quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Bom ano

Votos de Feliz Ano Novo.
Com afeto, com despreendimento e buscando no desapego a energia que preciso para novo fôlego e novos desafios. Sim, vou continuar a procurar e a deixar-me encontrar por novos projetos, novas aventuras e renovadas esperanças.
Também não farei balanço sobre o que passou. É passado e se não deixou marca, é porque não trazia empatia, nem sinceridade, nem conforto.
Quando nos esquecemos das metas usufruímos melhor os percursos.
Guardo apenas o que me tr...ouxe carinho, reconhecimento, atitudes positivas, sorrisos e vontade de acreditar ou de partilhar algo de bom e verdadeiro.
Cada vez mais, procuro a serenidade dos dias, a complacencia dos afetos, a ternura das coisas simples, do abraço apertado e dos sorrisos infantis.
A construção do Ano Novo começa dentro de cada um e nos sonhos que trazemos dentro de nós.
Vou continuar a sonhar!
Happy 2016
Beijos e abraços amigos


@Maçadejunho

 
 
 
 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Mitos e Impostos

A conversa foi breve e versava sobre impostos, a sobretaxa extraordinária e o fim dela - taxa e as novas declarações de IRS e o fim delas. Sobre as decisões políticas de revogar leis e de não revogar outras. Foi curta, mas como sempre profícua.  Saldanha Sanches num artigo do Expresso, depois de António Costa ser eleito para a Câmara de Lisboa, escrevia: "(...) havia a esperança de que ele conseguisse mudar a Câmara. Agora o que voga por aí é o receio de que a Câmara consiga mudar António Costa."  E de repente lembrei-me de Penélope, filha de Icárius e esposa de Ulisses, aquela a quem o marido desaparecera por mais de vinte anos, na guerra de Tróia. Enquanto esperava, tentava arranjar artifícios capazes de convencer o pai a não a obrigar a casar com os pretendentes que iam surgindo. Uma das estratégias foi tecer  um sudário para o sogro e durante o dia, aos olhos de todos, tecia, e de noite, às escondidas desfazia o que fora feito, para ir adiando as condições que o pai propunha. O marido por lá andava na guerra de Troia, cuja origem foi a bela Helena e o rapto de que foi alvo por parte de Páris, o príncipe troiano. Além destes, a bela Helena terá ainda  casado com Teseu e Aquiles. O quinto marido terá sido Deífobo, com quem casou depois da morte de Páris. Homero foi sempre uma leitura difícil e proibida durante largos períodos da história, embora de grande relevo no Renascimento, quer pelo facto de haver dúvidas se os acontecimentos são históricos ou apenas mitológicos, ainda que revestidos de grande e engalanado sentido poético.   Esperemos pois que a "reforma" legislativa em curso não siga as pisadas de Penélope e desfaça tudo o que foi feito.   o melhor é nem tentar decifrar o mito. ag
 
 
@Maçadejunho
 
 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

FELIZ NATAL

Hoje sobre nós resplandece uma luz:
nasceu o Senhor.
O seu nome será Admirável, Deus forte, ...
Pai da eternidade, Príncipe da paz.
E o seu reino não terá fim."

Is 9, 2.6; Lc 1, 33

Presépio na Paróquia da Nossa Senhora da Boavista - Porto
 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

RETÁBULO


Estranho Menino Deus é o dum poeta!
O que nasce e renasce há muitos anos
Na minha noite de Natal, fingida,...
Mal corresponde à imagem conhecida
Das sucursais do berço de Belém.
É uma criança tímida que vem
Visitar os meus sonhos, e, ao de leve,
Com mãos discretas, tece
Um poema de neve
Onde depois se deita e adormece.


in, Miguel Torga
Diário VII

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

NATAL
Um anjo imaginado,
Um anjo dialéctico, actual,
Ergueu a mão e disse: - É noite de Natal,...
Paz à imaginação!
E todo o ritual
Que antecede o milagre habitual
Perdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiança
No mistério divino,
E de mirra, e de incenso e oiro
Derramados
No presépio vazio,
Duas perguntas brancas, regeladas
Como a neve que cai,
E breves como o vento
Que entra por uma fresta, quezilento,
Redemoinha e sai:
À volta da lareira
Quantas almas se aquecem
Fraternamente?
Quantas desejam que o Menino venha
Ouvir humanamente
O lancinante crepitar da lenha?

Miguel Torga
Diário IX

 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

NATAL


 Nasce mais uma vez,
Menino Deus!
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado....
Nasce nu e sagrado
No meu poema,
Se não tens um presépio
Mais agasalhado.
Nasce e fica comigo
Secretamente,
Até que eu, infiel, te denuncie
Aos Herodes do mundo.
Até que eu, incapaz
De me calar,
Devasse os versos e destrua a paz
Que agora sinto, só de te sonhar.

Miguel Torga
Diário X

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Possua um coração que nunca endurece, um temperamento que nunca pressiona, e um toque que nunca magoa.
Charles Dickens.


