terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mimos

Adoro mimar quem amo. E adoro ser mimada. Mimada na forma mais terna e pura daquele mimo que vem da alma sem precisar de suplicas nem de retorno. Há almas muito transparentes que nos surgem pelo olhar, pela voz, pelos gestos ou pelas palavras, mas conhecer bem, apenas conhecemos a nossa ou deveríamos conhecer.
E nos momentos em que a vida parece cinzenta, fria, vazia e sem sentido é quando mais precisamos daquele calor que nos preenche e nos torna humanos. Só assim conseguimos continuar a sonhar por dias que nos preencham, não apenas de trabalho e de preocupações e de dúvidas, mas de calor e de cor e de vida. Por isso a  procura pelo sonho não pode terminar e para acalentar o sonho, o mimo. Hoje é um daqueles dias que preciso mimar, reconhecer o mimo que me foi proporcionado, retribuir o calor na alma com mimo e com afeto.

Fui para a cozinha...
Pelos sabores e cheiros e calor do forno, mexendo e juntando os ingredientes sinto a minha alma cantar. Hoje gostaria de poder surpreender alguém, com o meu mimo, não fora a distância a não permiti-lo. Pois no frio da noite, quando o ar gélido invade os pulmões, um queque como os que acabei de tirar do forno faria as delicias na alma de quem precisa. Deixei apenas palavras em forma de mimo. Quem sabe um dia...

Mimos de aveia e noz

3 ovos
200 gr de farinha
100 gr de aveia
1 colher chá fermento
2 colheres de sopa de côco ralado (opção)
2 colheres de sopa de miolo de noz
50 gr manteiga derretida
100 gr de açucar
1 pitada de sal

Enquanto o forno aquece a 160º, misturam-se todos os ingredientes até obter uma massa bem consistente.
Deitam-se colheres desta massa em forminhas untadas (usei um pouquinho de óleo em todas) e levam-se a cozer num tabuleiro por cerca de 15 minutos. Retirei e coloquei em forminhas de papel.

São deliciosos, muito fofos e pouco doces.
Ótimos para os lanches das crianças, até já estou a pensar em mandar para a aula da catequese!



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Criptogama

Queria desenhar um poema
E emoldurar os teus olhos numa paleta brilhante de desejo
Para encontrar a lucidez das coisas simples e profundas da vida
Atravessar o dia e esconder a lua nas tuas mãos,
Para sentir a sua luz vagarosa na brancura da minha pele
percorrendo montanhas num cavalgar sem sela nem esporas
Até ao corpúsculo espório de nós.
No silêncio dos corpos gritar de prazer 
O amor não se faz, descobre-se e bebe-se na boca do amantes
Num sussurro divino 
Desperta-me

Foto:Mafaldinha



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Primícias


Não tenhas medo do amor
Pois no mar das colheitas
e na contemplação dos dias
vivo ansioso pelo calor dos teus lábios,
Sinto o prelúdio dessa melodia 
Que ganha forma e cresce como o trinado 
Do rouxinol na madrugada
Sonho para que o amanhã  regresse 
E antecipe a primavera
Como primícias no veludo do teu corpo...
Encontrar essa fonte desejo
Quando nas tuas mãos desertas
Me deste a conhecer
O sol e o vento no teu coração!


 Não tenhas medo do amor - in Poesia Reunida (2012),  Maria do Rosário Pedreira 
O sol e o vento no teu coração -  Poema Orgasmo in Diário V,  Miguel Torga

Desafio nº35  publicado no  Blogue histórias em 77 palavras:  77palavras.blogspot.pt



Procurem dois versos (atenção, é só 1 verso, não um poema!) de dois autores diferentes, dois autores de que gostem especialmente.
Eles serão o início e o fim do vosso texto, que pode ser em poesia ou em prosa.



Foto da internet

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O meu coração sorri

Entreguei-te a chave do meu coração
E tu deixaste-a cair ao fundo
tão longe como a raiz
A tua, não a consegui roubar
E tu, nunca me deixaste pegar-lhe
com as minhas mãos nuas e alvas

Agora o meu coração está feliz
vive apenas de lembranças
guardadas entre flores secas e o linho
que cobre a minha pele
Entre as estrelas da noite e as horas do dia
Entre o sorriso e a água que molha o rosto.

