Gosto dos dias de outono. Gosto da serenidade dos dias em que amanhece timidamente o sol num jogo de escondidas com as nuvens que são empurradas pelo vento, num vaguear desconcertante e desajeitado. Gosto das cores e dos odores. Da doçura dos frutos maduros em compotas, em frascos de vidro e taças coloridas. Dos jardins atapetados pela maciez das folhas que vão caindo e rodopiando numa despedida de encanto. Do colorido que dão aos jardins, substituindo o cor de rosa e branco e lilás ou amarelo das flores, pelo vermelho, castanho, ocre ou grená das folhas. Gosto de ver os plátanos multicoloridos, as amareladas tílias, ou o mundo castanho e ocre do castanheiro. Da chuva precoce que assoma à janela e deixa um torpor lânguido em que apetece o chá fumegante e as bolachas de gengibre.
Agora, neste momento em que escrevo, apetecia-me encontrar-te de novo, e de renovados sentimentos, porque postos à prova teimam em permanecer, deixar-me envolver nesse abraço junto à fonte dos encontros, debaixo da figueira da Austrália, equilibrados na extensão das suas raízes, entrelaçadas, tal amor de Pedro e Inês, que no misticismo perdura.
Bem sei que é sonho e quando acordar, o dia estará triste e sombrio. Como os sonhos que muitas vezes se repetem ou da vivência de amigos no calor de um abraço ora tímido ora expansivo.
E o outono continuará a percorrer os jardins, e o tempo.
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