domingo, 31 de agosto de 2014

Ironias

Não sei ao que vim, o que faço por cá, nem sei se estar é não estar. O nome não me diz nada, não vale nada, ninguém se lembra dele. Não tenho riquezas, mas a riqueza maior é a coragem de sonhar. Sonho que mudarei o mundo e nada acontece. Sou uma espécie de vagabundo e sonhador que leu os clássicos e no romantismo vai perdendo a coragem. Sou um D. Sancho entre moinhos de vento e erros de inteligência emocional. A guerra nunca será ganha por tão fraco guerreiro. Não sei delinear estratégias, nem tecer malhas de interesse. Não me apetece lutar, nem mentir, para vencer. Resta deixar fenecer, cantando coisas de amor e perder. Viver é cair no chão e saber levantar a cabeça depois de pisada e amarfanhada. E os andrajos do corpo serem remendados. «As mulheres caladas são perigosas. Comem as palavras para as transformar em veneno». Ainda não aprendi, e agora já não haverá tempo, o corpo já envenenado, sentindo-se tão viva quanto morta.

@Maça de junho
Foto: Mulher - Internet



sábado, 30 de agosto de 2014

Caminhos

Há um caminho que conheço bem, é o caminho da saudade,
Percorro-o muitas vezes na solidão da casa, na companhia do pensamento.

Há uma caminho que procuro sempre, o caminho da felicidade,
Não sei se o encontrei alguma vez, mas nunca segui por ele,

Há um caminho sempre à minha espera, é o caminho da incerteza,
Por mais percursos que surjam, todos me levam ali.

Há um caminho que reconheço, o caminho dos dias tristes,
É por ele que sigo, na ilusão de um dia chegar a algum lado.

Por mais caminhos que surjam, todos me levam ao abismo
Por entre agrestes ventos e chão duro, até sucumbir, um dia.

@Maça de junho

Foto: Phlip Riches - A Lifetime

domingo, 24 de agosto de 2014

Quero ser o poeta da noite

Noite, velada Noite,
faz-me teu poeta!
Deixa-me entoar as canções
de todos aqueles
que, pelos séculos dos séculos,
se sentaram em silêncio
À tua sombra!
Deixa-me subir ao teu carro sem rodas
que corre silencioso de mundo a mundo,
tu que és rainha do palácio do tempo,
escura e formosa!

Quantos entendimentos ansiosos
penetraram mudos no teu pátio,
vaguearam sem lâmpada pela tua casa,
À tua procura!
Quantos corações, que a mão do Desconhecido
atravessou com a flecha da alegria, romperam em cânticos
que sacudiam a tua sombra
até aos alicerces!

Faz-me, ó Noite,
o poeta destas almas despertas
que contemplam maravilhadas,
À luz das estrelas,
o tesouro que encontraram
de repente;
o poeta do teu insondável silêncio,
ó Noite!


Rabindranath Tagore
(Prémio Nobel da Literatura em 1913).
"O Coração da Primavera"

Mondego



Awards:
Prize Seeds of Science Special 2012 na Gala da Ciência
1st prize category Nature and Wildlife at Arrábida Film Festival
1st prize category Lusófonia-Panorama Regional at Cine'Eco
3st prize category Documentary at Festival de Curtas Metragens de Faro

Daniel Pinheiro, natural de Coimbra e apaixonado por Biologia, viu a vida selvagem ao longo do rio Mondego, filmado na Primavera de 2010, é um trabalho de ecologia, brilhante, onde a beleza do caminho transparece e revela o desconhecido e as riquezas do Mondego.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

É Verão!

É Verão!
Regresso à aldeia;
Onde encontro mães de rosto lavrado.
Ruas onde o tempo não passou.
Velhos que são apenas passado da vida;
E gente nova, sem passado nem futuro.
Onde a vida se esquece de passar...
Esse, o futuro, que o vento levou!
Para onde?
Onde há mercados, finança e desconfiança,
É um grito!
Que passa pelas casas de paredes caiadas,
Varandas e alpendres floridos, para sonhar
Escondem o negrume, das cinzas, não!
Dos sonhos!

