domingo, 28 de outubro de 2012

Sabores de outono



Gosto dos sabores do outono e das cores e do frio. Gosto dos frutos secos, das nozes, amêndoas e avelãs, das castanhas, romãs, dos marmelos e dos dióspiros. Gosto das cores que tecem os jardins que vai do verde ao castanho escuro, com tonalidades avermelhadas e cor de açafrão. Gosto de passar nos tapetes de folhas e sentir os pés a esconderem-se na terra amolecida pelas primeiras chuvas e a ficarem tapados pelas folhas caídas. Gosto do frio aconchegante que pede um agasalho, ou uma manta quando preguiçamos no sofá. Gosto do prazer de tomar um chá bem quentinho e bem aromatizado ou uma chávena de café fumegante ou um chocolate quente, bem calórico.
No verão nada disto acontece, tudo isto incomoda. Agora que já vivemos o outono e anoitece logo que a tarde cai, o cheiro do vinho novo, os sabores da cozinha, as compotas, a canela, as maçãs assadas, as castanhas ou simplesmente o aroma de um assado a sair do forno fazem as delícias do meu coração e do meu estomago.
Gosto da luminosidade do outono, o sol que cega de tão brilhante e dos dias enevoados a pedir mimos e ternuras, tal como eu sou, um furacão prestes a explodir mas que derrete como manteiga em lume brando ao menor esforço, fazendo-me sentir mimada, e por vezes pequenina e mesquinha.
E hoje, tal como na música do Sérgio Godinho passa-se na rua e vem-nos à memória uma frase batida, e quando se apagam memórias para viver o resto da tua vida e se sente o amargo da escolha e se faz um desafio e bebemos a coragem de um copo vazio, esperamos que nasça um novo dia e uma nova esperança.





1 comentário:

  1. Outono vem em vulvas claridades…
    Vamos os dois esp’ra-lo de mãos dadas:
    Tu, desfolhando as rosas das estradas,
    E eu, escutando o choro das saudades…


    Outono vem em doces suavidades….
    E a acender fogueiras apagadas
    Andam almas no céu, ajoelhadas…
    E a terra reza a prece das Trindades.


    Choram no bosque os musgos e os fetos,
    Vogam nos lagos pálidos e quietos,
    Como gôndolas d’oiro, as borboletas.


    Meu amor! Meu amor! Outono vem…
    Beija os meus olhos roxos, beija-os bem!
    Desfolha essas primeiras violetas!...

    (Florbela Espanca)

    ResponderEliminar