A vida molda esse coração perdido
E dá-lhe formas e comprime-o e distende-o
O meu mantém a frescura do amor
porque lhe conhece o sabor
de quem prova tanta ternura
E guarda o som da ultima melodia que o vento soprou

Foto:internet





Abandono


A vida é mais que uma estação, é uma carruagem
Em andamento, mais lenta ou mais veloz;.
Vou deixar-me embalar pelo movimento
E não querer saber do cascalho sob os carris
Deixar o olhar abraçar a distância
E deslumbrar-me pela visão da paisagem
Não vou deixar que o arame farpado se enrole
À volta do meu corpo, nem tolher os sentidos
Na esperança de um amanhã que foi ontem.
E se o meu coração  chorar
Vou abandoná-lo sem olhar outra vez
As lágrimas secaram e agora apenas o ardente do sal
Como no rio a marca no chão crestado do sol se pisa
E as marcas do tempo ninguém as vê
tal como o aceno para lá da neblina
Mas o céu vai voltar sem nuvens nem brisa
e eu não vou nascer de novo
O estio vai chegar e com ele
eu não vou fazer castelos no ar
onde ninguém vai querer morar
Nem eu

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ausência


Está frio e o inverno teima em permanecer.
A chuva embala o cinzento dos dias
E molha na solidão do vento os vidros
transparentes e sem brilho
Pela janela observo: lá fora tudo é triste
As árvores não renascem, despidas que estão da seiva da vida
As águas do rio, castanhas correm em remoinhos traiçoeiros
Este rio que é verde quando o sol brilha 
E sobre ele se debruçam os braços do vidoeiro.
As gaivotas abrem as asas querendo abraçar o mundo
E mergulham velozes nas aguas barrentas quando surge um peixe
O meu coração mirra à mingua de um sentir perdido
Que não coube nesse coração
E nem a nudez da palavra sabe exprimir

Foto:Mafaldinha

domingo, 17 de fevereiro de 2013

No meu jardim


No meu jardim aberto ao sol da vida,
Faltavas tu, humana flor da infância
Que não tive...

E o que revive
Agora
À volta da candura
Do teu rosto!

O recuado Agosto
Em que nasci
Parece o recomeço
Doutro destino:

Este, de ser menino
Ao pé de ti...

MIGUEL TORGA, in DIÁRIO VIII 


Foto:Mafaldinha


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O caminho que não escolhi


Dois caminhos no bosque encontrei
Percorrer os dois claramente não podia
Caminhante só, longamente hesitei
E olhei para um, até onde a vista via
Até onde curvava e se desvanecia

Então segui pelo outro, decidido e crente
Talvez fosse mesmo a melhor opção,
Porque tinha mais relva e era mais atraente;
Apesar de a natureza e o tempo indiferente,
Terem deixado ambos em igual condição,

E nessa manhã iguais estavam os dois
Cobertos de folhas ainda por pisar.
Oh, adiei o primeiro caminho para depois!
E apesar de saber que um leva a dois,
Duvidei se algum dia deveria voltar.

Contarei isto com um suspiro sentido
Com lugares e anos de vida cumprida:
Dois caminhos encontrei e o escolhido
Foi do bosque o menos percorrido
E isso fez toda a diferença na vida.


ROBERT FROST, in MOUNTAIN INTERVAL 

Foto:Mafaldinha

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Apenas tu Negrilho

Tu Negrilho!
Com teus braços frondosos
Acolhes com ternura
Os que em ti
Descansam seu olhar
És o lar
Das doces avezinhas
Que com carinho
No teu coração
Se vão abrigar!
És a alegria dos jovesn
Que te amam sem cessar
E sob o teu corpo paternal
Felizes se encontram...
És tu!
Que anuncias
Raios de sol
E gotas de chuva,
Abençoas as culturas
E as crianças da rua
És a riqueza da aldeia
O sonho de Portugal!

10 de Junho de 1983



Foto:internet

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Bolo de leite

Domingo amanheceu triste, como tristes são os dias sem sol nem calor, quando a chuva nos brinda agreste e fria, açoitando a vidraça e fazendo deslizar lágrimas molhadas pelo vidro. Nestes dias ao lanche uma fatia de bolo ainda quente aconchega a alma e faz as delícias do momento. Sentir o cheirinho de bolo caseiro a sair da cozinha é motivo para fazer crescer a água na boca de qualquer agnóstico. Podemos confortar a alma com a simples lembrança de um sorriso ou com o calor de um abraço terno, mas se a tudo isso juntarmos um chá bem quentinho e uma fatia gulosa de um pecado menor, o dia ficaria perfeito.

Hoje não foi exceção e depois da missa com o nosso amigo Carrara, há que pôr mãos na massa, saiu este bolo de leite, fofo, saboroso e guloso.