@Maça de junho

Desafio nº72 do Blog: Histórias em 77 Palavras

Frases com 2, 3, 6 e 7 palavras

Foto:internet
Dórdio Gomes -pintura

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Douro

Ergo os dias sem ti
como a videira ergue os ramos
antes dos pâmpanos crescerem.

Nasço a cada madrugada
por entre a dureza do xisto
entre mortórios e caminhos de granito

@Maça de junho

Foto: Maça de Junho



sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Pelo olhar passou o silêncio

Volto a encontrar o teu olhar alegre
por onde passou o silêncio.
As nuvens que o ensombravam foram afastadas
pelas palavras em forma de poema e de amor
A manhã nasceu com mais luz no horizonte
pelo brilho dos segredos e do encanto
E as rosas abriram em corola para nos sorrir
e para nas cores coloridas do jardim
esconder a sombra da ausência dos dias

Junto ao rio vou falar com a água
das nossas cartas e do nosso silêncio...
@Maça de junho




quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Há poemas que nunca terminam
Tal como as palavras que unem as histórias
Sílaba após sílaba, num deleite amoroso e terno
Na nudez de um amanhecer que antecede o orgasmo
Que nasce no fundo dos olhos 
Quando as pálpebras encerram segredos
Do tempo fora do tempo
Que não termina 
Porque fica nas palavras do poema.

@Maça de junho




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A lenda

Osório Projecto sempre mediou entre o sonho e a tacanhez. O sonho, esse nunca passou de um momento coincidente com o nome, Projecto, um mistério por desvendar no Beco do Mortiço, onde vivia. A tacanhez aliada às maravilhosas, mesquinhas e safadezas sempre que o tema, saias, surgia a terreiro. Amante de surf e de mulheres, gabarolas como só ele sabia, nem ao mendigar o perdão da moça, se conteve. Mergulhou no mar e desapareceu, reza a lenda.

Desafio Osório Proj (M)
publicado em 77palavras.blogspot.pt

Foto:internet

domingo, 10 de agosto de 2014

Lirios

Pedi para me mandares lírios
Sabes o quanto gosto dos liríos do campo e de ti
Há uma dualidade entre as flores e tu
Ambos do campo, sensíveis, fortes e resistentes.

A terra como num poema que nasce
Fecunda as sementes perdidas
Levadas pelo vento e regadas com o orvalho
E das palavras nasce novo poema no teu peito

Nascem junto dos velhos carvalhos
Ou na sombra dos amieiros
Na sua sombra florescem e embelezam os caminhos
Como tu, que na tua sombra me abrigas

@Maça de junho
Lirios do campo
Foto: Maça de junho



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Verão

A noite era cálida e era verão
naqueles dias que mais gostamos de ficar lá fora
na brisa da noite a arrefecer os corpos nus
e a recordar as ternuras dos anos que já passaram
noites e dias e dias e noites, tantas enfim
algumas são apenas nossas, outras não são de ninguém.
Mas essa noite que era apenas nossa, não era noite
Era o infinito da nossa pele, lá onde os sentidos se tocam
Depois da caminhada nas alturas, da prova finita pelos trilhos da vida
Quebradas as correntes do corpo e desnudada a alma
entregávamos ao outro a liberdade do pensamento, a certeza e a dúvida
Nos momentos em que apenas a beleza existiu perante nós
E ficou connosco como o sol do verão cálido, lá fora na varanda
No endereço que leva até ao outro, sempre até ao outro
até ao mais fundo de nós. Segurando na mão passa o calor do corpo
E a noite recebe numa brisa o corpo desnudado e quente dos amantes
ternos, sôfregos, na magia do encontro, da renovação dos gestos
Dividimos entre nós os planetas e neles guardamos os sonhos
E o verão passa e fica a magia do encontro e do reencontro
Um dia quando a vida passar, ficará a memória do verão que era cálido.

