A Páscoa é passagem pelos afetos, pelas memórias idas.
Quando era pequena a Páscoa era sinal de muita azáfama. Limpar a casa, encerar, retirar cortinas para lavar os vidros, espanar tudo e deixar que o sol de Março ou Abril fosse entrando pela casa dentro.
Na cozinha, ovos e chocolate. Um grande pão -de-ló, amarelinho e muito fofo. E o folar de carne. No domingo era o cheiro do assado que vinha da cozinha, e que se misturava com o aroma das flores nas jarras, de cor amarela e branca. Quando a Páscoa ocorria mais cedo, e ainda havia flores de japoneira com as suas tonalidades rosa e vermelha.
Era sinal de andar na rua, com os dias a crescer e o sol primaveril a brilhar.
O sino do compasso ia indicando quando se aproximava, ou quando a cruz se afastava por outras ruas, por outras escadas acima. Já passou nos correios, vai a caminho da serração, entrou no cimo do povo, eram sinais do tempo que ainda demorava a chegar a nossa casa, onde uma toalha branca com uma jarra bem florida e uma laranja acompanhavam o cruxifixo e o envelope com a dádiva. Quando a cruz subia as escadas, perfilávamos-nos por idades e por categorias, avós, pais, tios, filhos mais velhos, crianças pequenas, para beijar o Senhor Ressuscitado. Depois pela varanda distribuíam-se as guloseimas entre a criançada que da rua gritavam Aleluia! Aleluia!
Tempos de recordação. Emoções que agora já não vivemos, e que vão esquecendo, assim como os aromas doces e inebriantes de outrora.
@Maça de junho
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