sábado, 10 de janeiro de 2015

Miguel Torga e a criação da beleza

S. Martinho de Anta, 12 de Julho de 1969 - Sempre que venho por aí acima, começo a avistar o Marão e o Doiro, e me ponho a pensar na morte, o que mais me entristece é não poder deixar em testamento os olhos à filha.

Diário XI, 1973
Miguel Torga - A Criação do Mundo
https://www.facebook.com/pages/Miguel-Torga-A-Cria%C3%A7%C3%A3o-do-Mundo/231708357028803
Sem Torga e os seus olhos o Douro não teria a beleza que lhe é encontrada agora., enaltecida, como só ele o soube fazer. Não o foi na música, mas também o é na paleta do pintor e no registo fotográfico que deixa o testemunho indelével ao passar do tempo. Mas o que registo da paisagem esse mantêm-se ao longo das estações do ano. Dourado no outono. Frio, seco e escuro no inverno, apenas embranquece com o cair da neve e fica envolto numa capa branca de frio e solidão. Mas mal surge ao longe um sopro de primavera reaviva no rosto as cores saudáveis do verde e dos amarelos vivos, em contraste com o azul do céu e retoma i vigor da seiva, para no verão, imponente de cachos e de saúde deslumbrar para lá da visão que o olho humano alcança. É este o Douro que eu conheço, é este o Douro que eu amo.
@Maça de junho

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