A nossa vida não pertence apenas a nós mesmos. Pertence à família e aos amigos e àqueles que vamos encontrando pelo caminho e de algum modo nos ajudam a conhecer mais um pouco, do eu de cada um. Por vezes transformam-se em amigos, em pessoas especiais. São quase sempre pessoas melhores que nós, infinitamente melhores. Fazem coisas deliciosamente bonitas, ensinam-nos a pensar mais nos outros que em nós, descobrem na nossa pele as marcas que durante a vida escondemos do mundo. Eu tenho a sorte de ter encontrado algumas pessoas assim. E tenho a sorte de me ter tornado um pouco melhor depois de inspirar também desse carisma que transportam. Por vezes não é fácil conciliar o lado biológico e espiritual de cada um, é o nosso jeito de ser e de estar (como na canção da Bethânia, eu sei que tenho um jeito meio estúpido de ser e de dizer, coisas que podem magoar e ofender (...)), mas é apenas desta forma que derrotamos o medo, ao aceitar a noite e o nada, a fraqueza e a assertividade, o desapego e a persistência, sem nunca desistir, nem abandonar o caminho, nem a humanização de cada um. Melhor dizendo, tem a ver com a humanização de cada um destes seres imperfeitos e frágeis, e esta humanização é composta pelas fraquezas, também. E são eles, essas pessoas que não são as melhores do mundo, mas são as melhores do nosso mundo, que tantas vezes nos obrigam a sentir o chão, a olhar as montanhas lúgubres e frias, mas também pensam com carinho e nos mantêm o mundo a girar. Está nas nossas mãos cultivar e cuidar, como o agricultor, até mesmo quando não tem a posse absoluta da terra, cultiva-a, lavra, semeia e protege. E quando fecharmos os olhos como que num mistério, sentirmos que também habitam dentro de nós, sem preconceitos. Assim chegarmos a nós próprios com verdade, capazes de reflexão e quietude, porque somos feitos de tantas coisas, mas tantas e tão diferentes.
@Maçadejunho
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