sábado, 30 de abril de 2016

Vespertino

Era um hotel pequenino, ali para as proximidades da Basilica de Santa Maria Maior. Um estabelecimento familiar, modesto, explorado por uma família de italianos já com alguma idade. Simpáticos e prestáveis. Um local muito agradável para descansar depois de calcorrear vias e embebedar os olhos com tanta arte e tanto mármore de Carrara. Num fim de tarde que se anunciava chuvoso e pouco convidativo a outras aventuras fora de portas, encontrei uma publicação na língua nativa, displicentemente pousado num canto da receção. Pedi autorização para ler e fui folheando na tentativa de me concentrar na melódica língua e compreender o que lia. De repente toda eu se iluminou ao deparar-me com um poema do meu conterrâneo e mui querido Poeta esquecido nas folhas amareladas pelo tempo de um amante da poesia e deste luso pensador: 
Vespertino
E, tuttavia, è bello...
l’imbrunire.
La luce calante cade dal cielo vuoto
sulla morbida chioma
delle fronde
e sopra ciascuna foglia si diffonde.
Immobile, il paesaggio
appare addormentato
agli occhi di chi guarda.
La brezza porta il tempo
verso nessun destino.
E il rumor cittadino
fluttua nelle orecchie
distratte
di quelli che per le vie stanno andando
senza fretta
e come se stessero sognando
senza sognare...


Miguel Torga, Diário XIV

 

2 comentários:

  1. Miguel Torga na língua italiana .Soará com certeza absoluta com uma canção de amor doce.

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  2. O Italiano tem uma sonoridade muito doce, e os poemas de Torga têm a particularidade de expressarem a simplicidade do dia a dia, o que conjugado dá um resultado excelente.

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