4 ovos 
1 chávena almoçadeira de açucar
2 chávenas de farinha (usei uma de farinha tipo 55 e uma de farinha de arroz)
1 colher de sopa de manteiga 
1 chávena de leite morno
1 colher de sobremesa de fermento.





Colocar numa taça as gemas, o açucar e bater energicamente até obter um preparado cremoso. Juntar a manteiga levemente derretida, o leite e a farinha peneirada juntamente com o fermento.
Bater as claras em castelo e juntar levemente.


Levar a cozer em forno aquecido a 180º , durante  cerca de 30 minutos em forma untada e polvilhada
Flores para animar a tarde melancólica 


No final derreti uma colher de mel e polvilhei com bastante canela em pó. Reguei o bolo e ficou uma verdadeira delícia!
Bom apetite!

Na esplanada da pastelaria


Se a esplanada da esquina começa a contar tudo o que vê passar quando termina a missa das 11 horas, não chegam setenta e sete palavras.
Entramos e feito o pedido, um covilhete quentinho consola o coração daquele que se procura.
Quando temos connosco o ombro amigo, nada pode atrapalhar os gestos simples.
E as frases proferidas pertencem a sítios que nunca esqueceremos.
Quando assim acontece tornamos-nos pacientes e não se aconselha ninguém a ralhar, apenas amar.


  publicado no blogue 77 palavras


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sementes


Lembras-te de quando lançaste as sementes ao campo
E de um bolbo fazer nascer a mais bela flor?
As pétalas já perderam a cor e já não tem o perfume de outrora
Para quê semear se deixamos morrer à mingua de sede.
De manhã sinto o cheiro de maçã madura e sinto a alegria dos pássaros
Pois eles são felizes porque constroem e nidificam com migalhas
Guardo as sementes de cada maçã que me deste
E com elas vou fazer um ninho onde guardar todo o afeto e fantasia
Pois até nos terrenos inférteis e arenosos surgem formas de vida
Para quê a música se ninguém a ouve? Os ouvidos ouvem, mas o coração não escuta
Um piano fechado não dá alegria, mas pode fazer feliz quem o leva na memória
As marcas que o tempo deixa no corpo poderão não ser as mais belas
Mas por detrás de muitas delas estará a história mais bonita que se possa desejar
Nascemos para amar e esse deveria ser o fim único e essencial de cada existência
E em cada coração deveríamos deixar um estandarte: fui feliz e fiz feliz
Quando se chega e a ternura nos espera tudo parece imenso até o bom dia
Se nos retiramos nunca deixamos o mimo suficiente e lágrimas toldam o mundo
Viver é amar e perder e por vezes quase morrer.
Sempre o amor nas suas mais diversas matizes