 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Boa noite Pai

Boa noite, Pai.
Termina o dia e a Ti entrego meu cansaço.
Obrigado por tudo e... perdão. ...
Obrigado pela esperança que hoje animou os meus passos,
pela alegria que vi no rosto das crianças;
Obrigado pelo exemplo que recebi daquele meu irmão;
Obrigado também por isso que me fez sofrer...
Obrigado porque naquele momento de desânimo me lembrei que tu és meu Pai;
Obrigado pela luz, pela noite, pela brisa, pela comida, pelo meu desejo de superação...
Obrigado, Pai, porque me deste uma Mãe!
Perdão, também, Senhor!
Perdão pelo meu rosto carrancudo;
Perdão porque não me lembrei que não sou filho único, mas irmão de muitos;
Perdão, Pai, pela falta de colaboração e serviço
e porque não evitei aquela lágrima, aquele desgosto;
Perdão por ter guardado para mim a tua mensagem de amor;
Perdão por não ter sabido hoje entregar-me e dizer: "sim", como Maria.
Perdão por aqueles que deviam pedir-te perdão e não se decidem.
Perdoa-me, Pai,
e abençoa os meus propósitos para o dia de amanhã;
que ao despertar, me invada novo entusiasmo;
que o dia de amanhã seja um ininterrupto "sim" vivido conscientemente.
Boa noite, Pai. Até amanhã.

Da página de IMISSIO

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O Nascimento


 Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Rompendo a sombra etérea do crepúsculo!
A paisagem tornou-se mais estranha,
Mais cheia de silêncio e de mistério!...
Dormem ainda as árvores e os homens,
E dorme, em alto ramo, a cotovia…
E, se ergue já seu canto, é porque sonha
julga ver, sonhando, a luz do dia!
E, pelos negros píncaros, a estrela
É divino sorriso alumiante.
Oh, que esplendor! Que formosura aquela!
É lírio de oiro aberto! É rosa a arder!
Aí vem a estrela! Aí vem, sobre a montanha,
Tão virginal, tão nova, que parece
Sair das mãos de Deus, a vez primeira!
E como, sobre os montes, resplandece!


  in, Teixeira de Pascoaes (1877-1952)









http://www.youtube.com/watch?v=mN7LW0Y00kE

 

domingo, 13 de dezembro de 2015

Nem pensar!
Hoje não contes comigo.
Sabes que o descanso é necessário.
Quando a generosidade excede o limite do razoável,
A virtude transforma-se em piedade, que nem sempre é piedosa.
O equilíbrio, entre o sim e o não geram bondade e retidão.
 Mas participas, não?!
 Sim, talvez ponha em prática,
 E comprove filosoficamente, o ciclo da vida.
 Crescer é delinear fronteiras e olhar à sua volta.
 Manifestar de forma bem clara e distinta o equilíbrio da sabedoria!

Desafio RS 32 - A arte de dizer não


https://youtu.be/9KxzuY0fJ-s

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015


Ao chegar a casa sinto o calor que vem da cozinha. Visto a bata e na pressa deixo cair o cinto.
Da rua chega o som da cantata natalícia, que tanto encanta a pacata vila.
As horas correm e pressinto que não terei tempo para o puré de batata, jantar de uma família faminta.
Encanta-me a serenata que vou ouvindo. Finto o tempo enquanto preparo a gulosa travessa de batatada.
Como por instinto, chegam todos em simultâneo.
 
Desafio 101 - derivando das palavras batata e pressinto
publicado em historiasem77palavras.blogspot.PT
 