Foto:internet

domingo, 3 de agosto de 2014

O nome e um sorriso

Um sorriso
Abraça sem desdobrar
As ondas do mar…
E tu, mordes os gestos
E nas palavras encontras a sofreguidão
Do tempo que a alma vai marcando
Como o farol na bruma branca da noite
Perdido entre ventos e os gritos feridos da solidão
Nesse mar de navios e embarcações, de ondas e marés
Cama onde adormecem submersos os sonhos bordados na areia da praia
Partem na manhã seguinte deixando o teu o nome gravado na pele.

Publicado no blogue: histórias em 77 palavras
Desafio 71
Escrever 11 frases, acrescentando na seguinte sempre mais uma palavra que na anterior

a a
a a a
a a a a 
...

@Maça de junho




sábado, 2 de agosto de 2014

A história triste que acabará mal

Há pessoas que fazem história e passam por ela sem princípios nem critérios de justiça. Sou grande admiradora de Miguel Sousa Tavares com escritor, além disso, nada mais mostra que se permita admirar. Isto pela sua brilhante intervenção:"Miguel Sousa Tavares salientou, no seu comentário semanal à antena da SIC, que a história construída em torno do ex-presidente do BES “tem duas versões” e que “até agora só vimos uma”.
Não sei qual será a melhor versão, mas sei com cidadã e como contribuinte e pagadora de impostos, qual a versão que mais me agradaria, e essa não existe. Melhor, foi a que existiu quando as avaliações de risco, davam a banca portuguesa como equilibrada, quando as noticias dos jornais económicos afirmavam que o risco da banca estava ultrapassado, pelos aumentos de capital, e pelos empréstimos que tomavam do Estado, aumentando a dívida pública, que depois o funcionário público é chamado a pagar.E o BES, esse continuava a entrar pelas casas dentro, pela publicidade talvez excessiva, mas lucrativa e apetecível para as televisões. A inércia do banco contra a avidez publicitária, a bonomia de um banqueiro que tomava banhos de sol na piscina transbordante de brilho metálico, qual tio patinhas do século XXI. 
Atacam-se os fracos e não se enfrentam os fortes, É mais fácil. A hipocrisia social, económica e política é deste mundo que gosta e é nele que vive como se fosse o paraíso encontrado. Por isso a história como todas tem duas faces, mas aquela que se desconhece será mais negra ainda. Cada um na sua vez vai usufruindo deste mundo de mordomias, compadrios, favores, amigalhaços, nunca se descobrindo, mas sempre se encobrindo uns aos outros“Don’t ask, don’t tell".
E como estão todos de mão dada e quando beneficiam vão dividindo entre todos (os amigos, claro!), agora há o risco sistémico entre a "boa sociedade" nacional, além do banco ser sistémico pelo facto de toda a banca, transversalmente ter adquirido ou financiado ou as duas coisas, o grupo BES. Ou seja temos os ingredientes todos para que nos seja servido de bandeja a fita "dejá vu" do Lehman Brothers, mas com um final diferente, salvo pelo gongo dos impostos e da "mão invisível" do estado. O pior é que os impostos são sempre os mesmos a pagar, e a teoria de Adam Smith, preconizava o estado apenas como garante da ordem e da justiça e o bem comum nascer dos interesses individuais de cada um. Não será fácil para quem mais uma vez terá que financiar um OE que por sua vez vai ser o garante das diatribes e das inércia de alguns, poucos. Abençoados os funcionários públicos e os pensionistas, que mais uma vez aguentarão a fatura sob o jugo e o julgamento com que continuarão a ser beneficiados, ou não fossem uma cambada de malandros, beneficiados. oportunistas, desqualificados (alguém sabe mais epítetos para lhes aplicar?!).

Em dia de aniversário do grande Zeca Afonso 
Chamaram-me cigano