quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Primavera

As magnólias floriram e nem assim
a primavera se abeirou para as olhar
não vê o brilho das flores a irromper nos jardins,
nem sente o aroma da sua beleza.
Ah! primavera...que vives fechada
entre muros de nevoeiro e chuva
sai, vem molhar os pés nas ribeiras e sentir
o aroma das flores que te esperam
vem pisar a terra molhada que te aguarda ansiosa.

Quando os pássaros chegarem
sentirão frio e não encontrarão abrigo no jardim
voarão envolta de ti e não te sentindo
morrerão à míngua do sol que não trouxeste
Nos beirais a chuva não serve para o abrigo que construirão.
Manda uma tira de céu azul ou um raio de sol
ou a lua cheia à noite, manda as manhãs de orvalho
e as tardes solarengas onde apetece ficar
Vem tu mesma, mesmo que de longe.
Vem por ti e por mim, vem por nós dois para nos amarmos

@Maça de junho

Magnólias




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A lei do jogo

O universo é feito de geometria e matemática
De observações e reflexões de fome e de prazer
De um homem e de uma mulher
Como no jogo de tabuleiro, onde se observa e se joga
Não te surpreendas com esse modo de ver
Um corpo quando maduro é como a erva que cresce devagar
Saindo das entranhas da terra surge no meio do campo já adulta
E não é por isso que não se dá por ela
A mulher é feita de química como os polímeros e tem o aroma das flores
E os montinhos que lhe vês amanhecer
São as madrugadas do teu sonho, salientes
ao alcance do teu braço onde assentam as mãos

para o jogo dos contágios. 

@Maçã de junho

Foto da internet

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A história repete-se?

Entrou e lançando um olhar circundante aproximou-se da mesa do fundo, despiu o casaco e sentou-se. Sem palavras, o empregado trouxe um café. Segurou a chávena e bebeu de um gole só. Abriu o jornal e durante uma hora não levantou os olhos. Apenas o movimento de virar as folhas. Quando terminou dobrou-o cuidadosamente deixando a primeira página voltada para cima, onde se lia: Cavaleiro teutónico sobrevive ao holocausto.
Pensou: O apelido ficou preso no arame farpado!

@Maçã de junho

publicado no blogue: histórias em 77 palavras
Desafio nº 60 – apelido preso no arame farpado (frase obrigatória)






quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Pássaros da Escola

São os pássaros, ora melros ou andorinhas, trabalham com afinco e dedicação.
São como as avezinhas empoleiradas, recortando no papel ou pintando cada uma como se fosse a mais bela obra de arte. E vão surgindo dos trabalhos de cada um, uma andorinha, ou um melro, por vezes parecem cucos, noutras um simples pardalito.
São assim as crianças do bibe verde, escrevem o que imaginam e gostam de imaginar histórias de pássaros felizes, de aves pequeninas com coração que voam para lá do azul do céu. Aves com penas e bico, coloridas ou cinzentas, sábias no seu viver e na integração com a natureza.
Que emigram no outono para se abrigarem do frio do inverno, e que voltam em cada primavera, junto com as flores e o sol.
Falam de pássaros e de andorinhas e de outras aves e dos seu ninhos. Atentas e barulhentas, são assim também as nossas avezinhas.
E quando no teu peito nascem pássaros,
que cantam melodias como o rouxinol e são tão felizes quanto a cotovia
esvoaçam como as andorinhas construindo seus ninhos.
Mas quando entram no teu regaço, escola, são pintainhos, sedentos de vida prontos para a lição.
No bico prendem folhas e sementes,
com sabedoria e espanto vão construindo o futuro.
Nos dedos de cada um começa por tomar forma a capacidade de voar, no livro que haverão de escrever
É na escola que vão abrindo as asas que os ajudam a voar para lá das nuvens, até ao azul do horizonte
tão longe quanto a coragem deixar.

@Maçã de junho
balões da internet

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Confidências

Se um dia eu subisse até às estrelas
levar-te-ia comigo,
porque és a pessoa mais corajosa que conheço
Se me dessem o céu para pintar
era a ti que eu perguntava qual a cor
porque sabes sempre a resposta que eu preciso
Se me oferecessem um tesouro
Seria a ti que o entregaria para guardar
porque saberás qual o momento em que precise dele
E como retribuição eu apenas tenho o meu coração
repleto de luz e de cor, onde mora o tesouro que é teu.
Foto da internet



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Não tenho nada a pedir a quem nada tem
para me dar! Dar é sorrir por entre o silêncio
e segurar o calor do outro, é dormir a sentir
o beijo que roubamos, é estender o braço na escuridão
tateando o corpo que já não está.

