O convite chegou. Há dias em que preciso de ser empurrada. Não estou bem, mas nada consigo fazer para contrariar esse estado. Hoje foi assim.
As incertezas deste país, a fragilidade com que se vive o dia a dia, a espada constante que paira por cima da cabeça de quem ainda tem trabalho.
Tudo isto me angustia.
Procuro palavras que me consolem. Procuro ideias que me apaziguem. Por vezes lá acontece. Um post amigo que nos enriquece ou até aquece o coração, e porque não! Um sorriso, uma ideia, uma flor ou uma música. Há coisas tão simples que fazem tanto por nós!
Mas outras vezes só encontramos palavras azedas, criticas, impaciência, pouco caso.
Refugio-me nos livros sempre que posso. Sempre fui assim. Sou como a avestruz. Mas quando emerjo continua tudo igual ou pior...
Não sei fazer nada por interesse material, nunca faço nada a procurar tirar benefícios das minhas ações. Sei que estou errada. Sei que só perco em ser assim. Sei que ninguém é assim. Sou totó eu sei!
Além do mais o estudo que faço de escrita criativa, não corre nada bem. Tudo se relaciona. Quando se está murcho e em vez de sentirmos as gotas frescas de orvalho, sentimos a asfixia da perda, da solidão ou do isolamento, é uma continuidade negativa de momentos que se acumulam e fazem com que tudo se torne uma perda de tempo.
E o tempo é um bem escasso, e não renovável.
Depois o telefone tocou. Não me apetecia atender, nem falar. Mas tocava, insistente, parecendo teimoso, e com toque urgente. O toque é sempre igual, eu é que oiço de forma diferente, consoante o desejo que me toma de ser ou não "incomodada".
E achava eu seria "icómodo"!. Mas atendi. Por educação. Por respeito. Por amizade. Sei lá! Por solidão, talvez!
E veio o convite.
Um dia lindo! Uma tarde que não se poderia perder!
Uma perda para a alma e o corpo, não aproveitar o calor e os raios de sol do outono para passear!
E um café junto ao rio seria tão bom!
Blá, blá, blá...
Os argumentos para o não fazer eram ténues. Tinha que calçar as sapatilhas. Estava a tentar fazer um exercício de escrita. Precisava ler umas coisas. Tinha roupa para passar a ferro. Estava cansada.
Discurso que não foi aceite pela outra parte e ainda bem.
E eu aceitei sair.
Mas coloquei uma condição que pensava seria desmotivadora para o interlocutor. Irmos a pé. Aceitou de pronto!
Perdi nos argumentos...
Levei a máquina fotográfica. O fim de tarde estava lindo! Seriam apenas os meus olhos que viam assim?
Só se vê bem com o coração, dizia o príncipezinho
Mas o meu coração tem cataratas. Só pode!
Andamos. Descemos daqui em direção ao rio.
Calmo, azul, suave na paisagem que se estende até ao casario da outra margem.
As gaivotas esvoaçavam. Os barcos turisticos aproximavam-se do fim da viagem. O sol aquecia-me o rosto e o sorriso começava a surgir nos meus olhos.
A minha felicidade vê-se se os meus olhos sorrirem.
Caminhamos por mais de duas horas, ora em direção à foz, ora em direção a nascente do rio.
Este rio que é douro e que muitas vezes pinta de doçura e cores suaves os meus pensamentos.
Tomamos café. Conversamos sobre as mudanças no mundo. Sobre a educação das pessoas. Sobre o outono, as cores, o mel, as abelhas e o pensamento de Einestein: Quando as abelhas se extinguirem da face da terra, o homem tem apenas mais quatro anos de vida.
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