O fim do ano serve sempre de lema para balanços, propostas de mudança, conceitos para reflexão, mas raramente passa além de. E quando chegamos ao novo ano damos por nós novamente ofegantes, de agendas preenchidas e desorganizadas, exaustos no atropelo das sucessivas exigências em que acordamos invariavelmente atrasados e amanhecemos em falta para os compromissos tomados. E tanta coisa fica perdida, atropelada, submersa e que perdemos sem muitas vezes o percepcionarmos, e é esta perda a que realmente nos faz tanta falta.
Kundera tem toda razão: “Quando as coisas acontecem rápido demais, ninguém pode ter certeza de nada, de coisa nenhuma, nem de si mesmo.” e diz mais ainda, "O grau de lentidão é proporcional à intensidade de memória e o grau de velocidade é proporcional ao esquecimento."
É a pressa que conduz ao esquecimento. Tudo é efémero, veloz, sem sedimentação nem reflexão ponderada e dos anseios tecnológicos não conseguimos retirar felicidade, mesmo quando atingimos o êxtase. Já não sabemos flanar, não vivemos os silêncios, apenas procuramos os ruídos, as metas e esquecemos de usufruir dos percursos.
Tenho vários propósitos para o novo ano, que sei de antemão não concretizar todos nem nenhum na totalidade. A leitura pelo prazer de estar a ler, a música e apenas ela e amar sem tempo nem modo. Com os pés no chão não deixar que a distância no coração aumente, nem deixar que as trezentas e sessenta e cinco noites sejam de separação. O rio apenas é efémero quando se deixa escoar.
@Maça de junho
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