Lágrima

Apenas uma, sozinha, solta, caindo por dentro dela de pouco serviu, nem para limpar a alma… No coração rasgado de tanta ausência permitiu-se esconder a tristeza pintada no olhar castanho que carinhosamente lhe dedicava e que ninguém via, nem ele. Hoje completando oitenta anos de um passado sem futuro, até do presente duvidava! Tudo era vazio de saudade. Deixou que uma lágrima escorregasse de encontro à solidão da alma. Apenas verteu uma lágrima, uma única gota …

Desafio nº43

publicado no blogue  www.77palavras.blogspot.pt

Foto:internet

Uma volta

Ela diz que sempre que pode dá uma volta ao bilhar grande.

Vai pela berma e em passos curtos e certos cumpre a bula do doutor.

Andar duas horas na beira do rio é como um sonho de águas claras em dia de nuvens densas.

Pasta os olhos no prado verde, seduz o brilho do sol que poisa na água, brinca com os patos na  margem e sonha por uma manhã sem temer de novo o amor.

Desafio nº44
O texto de 77 palavras apenas poderá incluir palavras com 1 ou 2 sílabas, nada mais!
Publicado no blogue histórias em 77 palavras

www.77palavras.blogspot.pt

Foto:Mafaldinha

Livro

Quando sonho dou a mão à poesia
Que a tua mão fria já não está aqui
o sorriso já não é o teu, apenas o dos versos ficou
As rimas que construo não as vês
e o livro já não sei se o queres para ti

Eu queria que fosses o amanhã nas páginas do meu livro
mesmo que tenha passado ontem no meu lápis
sem ver chegar o amanhecer nem as horas do relógio
quero ser mulher, nem que seja por um triz
abrindo numa página por escrever para me ler

Foto:internet

maria rapaz

A Maria é especial. É amiga e é vizinha, é rapariga e é mais velha. É atenta e responsável. 
É maria rapaz, por isso o rapaz também gosta. Sabe fazer pesquisas na net e ensina, criam perfil para o club penguin e dá as dicas de como fazer o aproveitamento. 
É boa aluna e incentiva os mais novos, dizendo que no primeiro ano é fácil, mas é preciso estudar e ser atento para se manter o ritmo e as boas notas. Joga à bola com os rapazes, usa boné virado ao contrário, sapatilhas desapertadas, calças largas, e tshirts pouco femininas.

Um sucesso à beira dos rapazes, e um caso de inveja constante do lado das raparigas que não compreendem tanta popularidade. De vez em quando também lhe dá para os frenicoques de rapariga pré adolescente e irrita os rapazes e o grupo lá se zanga para depois voltarem como dantes e como se nunca nada se tivesse passado. 

Tanto atira com a bola, como ajuda a construção de leggos, vê televisão e joga na nintendo. Qualquer bicicleta lhe serve para acrobacias, sabe quando o pneu está vazio, sabe repor a corrente no sítio, defende os mais novos dos mais crescidos. Ganha a confiança dos pais, é tratado como uma menina favorita e não admite injustiças. Faz lembrar uma pequena Mafaldinha de outros tempos e de outro lugar. Em cada geração com outras vivências e novas formas de saber, há sempre uma que é a nossa preferida, que vai ficar para sempre, que vai estar lá para escutar, guardar segredos, dar conselhos de rapariga sobre raparigas. 

Força menina linda com ar de rapaz, perfeita porque cheia de imperfeições que embelezam a alma!

Foto:Mafaldinha

Lua

Na brancura da noite
que do alto do céu observa
a brisa que passa
por entre os dedos
devagar como folheando
um livro que se lê sem pausas
na calma do dia
é a lua

Levantas o olhar
para mim por entre os
ramos que se agitam
escreveste mais uma página
de uma obra inacabada
Não me contes o final
ensina-me o segredo
que fico à espera
lua

Foto:internet

enquanto isto, vou ouvindo ...

Afetos

Prometeu ou o poema do fogo
Prometeu foi um defensor da humanidade, de inteligência astuta, conta a lenda que terá roubado a Zeus o fogo, dando-o aos mortais. Por castigo Zeus prendeu-o a uma rocha até à eternidade, dando-o de comer a uma águia, esta comia o seu fígado durante o dia, e quando no dia seguinte voltava, o fígado encontrava-se inteiro, pois regenerava-se durante a noite.

http://vimeo.com/38511944

Numa sinfonia de afeto

Há pessoas que se conhecem durante uma vida e são estranhos

Outras apenas precisam de um fio de silêncio para se encontrar

E de algumas palavras para se conhecer

E em pequenos momentos sentir a nascer

Uma longa e próspera amizade.