Foto:internet

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Histórias a lápis

O Hugo nascera na aldeia, onde as casas mais pareciam casinhas de bonecas.
As ruas estreitas e íngremes escondendo encantos para nas sombras da noite nascerem histórias de encantar.
Por lá andava todo o dia a correr. Subia pelos caminhos de pedregulhos até à serra em busca de saborosas e suculentas pochegas.
Dormia encostado numa fraga granítica com uma raiz de carqueja por almofada. 
Por companhia a cabrinha maltez que nos seus berros indicava o seu paradeiro.
Um dia chegou a casa e os pais estavam numa azáfama a empacotar os haveres que eram parcos e velhos
Iam viver para a cidade.
O pai tinha conseguido um emprego na refinaria e a mãe já tinha apalavrado com a tia Laurinda umas horas de trabalho doméstico em casa de uns senhores que eram doutores e que tinham três filhos.
Nessa noite Hugo não viu o sono chegar. 
Deixar todo este universo, o sol a nascer para os lados do souto, os banhos na ribeira da Senhora de águas cristalinas e frescas, as cerejas no quintal do senhor comendador e as amêndoas que a menina Guiomar lhe oferecia todos os sábados quando regressava para passar o fim de semana.
Haveria no mundo lugar melhor onde crescer? 
Esta ideia do pai largar as vinhas e os pomares do senhor Gouveia para ir ao encontro desse novo emprego não lhe agradava nada. 
Um dia eis que chega o táxi do senhor Arnaldo para os levar à cidade. O pai acomoda a bagagem e entra para a frente. Hugo e a mãe entram para o banco de trás e ali ficam muito quietos de olhos abertos e humedecidos pela saudade que levam no coração.
Depois de várias horas de viagem eis que desaparecem da paisagem os pinheiros e os carvalhos, a estrada é mais larga e quase sem curvas. O velho mercedes do senhor Arnaldo parece desafiar as nuvens no céu e desliza veloz por entre prédios altos e cheios de janelas.
Por cima das suas cabeças vêm-se emaranhados de fios. 
Quase nem se vê o céu. Aquele céu azul celeste debruado de recortes de nuvens brancas que mais parecem grandes novelos de algodão doce servindo-lhe de telhado no seu Casalinho perdido nas encostas do Douro, desapareceu. 
Aqui tudo muito cinzento. Casas de paredes escuras, prédios tão altos que desafiam o céu. Pessoas que passam apressadas embrulhadas em roupas escuras parecem ter no olhar a escuridão do medo. 
A destoar desta desilusão Hugo vislumbra ao fundo na sua direção um ponto amarelo que vai crescendo e à medida que se aproxima transforma-se numa enorme mancha amarela.  
O elétrico! Um sorriso rasga-se no rosto infantil e parece deslumbrar no horizonte.
De repente o carro pára e o pai com um ar satisfeito e orgulhoso diz: -Cá estamos nós! A nossa nova casa é no 33!
O 33 é um prédio alto, altíssimo, cheio de janelas e de grades que parecem varandas. Na entrada, muito airosa, vasos de hortênsias parecem dar as boas vindas. 
Hugo começa a imaginar o seu novo mundo. Viajar de elétrico, passear naquelas ruas cheias de gente apressada, estudar numa escola grande para poder ser doutor, como a mãe lhe prometeu e ir nas férias para o seu Casalinho correr pelos vinhedos, procurar ninhos de toutinegra e sentado ao fundo das escadas da casa do avô voltar a ouvir as histórias de encantar contadas por ele. São histórias antigas que parecem ter vida porque vivem dentro do coração do avô.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Paperman



«Paperman» está a nomeada para os Oscars na categoria de melhor curta-metragem de animação.

A Disney partilhou o filme com 6:35, apenas.

É mesmo muito bonito...e sem palavras, literalmente.

http://youtu.be/aTLySbGoMX0
http://www.youtube.com/watch?v=5Mdhv0A07YA&feature=share&list=PL3411EDE04EB0E5AC

Gaivota

Quando a noite adormece
Sob o teu céu de Lisboa
No meu seio estremece
Uma dor que me magoa

Como uma gaivota voando
Vem trazer-me esse teu céu
Tenho o coração esperando
Coberto por um simples véu

Desenha nesse teu céu
Um perfeito coração
Não o pintes cor de breu
Com a dor da solidão

Anda dá-me a tua mão
Vamos acordar
Sonhar esta imensidão
Olhar a gaivota voar

Voas por toda a cidade
gaivota em desafio
Nunca morras de saudade
Quando coberta de frio

Foto:internet



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Era uma vez na América

Saída do trabalho. Cabeça num caco, cansaço desmedido, paciência esgotada, tempo de chuva, frio, nevoeiro perdido entre as brumas do rio de águas castanhas em remoinhos de inverno. Se o olhar não vir o coração nem sente, a ausência, o silêncio e a desilusão, um fardo pesado para dobrar as horas do dia que restam. 
Esconder-me numa qualquer sala de cinema será perfeito. Mas já tudo se tinha organizado na minha cabeça. O Lincoln não poderia esperar melhores dias. 
De regresso rejuvenesci, no filme onde o Daniel Day Lewis envelheceu para dar vida ao símbolo da libertação americana, aquele que percebeu e aproveitou a guerra civil para acabar com a escravatura, mesmo que para tal recorresse a práticas pouco ortodoxas e carecidas de legitimidade e democracia, mas tudo em prol da democracia que pretendia fazer vingar.
As duas horas e meia de filme foram poucas para contar os inúmeros momentos da repleta vida deste ocupante da casa branca. 
Deste filme retiro dois ensinamentos importantes, além de toda a vivência que o argumento não consegue transpor para o ecran, mas que decorre das biografias e da história deste 16º ocupante da história moderna do EUA: 
Tudo aquilo que fizermos por um ideal, por mais perfeito que o queiramos, será sempre de algum modo imperfeito e o dom paternal  de que era possuidor este pai e presidente de um imenso país orfão e em busca de modos vivere, e no filme se revela pelo companheirismos e dedicação ao filho mais novo ainda criança.
O filme começa com o discurso de Gettysburg que ficou conhecido na história pela frase "governo do povo, pelo povo e para o povo" que continua a marcar a politica americana até aos presentes dias.