Pedi, pedi apenas para não sofrer, não
para não te perder, o sofrer que já me deste
a conhecer, é o da ignorância, é mesquinho
é cobarde. E eu pedi, com a candura de quem
ainda crê que um dia será verdadeiro...

Não vou pedir novamente que digas
o meu nome, quando o nome que sai de ti
é dela, e dor é traição maior de quem veio jurar
por amor, se nada me pertenceu, nem tu, ciúmes
de ti, da tua voz que traiu todas as vezes que veio

@Maça de junho







sábado, 15 de fevereiro de 2014

Harmonia

O prazer da escrita está presente em todos os momentos. Como eu compreendo a Sophia de Mello Breyner quando se esquecia dos filhos no jardim, porque de repente lhe surgia um verso novo. Do filho não costumo esquecer, mas quantas vezes o tacho já queimou, ou quantas vezes a máquina ficou sem lavar, porque me perdi na escolha de uma palavra mais acertada. Quando apetece chorar, quando a solidão é a companhia mais assídua, quando se vivem momentos de felicidade, quando nada há para comemorar ou para evidenciar, até por obrigação, eu escrevo. Escrever é sempre mais fácil do que falar. Nem sempre a mensagem é compreendida, muitas vezes nem é recebida. Mas há prazeres que não se contabilizam, nem contam as horas, apenas os momentos em que a vida parece mais fácil. Há quem mereça mais, mas também há quem nem tanto mereça. Vou continuar a escrever, mesmo que nunca tenha um livro reunindo as melhores palavras, mesmo que não haja ninguém que as mereça, mesmo que sejam palavras escritas para mim. E quando fores tu a deixar de as ler eu saberei o que te escrever, pois até uma folha em branco leva mensagem. E quantas mensagens trocamos nos nossos silêncios e quantas palavras falam para além da saudade, havendo harmonia, talvez!

@Maça de junho

A foto foi encontrada na internet e o texto escrito por mim é dedicado a todos aqueles que procuram a harmonia numa pétala de uma flor

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Essência

Hoje queria um sorriso doce ou um beijo terno
os dias são imensos, nunca terminam na noite, é a noite que segue até ao dia
e no cinzento do dia não aconteceu

Quando amar é não saber como acontece, mas saber que acontece sem outras considerações
é assim porque é a única forma que tenho de te amar
por entre palavras quando o abraço não é o teu

No meu intimo és sempre tu, a tua essência, além das coisas
é dentro de mim que tu moras, porque é no absoluto do imaginário
que nos encontramos a todas as horas
@Maça de junho

Foto:internet


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sopa de legumes

Gosto da simplicidade que cada vez mais imponho na minha vida. E é fácil deixar-nos perder pelo consumo, pelo efémero, pelo que não vale a pena, mas que nos surge envolto em brilho e fama. Talvez esteja a envelhecer, mas prefiro pensar que estou a amadurecer...
Em casa todos os dias há sopa. Sempre variada com muitos legumes e cremosa. Nem sempre é passada, mas nestes dias cai bem uma sopa em forma de creme, de consumé, como diria a minha avó.

1 cebola média
1 nabo médio
1 dente de alho
1 batata
200 gr de abóbora
1 cenoura
uma folha de couve penca, cortada em pedaços. Aproveita-se o caule que se corta em cubos.
1,5 l água

Numa panela colocar todos os ingredientes cortados em cubos juntamente com a água e deixar ferver. Após junta-se a couve cortada em pedaços. Depois de tudo bem cozido, tritura-se com a varinha até ficar bem cremoso. Verifica-se a consistência e se estiver grosso acrescenta-se um pouco de água. Tempera-se com sal e azeite e serve-se quentinha para aconchegar o frio do inverno e do coração.