 
@maçadejunho
 
 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Humildade

A humildade é uma das virtudes que a economia e as grandes empresas não amam, embora tenham uma necessidade vital dela. A nossa cultura, cada vez mais modelada por valores mercantis, não consegue ver a beleza e o valor da humildade, que assim é humilhada.
As virtudes praticadas e alimentadas pelas grandes empresas e organizações alimentam-se, de facto, pela anti-humildade. Para fazer carreira e ser valorizados é preciso ostentar os próprios méritos, mostrar mentalidade e atitudes “vencedoras”, ser mais ambiciosos que os outros colegas concorrentes. É preciso procurar e desejar o que se encontra no alto e fugir do baixo, onde está a terra, o "humus", a "humilitas".
O nosso tempo não é um tempo humilde. As gerações passadas e as que estão a desaparecer conheciam e reconheciam muito bem a humildade. Aprenderam a descobri-la escondida na terra, experimentando os limites que só o faz verdadeiramente quem conhece a terra com as mãos. Era tocando os tijolos, a madeira, as ferramentas duras do trabalho, as roupas pobres, o alimento escasso, as máquinas nas fábricas e nas oficinas, que se descobria a terra, e, dialogando com ela, se aprendiam as artes e a arte de viver. A cultura das gerações que conheceram as grandes guerras e os holocaustos, conseguindo salvar a fé em Deus e no homem, era uma cultura humilde, porque aqueles homens e aquelas mulheres amavam, apreciavam, premiavam a humildade.
A humildade era a virtude da vida adulta. As crianças e os jovens não são humilhados com o objetivo de os tornar humildes. A humilhação provocada pelos outros não produz humildade mas inúmeras doenças de carácter. A única humilhação boa é a que nos chega da vida, sem que ninguém as procure intencionalmente. Preparam-se as crianças e os jovens para a humildade pondo-os em contacto com a beleza, com a arte, com a natureza, com a espiritualidade, com a poesia, com as fábulas, com a grande literatura.
É encontrando o infinito que nos descobrimos finitos, mas habitados por um sopro de eternidade, e quando a experiência de tocar o infinito é acompanhada pelas expressões mais altas do humano, a finitude não esmaga, mas eleva; o limite não mortifica, mas faz viver. Quando elevamos os olhos e sentimos o céu “infinito e imortal”, forma-se em nós o terreno onde a humildade pode desabrochar.
A humildade, portanto, forma-se na relação com os pares: na comparação com os companheiros, com os irmãos e as irmãs. A redução do número e da biodiversidade dos companheiros das nossas crianças, substituídos por encontros “funcionais” (piscina, música…) e, sobretudo, por muitas relações “omnipotentes” com as máquinas ("tv", "smartphone", tablet…) modifica e reduz, inevitavelmente, as ocasiões para as boas experiências dos limites e, por isso, ameaça o desenvolvimento da humildade.
Um encontro essencial para o nascimento da humildade é com a morte e a doença, a partir dos primeiros anos de vida. Esconder às crianças a visão dos avós e dos familiares mortos, não levar os meninos aos funerais e a visitar os familiares e amigos doentes, afasta e complica o encontro com a lei da terra e não favorece a maturação da humildade. Uma educação sem limites não pode educar à humildade.
Muitos idosos e velhos são testemunhas e mestres da humildade, porque a vida teve o tempo necessário para os tornar humildes. Nas civilizações anteriores à nossa, a sua presença era essencial também pelo magistério de humildade que exerciam. A distância da primeira terra que os tinha gerado e a proximidade da segunda que os esperava oferecia uma perspetiva diferente e co existencial acerca da vida, que podia ser oferecida a todos. Também por esta razão, o mundo dos grandes negócios, construído sobre registos psicológicos adolescentes e juvenis (daí o grande uso de metáforas desportivas, quase todas impróprias) não conhece nem compreende a humildade.
Na humildade vê-se na sua expressão máxima, uma lei universal que encontramos no coração de muitas virtudes e de outras grandes coisas da vida: tornamo-nos humildes sem nos darmos conta. A humildade chega enquanto procuramos outra coisa: a justiça, a verdade, a honestidade, a lealdade, o amor. Não pode ser programada, não pode ser desejada, estimada, esperada como oferta da vida. E esperando-a, mais tarde ou mais cedo, chega, surpreendendo-nos. E, frequentemente, chega nos momentos de maior debilidade, após um falhanço, um abandono, um luto, quando de dentro de humilhação floresce a humildade. O amor à humildade está na base de qualquer vida boa, porque permite não se apropriar das próprias virtudes e dos dons recebidos.
A humildade é uma virtude indescritível e é radicalmente relacional: são apenas os outros que podem e devem reconhecer a nossa humildade, e nós a deles, num jogo de reciprocidade que constitui a gramática da boa vida civil. É invisível, mas realíssima, e sabemos reconhecê-la – mesmo que não sejamos bastante humildes, mesmo que não o consigamos totalmente, mas desejamos sê-lo: desejo de humildade já é humildade.
Os seus frutos são inconfundíveis. O primeiro é a gratidão sincera em relação à vida, aos outros, aos próprios pais, que nasce da consciência que os meus talentos, os meus méritos, a minha beleza, são dom, "charis", graça. A humildade é reconhecer a verdade acerca do mundo e da vida. Nasce naturalmente, é uma ação da alma, não requer esforços da vontade; é o reconhecimento de quanto emerge um dia como evidente. Compreende-se que, nas coisas mais bonitas e grandes, a nossa parte é muito pequena, ínfima, porque o que somos e possuímos, recebemo-lo simplesmente da generosidade da vida. Tudo é graça. Mas, para chegar a este ato natural e radical de gratidão, é necessário um exercício ético de amor à verdade, que dura toda a existência adulta, e termina – com aquele último ato de gratidão – quando nos despedimos, sempre gratos e, finalmente, humildes, deste mundo. A humildade, então, não é senão o acesso a uma verdade mais profunda. Por isso é um dom imenso.
O humilde é sempre grato. Os seus “obrigado”, raros porque preciosos, nascem da consciência da beleza e da bondade de quem vive à sua volta – é uma beleza mais profunda e mais verdadeira das pessoas e do mundo, que somente se revela aos humildes. E só o humilde sabe rezar.
Um segundo sinal da sua presença é a capacidade de dizer “desculpa” e “perdoa-me”. Existem conflitos que não saram porque cada um está pessoalmente convencido de estar totalmente do lado da razão e, assim, espera que o outro lhe peça desculpa. Mas, porque a certeza da razão é recíproca, ficam-se bloqueados em armadilhas relacionais que acabam por engolir famílias, amizades, comunidades, empresas e, por vezes, povos inteiros.
Para sair destas armadilhas é preciso, pelo menos, uma pessoa humilde, capaz de pedir desculpa, mesmo quando pensa não ser responsável pelo conflito – e, por vezes, é verdade. Dá o primeiro passo para a reconciliação porque lhe interessa reconstruir a relação doente, mesmo antes de ver apuradas as responsabilidades e as culpas dos vários sujeitos envolvidos. Porque sabe que só depois de ter recomposto a relação será possível e fundamental reconstruir também a teia das responsabilidades pelos factos ocorridos.
Pronunciar estas “desculpa” e “perdoa-me” é particularmente difícil e, por isso, muito precioso nas relações hierárquicas. É difícil dizer, com humildade, “desculpa” a um superior; é muito mais simples não dizer nada, ou dizê-lo por medo ou oportunismo. Mas é ainda mais difícil para um diretor pedir desculpa a um seu subordinado. Nenhum regulamento empresarial e nenhum código ético o exigem. Mas poucas palavras como um “perdoa-me”, dito por um gerente a um trabalhador do seu grupo, dá qualidade ética e humana a todo o grupo de trabalho. São estas palavras que criam espírito de solidariedade e até mesmo de fraternidade nas equipas de trabalho, que consegue dar tudo nos momentos de dificuldade apenas se, e quando, os seus membros sentem partilhar todos o mesmo destino, de serem iguais, independentemente das diferenças salariais e de responsabilidade.
Um “obrigado” e um “desculpa” sinceros e humildes, ditos por um chefe, geram mais espírito de grupo que centenas de discursos de “team building” (formação de um grupo de trabalho) que, na ausência destas palavras profundas, acabam por se assemelhar muito aos jogos dos nossos filhos pré-adolescentes.
Porém, a humildade, como outras grandes palavras da vida, torna-nos mais fortes e resistentes quando nos torna mais vulneráveis. Agradecer e pedir desculpa na verdade torna os chefes e dirigentes mais frágeis, num mundo onde a invulnerabilidade é o primeiro valor. É como mostrar uma ferida, própria e do outro, para querer curá-la. Mas estas feridas, no registo varonil das relações da empresa, não têm sentido nem espaço. E, assim, não curam, são escondidas, infetam-se e intoxicam todo o corpo.
O mundo empresarial ocidental sofre duma grave indigência de novas classes dirigentes porque nos falta tremendamente uma cultura de humildade, apagada das praxis e ideologias inspiradas na anti-humildade, onde o humilde é apenas um “perdedor”.
A primeira lição dos cursos de liderança deveria ser sobre a humildade. Uma lição que falta por toda a parte, por carência de professores e porque a humildade não pode ser ensinada nas escolas de negócios; mas, sobretudo, falta porque se se começasse a louvar a humildade e as suas irmãs (a mansidão, a misericórdia, a generosidade…) toda a cultura da liderança, com as suas técnicas, seria totalmente invertida. A humildade educa ao seguimento. Um responsável que não tenha sido formado no seguimento – dos outros, de qualquer outro, dos pobres, da parte melhor e mais autêntica de si – nunca será um bom guia, um líder.
O valor de toda uma existência mede-se pela humildade que se conseguiu gerar. A humildade é fundamental para viver e resistir durante as grandes provas. Quando a vida nos faz cair e tocamos a terra (húmus), não nos faz muito mal e conseguimos erguer-nos se aprendemos a conhecer a terra e tornamo-nos seus amigos. Sem humildade, não se consegue nenhuma excelência humana, não se aprende bem nenhuma profissão, não se torna verdadeiramente adulto. É a última palavra de cada Cântico das criaturas.
 