Primeiro traçamos algumas linhas

Como se de uma pauta de música se tratasse

E fomos compondo a nossa própria melodia

Com notas musicais e claves de sol, com pausas e semibreves

Respeitando o ritmo de cada um

Por vezes divergentes, por vezes ausentes,

Partilhando desabafos, trocando conhecimento

E juntando numa sinfonia de afetos

Aqueles que fazem parte dos nossos sonhos

E que ao nosso lado tocam os nossos corações

Agora fazemos parte dessa orquestra umas vezes alinhada

ou desafinada, mas certamente uma sinfonia inacabada

Como uma obra maior

 

Foto:Mafaldinha

Dentro de ti

Hoje vi o teu sorriso, de onde estavas, ei vi-o
A ti não, não vi
A distância esconde o rosto
e suaviza a dor
A luz que tens dentro de ti
vejo-a sempre
chega com a tua voz
mesmo quando o silêncio se estende sobre nós
e as palavras escorregam no peito e secam com as lágrimas
da saudade que tolhe os dias e acorda as noites
quero que me digas a palavra amor, apenas se vieres dentro dela

Foto:Mafaldinha

Bolo de cenoura e devaneios

Dorme o filho e dorme a gata. Banho tomado, conversas em dia, abraços, mimos e beijinhos e uma declaração de amor "gosto de ti até ao espaço sideral". Estou de coração exaurido. Atrás de mim deitada, a gata, impede que mantenha uma postura correta ao escrever. Mas já estou habituada. Ela também quer mimo e calor para mais aconchegada dormitar. A mim, não sinto os olhos pesados, mas a inspiração também já teve melhores horas. Porque será que por obrigação tudo é mais difícil? Gostava de me sentir inspirada quando preciso, mas não! Apenas surge esta inspiração maldita por vezes, quando as mágoas doem no peito, quando os olhos rasos de água não permitem ver o sentido das letras pintadas de negro na tela. Agora arranjei mais um pretexto para ficar acordada mais uns minutos. Vir publicar. A regularidade em escrever dá-me estabilidade emocional e fisica. Não gostaria de ser velha sozinha, mas gostava de ser velha contigo, nos degraus da casa de pedra, daquele granito velho e carcomido pelos anos e pelas histórias que guarda, nem que para isso precise viver até lá para depois do limite do vento. Enquanto pensava nisto e em como a vida é breve e não deixa que se desfaça nos dias o sonho que muda a cor das manhãs, fui fazendo um bolo para oferecer amanhã a uma amiga muito querida e que a saúde ultimamente lhe dá algumas preocupações. 

Aproveito para deixar a receita, que é muito fácil, como de todos os doces que vou fazendo e muito apreciada.

Bolo de cenoura
300 gr de cenoura
2 chávenas de açucar
3 chávenas de farinha
5 ovos
1 chávena de óleo
1 colher de café de fermento

Descasquei as cenouras, cortei em rodelas e passei pelo (1,2,3). 

Numa taça bati as gemas com o açucar até ficar bem cremoso e depois juntei as cenouras em puré e o óleo. Continuei a mexer energicamente até fazer bolinhas e juntei a farinha com o fermento peneirados.

Coloquei as claras em castelo e juntei à massa envolvendo bem, mas sem bater.

Coloquei numa forma untada com manteiga e levemente polvilhada de farinha em forno pré-aquecido 180º, durante 25 min.

Foto:Mafaldinha

Enquanto isto ia ouvindo uma música excelente e à qual regresso de quando em vez

Uns gramas de ternura

São apenas algumas gramas de ternura que te deixo
Sim, porque há momentos irrepetíveis
E não há receita escrita
mas cá dentro vibra uma felicidade enorme
porque te sinto em paz, essa paz que é ténue em ti
E é raro
E quase mágico
Não o dissemos
para quê dizê-lo quando o sentimos...
 
Não vou adiar este abraço
Há curas que gastam rios
mesmo que sejam de lágrimas
E posso calar o teu nome nos meus lábios
Mas o coração não fica em silêncio
escuta o som desse violino
por entre os sopros da orquestra
E segue com olhar cada nota que geme
fazendo melodia

Foto:Mafaldinha

amor

A nossa vida é condicionada em tudo. No tempo que temos livre e no tempo que não conseguimos libertar, para nosso prazer.

No trabalho que é infinito e no acomodar de situações que não permite que haja uma finitude laboral e o gozo do ócio tal como deveria ser usufruído.
Mas o pior de tudo são as condições que impomos ao amor. Condições de tempo, de modo, de lugar, de circunstância.

