quinta-feira, 17 de janeiro de 2013




Miguel Torga

12 Agosto de 1907 - 17 de Janeiro de 1995


"Nasci,
Como um cabrito 
Ou como um pé de milho

É debaixo do chão que me procuro

Desta terra sou feito
Fragas são os meus ossos, 
Húmus a minha carne

S. Martinho de Anta não é um lugar onde, mas um lugar de onde 
A terra onde nasci e de onde verdadeiramente nunca saí

Este meu apego ao berço já não é tanto um mistério de raízes como um refrigério de cicatrizes.
Tropeço em cada pedra, bebo em cada fonte, vou de anjo em cada procissão
O meu segredo é este: curo as chagas com pensos de terra, na beleza viril duma paisagem onde sempre me apetece parir ou morrer.

O destino plantou-me aqui e arrancou-me daqui. E nunca mais as raízes me seguraram bem em nenhuma terra."

Miguel Torga - Fotobiografia

2 comentários:

  1. É na terra que nos deu ao mundo que deitamos as raizes e dela nunca deixamos de sentir, por onde quer que peregrinemos, a perene ansiedade do regresso. Nem que seja para o último descanso. Ninguém tem morada definitiva e última em terra alheia. É da nossa condição de mortais.

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    1. É da natureza humana, pois os nossos atos, o que pensamos, sentimos, são fruto das raízes onde fomos gerados, embora o contexto cultural histórico e social onde nos inserimos, os amigos, a família, trabalho e a vivência do meio nos possa influenciar de alguma forma, poderá moldar-nos mas não nos seca, tal como o rio que não seca no estio.

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