Luigino Bruni
In
"Avvenire"
Trad.: José Alberto BF, P. António Antão
Publicado em 06.12.2015

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Como salvar uma mulher

«Quando Eros se deita comigo e não se satisfazendo com o toque, penetra-me.
Esses são dias de arco-íris e expansão, sorrisos criativos, inteira liberdade, fogo apaixonado.
Dias em que se sente a vida a vibrar a cada instante, a manifestar a magia.»

Esta frase não é minha, mas podia ser. Talvez não o soubesse expressar com tanta candura, nem tanta simplicidade. Há dias em que a vida vibra mais insistentemente, como hoje. Há dias em que a magia é maior. Há dias em que tudo acontece com maior naturalidade. Assim poderia ser sempre.

Como escreveu Miguel Torga: (...) se um homem tocar uma mulher, sente pecado; se uma mulher se sentir tocada, sente-se salva. in Diário XIII

@Maça de junho

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O paradoxo do salazar

Era uma cozinha gourmet. Em cada potinho um condimento, em cada gaveta um utensílio, talheres por tamanho e por função, tesouras a um lado, colheres de pau no outro. Todos se conheciam, mas nunca falavam. Por vezes juntavam-se na pia, mergulhados na água onde quase se sentiam afogados. Um dia, o salazar achou que já era tempo de fazer alguma coisa e aproveitando a folga, escreveu um manifesto exigindo liberdade, direitos e garantias.  Partiam para a greve!

