Um livro brilhante, não precisa ser o romance do século. É brilhante porque oportuno, por agarrar a pulsão dos dias que nascem num país a conhecer a liberdade. Uma cidade onde todas as liberdades são permitidas em prol do crescimento através do investimento público, da corrupção, dos favores, dos oportunistas, dos parasitas da sociedade e daqueles que mantêm o ritmo de vida anterior e acabam por ser vitimas da modernidade que se instala e da qual não sabem ou não conseguem defender-se.
Acordei para o Pepetela pela admiração de outrem. Alguém conhecedor da realidade africana, alguém que conheceu a Luanda sem liberdade, ou com a liberdade de outros tempos apenas. Alguém que sabe o que é o desejo africano, que o conheceu, conhece de perto, que sabe distinguir os costumes dos musseques e a realidade dos povos. Alguém que para além da inteligência e da sabedoria acumuladas pelos anos, traz no olhar o brilho da curiosidade. Alguém que do tanto que me ensina e do quanto me protege, é a voz que eu procuro quando o silêncio é insuportável. Mas quando mostrei interesse na sua leitura de imediato me foi colocado o quadro menos romântico da escrita do Pepetela. Austero, cruel por vezes, árido nas palavras e recorrendo a termos e definições africanas de dificil compreensão.
Acalmei as ânsias, mas não desisti. Fui espiando a sua obra, um pouco ao encontro do escritor, como era, que livros e quando foram editados, etc. Para se gostar da obra de um escritor muitas vezes é melhor nem conhecer nada dele, apenas o escrito. Mas desta vez fiz diferente. Precisava compreender que tipo de leitura seria, uma vez que nunca pisei Africa, não conheço os costumes locais nem as vivências.
Eis quando assisto a uma entrevista na televisão com o Pepetela e sobre o lançamento deste novo romance. Adorei a conversa. Fiquei maravilhada pelas palavras do homem e escritor. Tanto que corri para a livraria a comprar o livro. Que fui lendo devagar. Para o interiorizar, para melhor compreender, para saborear.
Concluí-o hoje. Estou em transe. Gostei muito da forma como está escrito. Pepetela passa a ser um dos contemporâneos da língua portuguesa que também admiro.
@Maça de junho
Para acompanhar o livro uma música que vai bem
http://youtu.be/eRyGbte4XH0