Há as mulheres de Atenas e há as outras. As outras chamam-se Angela Merkel, Christine Lagarde, Marine Le Pen, Emma Bonino. Em Atenas há um governo novo, de esquerda, dizem. Mas não tem mulheres no seu elenco, dizem. Tem mulheres tem. Tem as mulheres dos ministros que não forem homossexuais, e tem as amantes dos ministros que " buscam os carinhos de outras falenas", como diz na canção de Chico Buarque, e como a história Grega se encarrega de nos mostrar. Basta ir ler Homero. Helena, filha de Zeus, considerada a mulher mais bela do mundo, esposa de Menelau o rei de Esparta, foi seduzida e raptada
por Páris, filho do rei de Tróia. Rapto que deu origem à guerra de Tróia, que os gregos promoveram para resgatar a bela Helena. E depois há as Penélopes da Grécia, que esperam pelos maridos vinte anos, que tecem uma mortalha, sem a querer terminar, pois terminando a tarefa, termina o sonho. Penélope, passava o dia tecendo e, à noite às escondidas, desmanchava o trabalho realizado. E enquanto o marido se mantinha ausente, embora tanto tempo sem notícia, ela vestia-se de longo e tecia longos bordados, ajoelhava-se, pedia e implorava à deusa Atena o retorno de seu bem amado. Assim serão as mulheres de Atenas, que vivem, sofrem, despem-se, geram, temem, secam (frase da canção de Chico Buarque - ver o link no fim da nota) numa função cíclica de funções menores, e de vidas esquecidas pelos holofotes e pelos corredores da política.
Grande expectativa criou o Syriza, grande esperança a Europa das periferias, viveu na noite de domingo com uma vitória da esquerda, na casa da Democracia. Um dia e meio após, esta esquerda radical e feroz, decidida e pró activa, fez uma coligação com o partido da extrema direita, para gáudio da família Le Pen, e tal como Teseu, promete matar o Minotauro. Na pressa , tal como aconteceu com Teseu, ficará enredado no labirinto porque se esqueceu do fio de Ariadne.
A história mais uma vez se encarregará de registar se há um novo poema épico ou se apenas se trata de uma reedição dos poemas de Homero. Pois uma coisa é certa o povo Grego ainda não se livrou de todo o sofrimento, que perdura há cinco anos. Mas Ulisses no mar padeceu mil tormentos, durante dez. Deixando a Antiguidade clássica, num momento em que todos somos Gregos, a necessidade de inventar soluções credíveis, sérias, e executáveis no âmbito da instabilidade criativa, será o único caminho onde os riscos serão elevados, mas inevitável. Será disso capaz este Syriza radical? Terá a lealdade política dos "amigos" de coligação? E a Srª Merkel e os restantes monetaristas da europa rica e empobrecida de valores?!
Espero que o entusiasmo reinante não se extingue logo após a primeira rentrée na europa dura e tecnocrata, que vai ocorrer já na reunião desta semana no Eurogrupo. A ver vamos...
@ Alda Gonçalves
http://youtu.be/MabbVn0Rlv4
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