Desafio escritiva nº2, (greve na cozinha) publicado em 77palavras.blogspot.pt
Nota: salazar é um utensílio culinário, espátula.














Enquanto escrevo, enquanto me divirto com as palavras, vou ouvindo: https://youtu.be/mYYDdn1rRKs





domingo, 22 de novembro de 2015

E se a amizade fosse táxi

A amizade é assim como algo que se semeia e se vai colhendo. E quanto mais colhemos, mais floresce. É tão bom sentir a amizade verdadeira. Aquela que nos diz exatamente o que somos, o que fazemos e continua a crescer. Hoje naqueles breves minutos foi assim. Bebi um cálice de amizade contigo. Sorrimos, sentimos a presença do outro. O resto da sala não teve importância.
Talvez não te tenha dito o elogio que precisavas, talvez não tenha dito as palavras certas que gostavas mais de ouvir. Mas tudo o que disse era verdadeiro, como verdadeiro o olhar cristalino que te guardou.
Tu também não me disseste coisas bonitas que eu gostaria de ouvir da tua boca. Não era preciso. Disseste o que sentias. Sim, eu sei que gostarias de me ver mais bonita. Mas podes ficar com a certeza de que fiquei mais bonita depois de te ver e de beber dos teus olhos a beleza que transportas contigo e de sorver a inteligência e sabedoria que colocas nas palavras. Saí mais bonita e mais rica. Como sempre, aliás. Porque a amizade cura a alma, ilumina quem a recebe e alimenta o coração. Saí saciada de ti.  Contigo não sei o que se passou. Vi o teu olhar iluminado, um certo enternecimento na voz, o teu ar trocista. Espero que tenhas regressado mais leve. O táxi espera...
 
@Maça de junho
 
 
 




 
 

sábado, 21 de novembro de 2015

Hoje poderia ser assim ou não...

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.
Cecília Meireles.







https://www.youtube.com/watch?v=wuz2ILq4UeA

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Manuel António Pina



Nasceu no Sabugal no dia 18 de Novembro 1943 e terminou os seus dias no Porto a 19 outubro de 2012

«Amor como em casa
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que ...
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.»

Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde

sábado, 14 de novembro de 2015

O jogo


Fazer um furo. Paciência! Saiu-lhe mal. Hora de ter juízo, que a maçaneta parecia porcelana. Não teria problemas se usasse martelo, em vez de massacrar a parede. O pai é que não iria rir, quando descobrisse o estado do bispo. Mais peso só uma pedra. De feitio torcido, imaginava o conteúdo da caixa. O irmão, palerma, é que estragou tudo, com o livro novo, atrás do qual se escondeu quando o pai perguntou pelo tabuleiro de xadrez.
 
Desafio RS 31 - furo, juízo, maçaneta, problemas, massacrar, bispo, peso, pedra, torcido, conteúdo, palerma, livro, escondeu
Com as palavras impostas e pela ordem que foram indicadas, fazer um texto em 77 palavras.
publicado em históriasem77palavras.blogspot.com
 @Maça de junho
 
 



 

sábado, 7 de novembro de 2015

O meu reino por um governo

Preciso fazer um ponto da situação para memória futura e porque a minha memória anda desmemoriada, acho!
A grande maioria de esquerda acordou quanto ao programa de governo do PS, mais coisa, menos coisa. Mas pretende deixar-nos a dormir. Senão vejamos:
Há um acordo PS e PCP
Há um acordo PS e PEV
Há um acordo PS e BE...
Até aqui parece que estamos todos também de acordo.
Mas não sei se há acordo entre PCP e BE, nem BE e PEV, nem PEV e PCP. Que também daria jeito, digo eu, que nem sei muito bem que dizer...
Tudo isto é muito interessante, é um passo para o homem e outro para a humanidade do PCP, bem sabemos.
Também sabemos, que tudo isto que foi acordado (o rol é grande, e para não me alongar, dada a hora, quem quiser saber mais leia o programa de governo do PS) vai precisar de um orçamento de estado, que pelo que vou entendendo será a equipa do Costa a tratar disto. Mas este dito OE vai ser também ele objeto de acordo entre aquelas siglas que usei acima, ou não? Ajudem-me que agora começo a não perceber muito bem.
Mas se bem entendo, o famigerado OE vai andar também ele a correr Seca e Meca até haver fumo branco, não?
Ok. E vamos supor também que vai ser tudo porreiro e tal, e que as contas tirando a prova dos nove dão todas certinhas. De seguida terá que ir dar um giro ao eixo franco-alemão e passar pela calculadora da dona Merkel. A senhora e aqueles senhores com nomes estranhos que também usam uma sigla, para se poder pronunciar, mesmo nos dias em que comemos uma bola de berlim, certamente não vão perceber as contas. E depois como será? Devolvem o documento com o carimbo de: façam constar os pontos do acordo com o eurogrupo, (nem sei quem são estes. Acho que são uma espécie de autocratas da europa), senão o Banco Central e restantes entidades financiadoras do retangulo à beira mar plantado terão que intervir. Nesta altura o Cavaco já estará reformado para ficar com as culpas de que afinal não tinha visão, e tal, e que não deveria ter dado posse, nem poderes a esta gentinha e que afinal a culpa disto é dele como se estava mesmo a ver...

