quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Histórias em 77 palavras

Gosto muito de escrever. Gosto de escrever cartas, de enviar postais de natal, de escrever pensamentos que me ocorrem ou sobre questões da vida ou sobre o nosso país ou a economia do mundo. Já fui mais participativa destas coisas da escrita. Tive algum tempo em que perdi a tinta e a minha produção foi significativamente menor. Desde 2009 que me voltei novamente para esta paixão de adolescente. Muitas vezes nela encontro o que não me é dado lá fora. Ou eu não encontro, ou nem procuro. Escrever é a minha terapia.  Tive um professor de português com quem aprendi quase tudo o que sei sobre escrita criativa, sobre filologia e sobre gramática. Entretanto fui convencida, mas pouco, de que levo alguma sensibilidade para escrevinhar algumas coisas, umas que vou mostrando, outras que vão ficando perdidas nos cadernos que guardo, ou não.
Ultimamente tenho participado em alguns desafios colocados pela autora do Blog histórias em 77 palavras e divirto-me imenso a fazê-lo. Hoje lembrei-me de partilhar também, com quem me vem aqui visitar, essas brincadeiras:
O desafio proposto tem sempre por base elaborar um texto com apenas 77 palavras, subjacente a um mote específico, é muito giro, salutar e desafiante.



Palavras chave:
envolvida -dalila- lacre-crepita-talentos-tosse-segue

Hoje ao serão, envolvida numa aconchegante manta de lã, Dalila espera notícias.Naquelas cartas amarelecidas que guardam ainda o lacre, jogadas numa das gavetas da velha escrivaninha, junto à lareira onde crepita o fogo, escondem mágoas de vidas antigas e talentos escondidos.Tosse e acorda o gato que enrolado aos seus pés lhe faz companhia nestes dias outonais de solidão. Uma nuvem de fumo segue a luz bruxuleante e timida que emana do candeeiro pendurado no teto. 



palavras chave: Choque-queríamos-mostarda-Daniela-latina-narigudo-domingo


Foi um choque saber que tinha reprovado...
-Todos queríamos que ela tivesse sucesso, mas aquela miuda espirrava como se lhe tivessem chegado a mostarda ao nariz!
-Quem?
-A Daniela, aquela das aulas da dança latina!
- Desde que arranjou aquele amigo narigudo, nunca mais a vi
- Veio cá o domingo
-Era muito gira em pequena e muito inteligente!
-Continua na mesma, agora é professora de salsa e de tangos na academia de música
-Passamos por lá, que dizes?





Palavra chave: Duas Melgas

Duas melgas na janela qual comadres em tarde de estio. Uma gorda, bonacheirona, divertida, apanha qualquer um na sua doce armadilha, a outra escanzelada, antipática e cheia de esperteza, mas pouco convidativa. Aguardam a hora de avançar na procura de incautos com pele macia, quente e doce. São sete horas de uma tarde quente e abafada. Quando de repente um trovão ribomba nos céus plúmbeos e uma torrente de água e vento as inunda e deixa moribundas.





Mote: alfabeto de a-z e z-a
Chá de Zimbro...

Antónia bebia cda espécie apreciada. Feito de ervas aromáticas gostoso e uma folha de hortelã adorna a infusão. Juntar amigos leva minutos e nada obsta ao papel da anfitriã quando risos soltos tumultam esta união na casa da velha Xica. Fosse chá de zimbro, zimbro?!, nem um xi-coração valia. Uma tosta simples, riscos e migalhas que põem outra nódoa na mesa levam junto ideias harmoniosas, gostos finos e dedos cobertos de bolachinhas gulosas que muito amamos.




Palavra chave: serenidade
Há pessoas assim. Toda ela refletia serenidade. Gestos suaves, voz pausada, olhar calmo, como calma a vida que levava. Os livros que lia com sofreguidão, a música dos grandes compositores escutada do velho gira discos. Os passeios por entre as tílias e os plátanos, do belíssimo jardim deixavam-na em extase. Dormia melhor depois do passeio, dizia! Nunca uma palavra de azedume se lhe ouviu, nunca um lamento pronunciou. E sofria!Quando amanheceu elevou-se em paz e serenidade.



Foto:Mafaldinha







3 comentários:

  1. Felizmente os atuais processadores de texto contam as palavras! O exercício é meritório, mas trancar em 77 palavras a inspiração do momento bem pode assemelhar-se a uma espécie de suplício! Louvo-te a destreza!

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  2. Sem suplicio algum! É um desafio no qual eu tenho grande prazer, pois me obriga a ter a imaginação ativa e me permite aprender e estar atenta quer ao poder de síntese quer à semântica necessária para se escrever alguma coisita.

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  3. E eu só posso agradecer a partilha... Vou acrescentar o link deste blogue às suas histórias, pode ser?
    Um grande beijinho

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