Gostava de ser folha de um livro. Se fosse folha de um livro seria, de umas vezes com letras seguidas, dando forma a um texto complexo e intrigante. Como complexos e intrigantes são os designios da vida.
Poderia ser uma folha colorida repleta de desenhos feitos por meninos de cinco anos. Porquê meninos de cinco anos? Porque os meninos de cinco anos sonham e vivem o sonho, e o sonho materializa-se. E eu também gostaria de ver os meus sonhos materializados. E para os meninos de cinco anos existem fadas que fazem dançar as letras. E eu gostaria de ser uma folha onde as letras dançassem para com elas poderes brincar e pronunciar as palavras que os teus olhos falam.
Também poderia ser uma folha branca para que alguém muito, muito apaixonado escrevesse palavras bonitas repletas de ternura e sentimento.
Gostaria de ser uma folha de um livro muito importante, com palavras muito dificeis, para que alguém descobrisse o seu significado e num grande suspiro fechá-lo e abraçá-lo nos seus braços fortes e compridos. Uma folha pintada de verde para dar esperança e alento ao lápis que timidamente esboçasse uns sarrabiscos por mim adiante, ou uma folha azul da cor do céu onde espreita um raio de sol e fizesse despontar o teu sorriso. Noutras seria uma página de um livro infantil, colorido e divertido onde os duendes e a imaginação se cruzassem com as vidas vividas e sonhadas que guardamos e que vivem na nossa memória. Mas se me deixares eu quero ser uma página na tua vida, melhor eu quero completar o livro da tua vida, colorir as páginas em branco, pintar das cores do arco iris os teus sonhos e acordar com a luz dos teus olhos a refletir a cor de prata dos meus cabelos.