Um dia algum dos nossos netos que seja dramaturgo escreverá uma peça sobre tudo isto, o nome será "o meu reino por um governo" ag

@Maça de junho

https://www.youtube.com/watch?v=LDKvkGnaEz8



 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Era uma vez...


Era uma vez há muito, muito tempo uma mãe cheia de medos e de angústias perante a educação a dar ao seu filhinho muito pequenino. Como fonte de inspiração e de preparação lia avidamente todas as publicações sobre a infância, a educação e o ser mãe. Um dia encontrou um desafio publicado na Pais e Filhos e a partir desse dia novos desafios se foram abrindo. Primeiro, muito timidamente, depois cheia de coragem em todos se escreveu…
 
é o desafio nº100 publicado em
historiasem77palavras.blogspot.com
 
 
 Porque ser mãe é não ter estação e viver num apeadeiro, é ser sublime sem mostrar o jeito.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Hay gobierno soy contra! Si no hay también soy

Esta coisa de democracia, por vezes não tem mesmo piada nenhuma. Também tudo seria bem mais fácil se não houvesse Constituição. O próximo governo poderia estender esta coisa do "simplex"  (não sei quem o inventou, mas dois dos seus maiores seguidores  aos nossos tristes dias terão sido Sócrates e Núncio - atentem na nobreza dos nomes), até à Constituição da República Portuguesa. A quantidade de acórdãos que se poupavam à Villa Ratton e as chatices de escrever discursos após discursos para convencer o povo das virtudes das leis, seria um grande passo para a humanidade, já nem digo, mas para o Portugal dos pequenitos, sem dúvida!
 
Uma coisa me intriga e parece ser apenas a mim, pois não vi/ouvi nenhuma celebridade política, nem nenhum jornalista altamente influente e influenciado dizê-lo:
 
Porque terá sido que uma coligação que durante quatro anos, implementou um programa duro, rigoroso (para pensionistas e funcionários públicos), aumentou impostos, sem olhar a conceitos de redistribuição e/ou equidade, destruiu tecido empresarial  (fechou portas de unidades menos preparadas e atirou para o desemprego milhares, criando um fluxo não imaginado, de emigrantes dentro das classes mais jovens e com maiores habilitações académicas), e vai a votos e ganha as eleições? 
 
Dentro do partido socialista já alguém terá refletido nisto?
Talvez não, porque isto é assunto que não interessa ao Jerónimo nem à Catarina. e o importante agora é ver como sentar tudo à mesa. Pensando bem é quase como juntar num casamento os ex-concorrentes do big brother.
 
Aquilo que se pretende do novo governo é fazer melhor (mais PIB, mais exportações, mais emprego, mais crescimento sustentável, maiores fluxos financeiros que garantam as responsabilidades sem agravamento da carga fiscal, melhor reenquadramento macroeconómico e das finanças públicas) que o anterior, sem o agravamento nas condições de trabalho e do tecido empresarial, sem extorsão de reformas, nem esquecimento do apoio social. Ora bem, e a coligação das Esquerdas Unidas têm capacidade para tal?
 
Que realidade têm para nos mostrar um partido que já é também ele uma coligação e que em quarenta anos de democracia nunca se aproximou um milímetro que seja das posições assumidas por uma economia de mercado, pela integração de projetos competitivos e autónomos de iniciativa privada, de aceitação dos projetos europeus e mundiais de tratados de paz e de união; será agora o momento da sua viragem "radical"?!
 
Os filósofos criam teorias políticas cujos objectivos se materializam através da ação política, na construção de programas políticos de criação de riqueza e da sua redistribuição e do bem estar social.
 
Esta premissa cabe apenas aos políticos e não me parece que neste momento algum político em Portugal esteja a pensar nela, mas apenas na sua tática de jogo. Além de que estão todos a utilizar a célebre condição da economia "ceteris paribus". E todos nós sabemos que esta condição é falsa: os mercados ainda não nos largaram, o efeito arrastamento das condições externas, é real, o risco sistémico financeiro ainda nºao terminou, pelo que o trabalho deveria ser consequente e consolidado.
 
A única forma de se sair desta parafernália litigante/militante seria o bom senso entre os dois blocos centrais. Mas um bom líder é aquele que tem visão para o futuro e não para o seu umbigo.
 
 
 @maçadejunho
 

 
 

 
 
 

 

 

domingo, 25 de outubro de 2015

No barco Rabelo

Rir a bandeiras despregadas, parecia uma metáfora, não fora toda a história se ter passado num barco. Dentro de um rabelo no rio Douro, com as bandeiras ao vento e muita animação a bordo. Depois de um passeio pelo centro histórico, o grupo entrou no barco para o passeio tradicional e um lanche ligeiro. Da comitiva fazia parte uma criança. Quando pretendem servir a criança, esta responde: -Já lanchei. Vim comer quando cheguei, não estava ninguém. Gargalhada geral!
 