Enquanto se prepara a sopa vai-se ouvindo






domingo, 9 de fevereiro de 2014

Caminho de palavras

Irrompo do silêncio quando as palavras ficam inscritas na tinta do meu caderno
São as coisas simples que me dão as emoções nem sempre perceptíveis ao simples olhar
saem pelo coração e na boca apenas o sorriso para te embalar

Transformam um dia banal numa torrente que sulca as encostas da vida
a caminho da planície, apaziguando medos, regando terras agrestes

Abandono-me para encontrar o céu e permaneço aquecida na espontaneidade deste ato
quando a voz apaziguadora sussurra submersa de emoção
escrevendo encontro o porto onde me abrigo e deixo o meu corpo a salvo

O caminho está traçado a lápis, feito de palavras
memórias, saudade e incertezas, na certeza do coração que bate

@Maça de junho

Foto:internet

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quando a amizade é triste

Gostava de saber o porquê de haver pessoas cobardes, egoístas e mentirosas e ainda por cima acumulam tudo na mesma pessoa e como tenho tanta pontaria, dei-me ao trabalho de as guardar por amigas. A sorte de tudo isto é que eu não sou pessoa de inquietar amigos com os meus problemas, são meus e portanto serei eu a ter que dar a devida saída, porque senão teria apenas dois problemas, o que levava e o que me ficaria ao encontrar a porta fechada.
E no meio disto tudo apenas me procuram quando lhes batem à porta problemas que sabem eu sei resolver. Como são cretinos, têm um leque de amigos do meu calibre nas diversas áreas, pois têm apenas uma especialidade colecionar amizades altamente lucrativas. 
Terei coragem de fechar a porta, um dia?
Hoje é tudo o que me ocorre escrever, porque escrever também é triste, muitas vezes...

@Maçã de junho

Nos dias de bruma, fica a desilusão

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quando arrumei a dor debaixo da pele
o inverno adormeceu e deu lugar a uma manhã primaveril
a minha vida passou a valer tanto quanto a tua
na bolsa dos afetos soterrados
no silêncio, onde o pensamento grita

@Maça de junho


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Renascer

Esta noite, quando o luar passeava por entre as nuvens altas
o calor do teu corpo passeava por entre a folhagem da minha alma
num secreto esplendor onde apenas as sombras e o ardor pertencem
e no fulgor queimando a pele, até ao infinito curvo de ti
ficou um rasto de luz, no segredo das horas tardias

Precedendo a madrugada, os corpos sucumbiram 
Sem mais adiamentos, nem silêncios, falaram a mesma língua 
sem dissimular os gestos nem os tempos, em que os verbos
apenas poderiam conjugar o futuro que é hoje, 
e a noite adormeceu quando os meus olhos brilharam

Ouvindo o som da chuva e o riso da manhã
em busca do lugar onde a terra gira e renasce
traçando a união dos pontos onde os corpos se encontram
como filamentos que tocam o pensamento e prendem a ação
numa fileira de estrelas e de sóis, mansamente deslizando no poema
@Maçã de junho
Espero por ti no centeio


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sonhar ou viver

Já aqui falei várias vezes de um blogue que acompanho desde 2012. É um blogue de escrita criativa, de jogos de palavras, de encontros de amigos, de risos, de abraços, de responsabilidade e partilha e como ele próprio se define: "Este espaço é de todos aqueles que aceitarem o desafio de escrever uma história em 77 palavras" .
Os desafios são propostos de 10 em 10 dias, é já uma rotina que entranhei e estranho quando me ausento uma semana sem um desafio para realizar. Escrever dá-me um prazer imenso, e é com muita alegria que integro o grupo dos que reagem aos desafios da Margarida. Passem por lá e espreitem. No dia 30, deixei lá o meu, que também tenho muito gosto em partilhar aqui com os meus fiéis seguidores:

−A sério? Não! Não pode ser! Não disse a ninguém que não ia…
−E mesmo não indo, ficaria sempre um não por dizer, não era?
−Não há motivos para não dizer tudo o que penso ou não
−E tu não pensas da mesma forma?
−Não, sabes que não
−O sonho termina quando se deixa que o medo seja maior e chegas ao futuro apenas quando o construíres
−E viver dentro do sonho é desperdiçar a vida, não?!

Desafio nº59 - utilizar a palavra não 14 vezes num texto de 77 palavras


Para este post escolhi esta foto de ramos de alfazema, porque é uma planta associada à pureza e à simplicidade, e tem poderes calmantes e relaxantes, além de ter uma flor muito suave e bonita. Tudo aquilo que o blogue das 77 palavras tem e proporciona.
@Maça de junho