Vou tentar explicar melhor.

O amor é um estado. 
Não se procura, mas encontra-se. Há pessoas que nunca o encontram, nunca viveram plenamente esse estado de estar no amor. Vivem grandes paixões, grandes ilusões e desilusões, também, mas o estado do amor como ele é, não.

Ao condicionar o amor às necessidades físicas, neuróticas ou psicológicas vai-se perder o amor na sua mais pura essência. Todos querem ser amados, mas esquecem-se de amar quem os rodeia. Todos gostam de se sentir desejados, queridos, lembrados, gostados, compreendidos, apoiados, mas logo esquecem que nestes sentimentos deverá haver reciprocidade.
E quando as nossas vontades saem frustradas logo se parte em nova busca de sentido para a vida, logo se procura alguém que substitua o que perdemos, melhor o que achamos ter perdido. Não se perde aquilo que nunca se teve. Mas sentimos um abandono imenso, uma solidão infinita e corre-se para preencher o vazio com um novo relacionamento tão mau e tão pobre como o anterior ou como os anteriores.
Uma verdadeira experiência amorosa é para uma vida e um dos maiores prazeres da vida e vivê-la é uma experiência única. Mesmo quando breve é imensa e permanece para lá do tempo que se conta.
Amar é sentir com a alma e ouvir com os olhos, é expressar o que se sente por palavras e por silêncios, por presenças e por ausências. O amor é infinito e por vezes apenas aí se concretiza, por tão verdadeiro, por não ser a perfeição, nem redundar em certezas. 
E quando esse amor acontece, não esquece, fica, vai ficando bem junto da alma e quando chamado acorda e canta e volta a ser presente, mesmo que tudo o resto esteja ausente.

O amor é todos os dias.

Foto:internet

Vagueando

Há pés no caminho
Pés ao caminho do sonho
Um caminho de pé
E um pé perdido
Vagueando
Um pé no sonho
Com pés no caminho
No caminho do sonho
Andanças
Na montanha do sonho
Por entre sonhos e minas
Subir 
Sem perder o sonho
Na serra há um sonho
O conto da serra
Passear em sonhos
No trilho de um sonho
Vagueamos

Na rádio

Na rádio é a sim

Um grupo de amigos

Um rosário de músicas

No pátio das cantigas

Suave como a noite

Sem sono nem horas

Na casa de fados

Nas cordas vibram violas

Reunimos na  praça central

Ouvido colado na telefonia

Há discos pedidos e outros perdidos

Com ou sem companhia

Com os pés na terra

De noite começa o dia

Com a Margarida há sempre um desafio no ar

Conta bem: primeiro da rádio, quem diria!

Desafio publicado no blogue: histórias em 77 palavras
http://77palavras.blogspot.pt/

Fazer um texto em 77 palavras sobre a rádio
Peguei nos nomes dos programas da rádio Sim e saiu o meu contributo

Pátio das cantigas
Suave é a noite
Rosário
Casa de fados
Praça central
Telefonia
Discos pedidos
De noite começa o dia
Companhia da rádio
Pés na terra

Foto:internet

Vazio

As palmas das mãos estão vazias como sempre
O rio esvaiu-se entre os dedos inseguros
nada preenche o que a ausência deixou
nem as noites são iluminadas pelas estrelas
nem os dias adormecem à noite para sonhar de novo.

Depois do preâmbulo há páginas em branco
e ninguém desenhou o caminho
nem preencheu os espaços que ficaram
é como ouvir uma sinfonia começando pelo rondó
sem conhecer a harmonia do andante

As forças da vida são um permanente campo de batalha
entre o ser e o querer, entre a alegria e a tristeza
entre o amar e o perder, entre nascer e morrer
viver dói, faz feridas e deixa cicatrizes
on ne badine pas avec l'amour tout jour

Viver outra vida

Quem me conhece, sabe que me mantenho no estado de mãe em permanência. É função que exerço nas vinte e quatro horas do dia e nas outras todas também. Como mãe abdico de ter vida própria, de fazer aquilo que mais gosto, privando-me de pequenos prazeres e até de ser feliz. Vivo outra forma de felicidade, que tem custos por vezes, mas tem recompensas e até agora não me arrependi de nada do que tenho feito nos últimos anos. Para mim ser mãe é ver o Phineas e Ferb repetidas vezes, é fazer de conta que acha o máximo o jogo de futebol na Playstation apenas para lhe agradar, é fazer luta de almofadas quando a vontade é de tomar um adalgur e dormir vinte horas seguidas, é deixar para de noite escuro para arrumar as roupas, é deixar acumular o pó nos móveis e ir para a cozinha fazer a pizza preferida dele, é ajudar a colar os cromos da caderneta dos animais e jogar futebol na praia quando apetece ler um livro. 