ESCRTV nº1 - Descrever um momento de riso
 
Desafio publicado no blogue historiasem77palavras.blogspot.PT
 
@maçadejunho
 




 
 


 

domingo, 18 de outubro de 2015

Tradições

Em Sotal do Mar, as tradições ainda se vão mantendo de rédea solta. Nas lotas as petingas despejadas das redes onde saltam descuidadas e adormecem, são o acompanhamento do arroz malandrinho enriquecido pelos talos de couve tronchuda. Ao pôr-do-sol as varinas percorrem as ruas empedradas, onde o salto das socas tropeça, parecendo andorinhas tolas a esvoaçar. Tudo isto enquanto o galeão continua na amplitude do mar a percorrer os latos mares da faina. Altos vão os sonhos.

1- descobrir o máximo de anagramas com as letras  ALSTO;
2- escrever um texto em 77 palavras utilizando as palavras obtidas
publicado em historiasem77palavras.blogspot.pt
@Maçadejunho






Outono melancólico

Gosto dos dias de outono. Gosto da serenidade dos dias em que amanhece timidamente o sol num jogo de escondidas com as nuvens que são empurradas pelo vento, num vaguear desconcertante e desajeitado. Gosto das cores e dos odores. Da doçura dos frutos maduros em compotas, em frascos de vidro e taças coloridas. Dos jardins atapetados pela maciez das folhas que vão caindo e rodopiando numa despedida de encanto. Do colorido que dão aos jardins, substituindo o cor de rosa e branco e lilás ou amarelo das flores, pelo vermelho, castanho, ocre ou grená das folhas. Gosto de ver os plátanos multicoloridos, as amareladas tílias, ou o mundo castanho e ocre do castanheiro. Da chuva precoce que assoma à janela e deixa um torpor lânguido em que apetece o chá fumegante e as bolachas de gengibre.  
 
Agora, neste momento em que escrevo, apetecia-me encontrar-te de novo, e de renovados sentimentos, porque postos à prova teimam em permanecer, deixar-me envolver nesse abraço junto à fonte dos encontros, debaixo da figueira da Austrália, equilibrados na extensão das suas raízes, entrelaçadas,  tal amor de Pedro e Inês, que no misticismo perdura.
 
Bem sei que é sonho e quando acordar, o dia estará triste e sombrio. Como os sonhos que muitas vezes se repetem ou da vivência de amigos no calor de um abraço ora tímido ora expansivo.
E o outono continuará a percorrer os jardins, e o tempo.
 
@Maçadejunho




 
 





 


 

sábado, 17 de outubro de 2015

Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio...
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Amar sem motivos

Se nunca te tivesse conhecido, gostaria de te conhecer, nem que fosse apenas amanhã, ou depois, ou num dia futuro que ainda estivesse para vir. E seu eu pudesse antecipar esse dia, também o faria acontecer mais depressa. Há pessoas que em nada acrescentam a nossa vida e outras, mesmo do nada dão-nos algo que é imenso, nos dias mornos que percorremos. E tu desde esse primeiro dia, que muito provavelmente não recordas, esse primeiro dia que na tua memória foi apagado por outros primeiros dias de outras que se tornam especiais na exata medida do esquecimento, tu que dás uma dimensão aos meus dias, mesmo nos dias em que te ausentas. Nos dias em que transformas o meu cansaço em vibrante discussão, ou nos dias em que o adormecer tem um sentido de sonho e de esperança numa manhã renovada. E esse sentido especial faz com que me transforme em alguém capaz de ver o belo além da bruma e esperar que seja uma nota de violino, ou um sopro de vento, ou uma brisa primaveril a trazer-te de regresso a casa. A casa é o lugar onde o coração parou.

@Maça de junho



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Recomeço

Já falhaste alguma vez?
Eu já. Tantas. E vou falhar mais vezes ainda.
 
Já tentaste alguma vez?
Eu já. Muitas. E continuarei a tentar.
 
Não sou perfeita. Sou humana. E falho.
E tenho defeitos. Muitos. Alguns que tento corrigir.
Outros nem tento, pois não sei como.
 
E tu, não és perfeito, sabias?
Tens imperfeições e defeitos, que eu conheço e aceito.
Se gosto deles? De alguns não. De outros gosto, porque os compreendo e até lhes acho piada.
Ou até te dão charme.
 
Charme, dirias tu...
Sim, muito.
Foram os teus defeitos que me cativaram, mais que as tuas virtudes.
 
Essas quase todos conhecem, os outros não.
A tua superior inteligência e capacidade de trabalho
são garante de tudo o resto.
O ser especial onde a humanidade e o narcisismo por vezes se cruzam
 
E eu, eu amo ambos.
 
Podes falhar, errar, e tentar uma e outra vez
Recomeça
Eu estarei sempre ao teu lado
Até nos dias em que navegas nas margens do rio.
 
