água cristalina e fresca no fim de uma caminhada por areias do deserto. É receber uma palavra cheia de significado numa época em que a palavra deixou de significar seja o que for. É saber que o sonho se mantém vivo, apesar do jogo da vida se passar noutro campo. E à noite sonham um com o outro pendurado nas estrelas pois assim fica mais fácil ter que acordar no dia seguinte, sem que a madrugada lhes traga o beijo dos amantes. E assim toda a ternura cabe na palavra quando lhe chama Amor. São amor um para o outro, o que sentem um pelo outro cabe na palavra amor, mesmo sabendo não terem grandes feitos nem conquistas para a embelezar. Amor, é uma palavra pequena, que vão construindo sem nada mais além do fio que liga o ontem ao infinito. Assim é este amor. Grande e infinito.
@Maça de junho




A Lifetime Photography