Mãe é proteger, ensinar e dar confiança para crescer em segurança e responsabilidade e como ser humano. repreender sempre que seja necessário. Depois vêm as recompensas, um abraço apertado, dizer-nos que se é  a melhor mãe do mundo. Perguntas como «onde vais hoje, tens alguma cerimónia?» ou «tens o cabelo bonito, ainda bem que foste ao cabeleireiro», pois temos a certeza que são palavras sinceras, e sentidas, não são de circunstância, nem por educação ou cordialidade, apenas.

Também sei que não ganho muitos adeptos nesta filosofia de vida, mas enquanto não estiver convencida que haja outro caminho melhor, posso não saber para onde vou, mas tenho a certeza que vou por aí.

Coral

Serei eu quem te vai criticar e quem vai apelar a seres melhor
não serei complacente nem tolerante mas provocante
serei aquele que te dirá as piores palavras
as que magoam, que ferem, que levam laminas nas pontas
porque exijo o melhor de ti, porque conheço o teu interior
Sei que vais sofrer, muito, muitas vezes
perderás e perder-te-às, para cresceres mais, para ficares mais forte
são as águas turbulentas que levam o navio a bom porto
Viver na memória dos tempos é parar de amar
e o nosso amor será eterno embora o meu abraço não tenha ficado
a solidão nem sempre é quando a noite chegar
Só um louco para se sentir triste
mas as tuas lágrimas vão chorar e não as posso secar
porque para ficar teria que ser inteiro eu que vivo de pedaços
de mim, espalhados pelo mundo desejando o que não sei
o tempo não cura, apenas pára de sentir o tempo que passa
e sacode, agita e acorda numa nova manhã

Foto:Mafaldinha

Mãe

Mãe é como a abelha que mesmo voando mais longe não perde o rumo das suas flores
Mãe é como uma árvore frondosa que abriga debaixo dela os seus frutos protegendo-os da intempérie
Mãe ri quando as lágrimas escorrem pelo coração e chora por alegria
Mãe tem a mão que afaga e a mão que corrige e ensina desde o ventre
Ser mãe é nunca esgotar o amor no seu coração é uma fonte de inesgotável carinho
É ter o amor que retém a imensidão de uma vida, a essência de um tempo que fica
É ter a alma de uma manhã brilhante e fresca e de um pôr do sol maduro e quente
Nesse intervalo que é viver

Foto:Internet

Feliz dia da Mãe

2013/05/05

Dizer

De um sentimento
que é condição
amar é não saber a razão
viver em contradição

Se há neste sentir
reciprocidade
mesmo quando negas
invocas verdade

Nada tenho para pedir
nada tenho que provar
apenas o que sinto
guardo para te dar

Em cada palavra
em cada sentir
estás vivo em mim
não vou mais mentir

Não sei quanto dura
nem sei se é ternura
apenas que morro
por esta loucura

Foto:Mafaldinha

Cigana

O desafio nº 42 já está no blogue -  histórias em 77 palavras 

É um verdadeiro desafio, daqueles que obrigam a um exercício mental e ortográfico estudado, mas tudo se consegue com algum trabalho e um pouquinho de inspiração. 

Escrever uma frase utilizando apenas 5 ás, 5 és, 3is, 5os e 3 us (aaaaa, eeeee, iii, ooooo, uuu)

Depois utilizando essa frase da forma que entendam elaborar um texto com apenas 77 palavras no total

O meu ficou assim...

Frase: AlgUÉm vIvE Um sÓ dIA dE sOnhO nO rEqUEbrO  dA sAIA

Alguém vive um só dia de sonho no requebro da saia

alguém que sonhe e desfaça o mistério que passa nesse glauco olhar

alguém que não viva e que sinta o feitiço de um mágico encanto perdido nas brumas da praia

alguém que sorrindo encanta e desvenda na palma da mão esse sonho que guardas nas abas do teu casaco

é a cigana que partiu nesse trem com destino ao futuro, aquele que leu no teu olhar.

Página em branco

Tenho uma página em branco
e não sei o que escrever
as palavras não surgem
nem as letras fazem sentido
e tanto que tenho para contar ...

Agora tenho a tua mão
que veio ao meu encontro
quando mais precisei
E dentro dela encontro as palavras
com que vou escrever a história