@Maçadejunho
 
 
 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sentimento

Não calas o meu pensamento
Nem fechas o meu coração
Não há vendaval que tragas
Que me deixe desilusão

Permite que eu me aninhe
Debaixo da tua asa
Que guarde de ti o homem
Que me abordou num acaso

Serei tua para sempre
Enquanto viver e sentir
Este sopro de aconchego
Em cada manhã que sorrir.

@Maçadejunho






segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Notícia política

Mais um dia para atrofiar. Há catastrofismos naturais e há os políticos. Em Portugal vive-se uma espécie de atropelo à dignidade humana e aos direitos estabelecidos. Com o alto patrocínio do chefe de Estado assiste-se à encenação de uma peça de teatro de má qualidade. É como a libertação de atropina pela beladona que intoxica os insetos numa violência atroz. Agora restam mais quatro anos de demagogia.

Desafio nº 99 – 8 a 10 palavras com ATRO
 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Fado

Chama-me atenção daquilo que tenhas razão
Mas não me critiques daquilo que desconheces
Sabes lá onde plano e em que plano te tenho.
A mágoa que me ficou fará de mim outra sorte
Aquela que me couber entre ervas daninhas tristonhas.

Meu fado é triste e perdido entre lágrimas de sal
Maior que o sentimento que no teu corpo apagas
Talvez um dia reconheças a injustiça que cometes
Cada vez que te arremetes contra o meu coração ferido
Chorando de solidão a vida inteira

@Maça de junho






 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Pelo existencialismo do ser humano

Não sei se sou existencialista ou não. Mas uma coisa sei. A minha reflexão recai sempre sobre o ser humano individual, sobre aquele ser, com as características próprias, a sua personalidade, a sua existência individual e única. Depois tento não limitar a minha observação ao que sobressai, aquilo que socialmente apresenta e representa. Procuro sempre o que de bom transporta e o que de bom pode ser revelado e revelador. Bem sei dos defeitos, das fragilidades e das manias, mas também sei que essas características muitas vezes não são propriamente o maior defeito, mas sim o truque para matizar as inseguranças, as feridas e as experiencias que transporta.
Tenho quem me trate por madre Teresa, e embora muitas vezes o faça com entoação pejorativa, com a intenção de menorizar a minha iniciativa, de me quebrar na auto estima, fá-lo pela sua própria insegurança, pelo medo da perda, pela necessidade de auto afirmação do seu próprio ego. Por vezes dói, outras nem tanto, porque conheço bem o que penso e sinto e as dúvidas do outro não são as minhas.
Todo o ser humano tem dentro de si um fundo de bondade. O que não sabe é valorizá-lo e desenvolvê-lo, e por vezes esconde essa réstia de coisas boas porque é mais fácil agir de forma egoísta, egocêntrica e manipuladora. Por vezes nem é o mais fácil, mas é o que resulta melhor, o que dá sucesso, o que facilita escolhas, o que transpõe as barreiras sociais e legais rumo ao êxito. E é então que o humanismo deixa de ter sentido nesse ser humano.
Quando desisto de um ser humano é porque a minha impotência para o perdão, para a compreensão e para ultrapassar já foram postos à prova uma e outra vez e já não tenho, também eu, mais capacidade de resistir.
O homem começa por existir e são primeiramente a família e os afetos que o moldam. Depois, vem a integração social, as escolhas de vida, os projetos que vai construindo. Então tudo isto pode coexistir com os afetos, com os princípios de vida e de coerência, com a humanidade que transporta desde o momento em que começou a respirar no mundo.
Acredito que há um fundo bom em cada ser humano, o que por vezes não é visível nem perceptível porque coberto e encoberto pelas construções desumanizadas e egoístas que transporta.
Tu que me lês, que vens aqui à procura de sinais de ti, não interpretes mal os sinais, não deixes que esta construção dura que transportas, isenta de sentimentos e de respeito pelo outro te transformem num ser humano, onde a humanidade se ausentou.
@Maça de junho
 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Outono

Tu bem sabes que sim, és motivo de inspiração, de admiração e de rebeldia. Tu bem sabes que nada do que faço é contra ti, mas o contrário não posso admitir, seres contra mim. O teu carisma e a tua capacidade de vencer derrotam montanhas. Mas há palavras que não uso. Há palavras cujo significado não conheço. Há palavras que não admito. Para mim as palavras servem para dizer o quanto amo, ou para dizer do deslumbramento que os olhos medem, ou para ficarem boquiabertas de espanto pela beleza. Mas há palavras que são silícios. Serei sempre uma maçã, doce, fresca, desejada.
És fonte de inspiração e de muitas outras coisas também. Até poderei ser acusada de plágio, mas a beleza deste outono, apenas a mim me pertence, mesmo que a tenhas sonhado noutros quadrantes:

Outono de folhas caídas, de sol envergonhado
Vidas descendentes em escadas percorridas
Sonhos desfeitos, por vezes sonhados e perdidos.
 Num ser que nasce velho
E se renova pelo espírito
Que o tempo de ser novo, já se foi.
@Maçadejunho