No verão nada disto acontece, tudo isto incomoda. Agora que já vivemos o outono e anoitece logo que a tarde cai, o cheiro do vinho novo, os sabores da cozinha, as compotas, a canela, as maçãs assadas, as castanhas ou simplesmente o aroma de um assado a sair do forno fazem as delícias do meu coração e do meu estomago.
Gosto da luminosidade do outono, o sol que cega de tão brilhante e dos dias enevoados a pedir mimos e ternuras, tal como eu sou, um furacão prestes a explodir mas que derrete como manteiga em lume brando ao menor esforço, fazendo-me sentir mimada, e por vezes pequenina e mesquinha.
E hoje, tal como na música do Sérgio Godinho passa-se na rua e vem-nos à memória uma frase batida, e quando se apagam memórias para viver o resto da tua vida e se sente o amargo da escolha e se faz um desafio e bebemos a coragem de um copo vazio, esperamos que nasça um novo dia e uma nova esperança.
E hoje, tal como na música do Sérgio Godinho passa-se na rua e vem-nos à memória uma frase batida, e quando se apagam memórias para viver o resto da tua vida e se sente o amargo da escolha e se faz um desafio e bebemos a coragem de um copo vazio, esperamos que nasça um novo dia e uma nova esperança.
Outono vem em vulvas claridades…
ResponderEliminarVamos os dois esp’ra-lo de mãos dadas:
Tu, desfolhando as rosas das estradas,
E eu, escutando o choro das saudades…
Outono vem em doces suavidades….
E a acender fogueiras apagadas
Andam almas no céu, ajoelhadas…
E a terra reza a prece das Trindades.
Choram no bosque os musgos e os fetos,
Vogam nos lagos pálidos e quietos,
Como gôndolas d’oiro, as borboletas.
Meu amor! Meu amor! Outono vem…
Beija os meus olhos roxos, beija-os bem!
Desfolha essas primeiras violetas!...
(Florbela Espanca)